O vereador Maurício Scalco (PL) ganhou um grande destaque em 2024, quando foi indicado para concorrer ao cargo de prefeito de Caxias do Sul. Ele foi um dos candidatos que levou a bandeira "da verdadeira direita" e que recebeu o apoio direto do ex-presidente Jair Bolsonaro, que chegou a vir a Caxias do Sul e estava presente em todos os eventos de campanha de forma online. Além disso, grandes nomes do movimento também promoveram forte propaganda a Scalco, como os deputados federais Maurício Marcon (Podemos), Luciano Zucco (PL), Giovani Cherini (PL) e Marcel van Hattem (Novo).
Porém, por uma diferença de menos de 7 mil votos, Scalco não conseguiu vencer o atual prefeito Adiló Didomenico (PSDB) no segundo turno, mesmo garantindo mais de 89 mil votos válidos ainda no primeiro turno. Desta forma, o futuro político de Scalco é algo que está em aberto, visto que ele não ocupará nenhum cargo eletivo a partir de 2025. Confira abaixo a entrevista completa com o vereador, onde ele traz as suas percepções sobre as eleições, seus próximos passos e como planeja se manter ativo a serviço da população caxiense.
A entrevista com Scalco
Pioneiro: Qual é a sua avaliação geral sobre o pleito para prefeito de Caxias do Sul?
Maurício Scalco: O que a gente aprendeu com essa eleição? Que a população não está satisfeita com a atual administração, mesmo ela sendo reeleita. Tanto é que, no primeiro turno, sete em cada 10 queriam uma mudança porque votaram nos outros candidatos. E no segundo turno, por uma união de todos os partidos, mesmo assim foi muito próximo o resultado, com a abstenção muito alta. A abstenção alta é porque tem muitas pessoas que estão desacreditadas com a política, eu penso assim.
Então, nós temos que tentar buscar essas pessoas que não confiam mais nos resultados políticos que estão sendo entregues. O grande recado é esse, conseguir conversar com essas pessoas, mostrar que na política se tomam decisões importantes que impactam o povo na ponta, a população lá na ponta não está tendo serviços públicos de qualidade.
Nesta minha caminhada de mais de 90 dias, fora como vereador nestes quatro anos, eu presenciei muitos fatos, e a gente recebe diariamente também no WhatsApp reclamações de serviços públicos que não estão de acordo com o que a população merece. Então, tem que ter uma reavaliação geral do governo e da administração. A população já tem essa avaliação. Não está contente, só que muitos deixaram de votar.
"A campanha do prefeito Adiló, ela soube criar rótulos em mim que muitas vezes não eram rótulos meus. A gente apresentou um plano para ajudar as pessoas, não era para ajudar grupos políticos"
MAURÍCIO SCALCO
ex-candidato a prefeito
Agora que o senhor voltou para a tribuna, houve algumas falas que diziam muito sobre a questão de "Caxias ser maior que as ideologias", sendo que a ideologia foi algo muito presente nestas eleições. Até que ponto você acredita que isso possa ter atrapalhado no segundo turno?
O que eu vejo é assim: as campanhas, a campanha do prefeito Adiló (Didomenico), ela soube criar rótulos em mim que muitas vezes não eram rótulos meus. A minha campanha foi totalmente propositiva, a gente apresentou uma série de propostas para a cidade, era focada no povo, era um plano para ajudar as pessoas, não era para ajudar grupos políticos, não era para ajudar determinados grupos, eu digo assim, determinados partidos, era para melhorar a vida das pessoas na cidade. Foram muitas fake news durante um período de 90 dias, que essas próprias fake news acabaram, não existem mais. Então, as verdades que eles julgavam, mostravam que eram verdades para eles, hoje eles me dizem assim, "ah, desculpa que não era contigo". Então, eu vejo que a minha pessoa não sai de uma campanha com uma rejeição, eu não enxergo uma rejeição por parte do Scalco, tanto é que dentro da Câmara de Vereadores existe um reconhecimento de todos os vereadores pelo trabalho que eu fiz como vereador. Pela minha postura que sempre foi a mesma, não mudou na eleição, antes ou depois da eleição, é a mesma postura minha pela cidade e por Caxias.
Eu sou de direita, sim, não nego, o meu pensamento é liberal, eu quero uma economia mais pujante, mas a gente tem que tratar a parte social com certeza, a gente tem que dar oportunidade para todas as pessoas
MAURÍCIO SCALCO
ex-candidato a prefeito
O seu discurso nestas últimas semanas, sobre ideologias, não estaria indo um pouco contra ao que pessoas próximas ao senhor pensam? Além disso, houve até o posicionamento da própria Gladis Frizzo (candidata do PP a vice na chapa de Scalco), logo depois do resultado do primeiro turno, onde ela falou que a campanha não precisava dos votos da esquerda, por exemplo.
Existem, como em toda campanha majoritária, grupos que orbitam sobre a campanha em si. A postura do Scalco sempre foi a mesma. Eu sou de direita, sim, não nego, o meu pensamento é liberal, eu quero uma economia mais pujante, mas a gente tem que tratar a parte social, com certeza, isso aí é lógico, a gente tem que dar oportunidade para todas as pessoas. Todo mundo tem que ter oportunidade de estudar, poder ter o curso, ter uma formação, porque eu sempre falo que a maior inclusão social que existe é o trabalho.
Programas sociais não se mantêm, não adianta a gente querer criar um programa social de renda sem dar oportunidade para as pessoas saírem. O programa tem que ser temporário, não permanente. Então, a forma como eu sempre pensei é a mesma, não mudou nada. Claro que existem pessoas mais radicais, tanto do lado da esquerda como do lado da direita, só que quando a gente pensa em um Executivo para administrar um município, a gente tem que ter um bom senso, que todos são habitantes de Caxias, são pessoas iguais, que merecem os mesmos direitos e têm que ter o mesmo serviço. Serviço público é para todos, não é para certos grupos. Então, a minha posição sempre foi a mesma.
E este posicionamento da Gladis, principalmente no primeiro turno, você acha que pode ter impactado diretamente o resultado do segundo turno?
A Gladis foi mal interpretada, essa é a grande verdade. Quando saiu essa frase dela, foi no final do primeiro turno, que estava um barulho extremo lá no diretório (do PL), o pessoal estava comemorando com música, e a Gladis não escuta bem do ouvido, ela tem um problema de audição. E talvez ela tenha escutado a pergunta de outra forma... para dar uma resposta que não era aquela. Não era a intenção, mas tanto é que eu fui para os meios de comunicação e disse que não era isso. Porque o nosso projeto era para as pessoas, não era para partido político e nem para grupos.
E agora, se a gente for pensar no movimento de direita aqui em Caxias do Sul, o que você pensa para os próximos passos? O que o movimento em si às vezes pensa, já que o senhor é presidente do PL aqui?
O nosso partido não é extrema-direita, não existe. Nós somos um partido de direita que temos alguns princípios e valores bem consolidados. E a gente pensa dessa forma, a gente precisa dar oportunidade para todos, a gente defende liberdade econômica, propriedade privada, são coisas inegociáveis. Mas o partido está crescendo muito, cresceu nessa eleição, a gente elegeu cinco vereadores, é um marco para Caxias do Sul. A segunda bancada que mais elegeu em Caxias. Então é uma diferença gigante. O número de pessoas que entenderam a mensagem que o Scalco transmitiu, que entenderam o que a gente se propunha, cresceu muito, os votos dizem isso. Tanto é que todos os outros unidos deram praticamente a votação que a nossa coligação, que era muito menor. Eu estava fazendo um levantamento agora, se eu somar todos os vereadores da nossa coligação, eles fizeram juntos 66 mil votos. Eu fiz 89 mil votos no primeiro turno. Isso quer dizer o quê? Que 23 mil a 24 mil pessoas de outros partidos que votaram em candidatos a vereador de outros partidos votaram no Scalco também. Mas por que isso aconteceu? Porque eles entendiam que o meu plano de cidade, o meu plano de governo, que a gente construiu, era para as pessoas, não era para grupos políticos, era para melhorar a vida de todos.
Eu irei para deputado porque eu tenho um plano para melhorar e ajudar Caxias do Sul
MAURÍCIO SCALCO
ex-candidato a prefeito
O senhor vai deixar o mandato agora em dezembro. Como é que o senhor pretende se manter na política nos próximos anos?
Eu sou presidente municipal do PL. Eu estou conversando com o partido. A gente está conversando para ver o que o partido imagina, qual é o trabalho que o partido quer que o Scalco faça nos próximos dois anos até a próxima eleição. E a gente vai construir isso de forma conjunta, para determinar o que será feito. O Scalco sabe onde quer chegar. Isso sim. Eu já sei. Eu irei para deputado. Não sei se será estadual, federal. Não sei. Eu irei para deputado porque eu tenho um plano para melhorar e ajudar Caxias do Sul. E isso aí é inegociável. Ajudar Caxias do Sul é inegociável. E a região toda. Crescendo Caxias, cresce a região.
E como é que o senhor vê a política?
A política é uma ferramenta para a gente poder transformar a vida das pessoas. Todas as decisões importantes que acontecem no setor público vêm através da política. A política é que move tudo isso. Então, quando a gente fala em uma educação infantil de qualidade, sistema público de saúde, é tudo baseado na política, porque as decisões políticas interferem na vida das pessoas. Vai dizer assim: "vou baixar impostos, vou aumentar impostos." São decisões políticas. Então, a política interfere na vida de todos, e as pessoas têm que saber disso. Quando elas deixam de votar ou elas deixam de fazer o seu papel da democracia, de votar, as outras pessoas estão escolhendo por elas. E conforme o político for escolhido, vai ter impacto direto na vida. Então, nós temos que ter esse cuidado.
Então, nestes próximos anos o senhor pretende tentar fazer este diálogo com a população?
Com certeza. Todo o trabalho que o Scalco fez durante quatro anos como vereador vai continuar. Eu vou continuar indo nos bairros, conversando com as pessoas. A gente não vai parar. A gente tem uma missão grande, que é dar informação para as pessoas, ter transparência. Para os que não conhecem muito, a gente tem que ensinar, mostrar a importância que têm. Porque interfere na decisão, interfere na vida de todos. Nós temos que explicar para as pessoas isso, mostrar o porquê que interfere, por que é importante escolher, por que tem que ter um representante que realmente faça a diferença. Não adianta muitos dizerem assim: "o político só volta a cada quatro anos." Mas você cobra ele durante esses quatro anos? Tem que cobrar. O político tem que viver sob pressão. Ele é um funcionário do povo e é pago com o dinheiro do povo. Ele não está lá porque é um negócio bonito. Ele está lá num cargo que ele foi escolhido e está recebendo para isso e tem que ser cobrado e tem que dar resultado.