"Prefeito-tatu". Esse foi o apelido que o prefeito Adiló Didomenico (PSDB) começou a ouvir ainda no terceiro ano de seu mandato. Isso porque, no entendimento de uma parte da população, Adiló abria muitos buracos nas vias e demorava para tapá-los. Em 2024, Adiló foi buscar a reeleição e a denominação ganhou força, principalmente como uma crítica de seus adversários. No entanto, o atual prefeito viu algo que poucos perceberam: a forma de transformar a designação como um dos slogans da suas propagandas eleitorais.
Depois se sugerir ao time da coordenação da campanha, foi iniciado o processo de criação das frases que preencheram o horário eleitoral do rádio e da tevê no primeiro turno: "tatudo sendo feito", "tatudo sendo entregue", "tatudo acontecendo" e "tatudo sendo encaminhado", de autoria do marqueteiro político, Zeca Honorato.
Conforme Zeca, a ideia veio de fazer um trocadilho com o animal ao mesmo tempo que mostrava que os buracos precisavam ser feitos para que as obras fossem entregues, invertendo o sentido da crítica.
— Era, claro, um trocadilho com a palavra tatu, mas, em cima disso, mostrar para as pessoas que os buracos eram, digamos, uma etapa do processo e que o processo completo é a obra entregue. Depois veio a minha ideia de fazer um jingle para ilustrar os comerciais e vinhetas, onde apareceriam as obras. O nosso papel no marketing, como toda campanha que é orgânica, que está sempre ouvindo as ruas, foi fazer desse limão uma limonada — comentou o marqueteiro.
Já no segundo turno, surgiu a figura que faltava: uma figura do tatu que conquistou as redes sociais e o coração das crianças.
De acordo com o estrategista digital da campanha de Adiló — que integra a equipe de marketing do governador Eduardo Leite (PSDB) —, Rafa Bandeira, a ideia de criar o mascote do animal foi para usá-lo a favor de Adiló.
— Ano passado, começaram a chamar ele de "prefeito-tatu", então começamos a observar, e bom, a gente tinha duas opções: ou nega ou vira o vento dessa história, e foi o que a gente fez — contou Rafa.
Adiló quase não foi para o segundo turno, chegou lá por uma diferença de pouco mais de 2 mil votos. Então, na próxima etapa da eleição, concorrendo somente com Maurício Scalco (PL), foi necessário criar novas estratégias. Com isso, Bandeira explicou como a equipe buscou "tocar no emocional das pessoas".
— Existe uma frase que eu gosto muito: "O juízo de valor das pessoas se altera à medida da emoção que elas sentem." Você sai do teu eixo e começa a avaliar as coisas de forma transversal, digamos assim. Por que eu estou falando isso? Porque uma campanha majoritária não é um acontecimento racional. Pode parecer que é, mas não é. Ou seja, por isso que o marketing político é uma coisa tão bacana. Têm pessoas que acham que ele faz mal para o mundo. Eu acho que não. Porque é através do marketing político que tu consegue vencer — destacou o estrategista político.
A figura do mascote para humanizar a eleição
Sobre o desenho do Tatu e as frases prontas, Rafa explicou como foi o processo e como ele serviu para "humanizar" as eleições.
— A primeira opção era um tatu como ele de fato é, deitado, um tatu daqueles de mato, sabe? Só que não ficou tão querido como esse da campanha. Levamos, até antes da eleição, sem usar o tatu. E aí chegamos na campanha, o Zeca Honorato, que foi o marqueteiro da campanha também, criou esses slogans e então, colocamos o tatuzinho para fora, que trouxe para a eleição seres humanos desconectados da eleição, como as crianças, por exemplo. E esse tipo de sentimento, uma coisa querida, uma coisa amorosa, que conversa com o lado ser humano das pessoas, deu para o Adiló uma zona de manobra muito maior do que o (Maurício) Scalco tinha. O Adiló é um clássico gringo, que joga bocha, joga truco, carismático. Ele tem os defeitos dele, a gente sabe, mas ele é um cara do bem. É difícil tu colar uma coisa nele de mau, e aí o tatuzinho entrou como uma forma de deixar a coisa um pouco mais humanizada. Tirar um pouco o peso da história da eleição como um todo — descreve Bandeira.
Além disso, o desenho do tatu ganhou tanto carinho que virou uma pelúcia criada pela artesã Carla Pacheco, e está sendo vendida sob encomenda. Uma delas foi entregue diretamente à Adiló um dia antes das votações do primeiro turno, em 6 de outubro.
E isso se confirma, quando Rafa relembrou o momento que, para ele, confirmou que a campanha deu certo: o dia em que Adiló, em uma das atividades da campanha, colocou o adesivo do tatu em uma criança dentro de um carro.
— Aquele vídeo, para mim, sintetiza tudo. É a semântica do tatu. A emoção da guriazinha recebendo o adesivo do tatu. O sorriso dela, bom, podia acabar a eleição ali. Eu me emociono. Óbvio que a gente faz aquilo pensado, não é por acaso, mas, mesmo assim, ficou muito legal. Então, reforço a frase: "o juízo de valor das pessoas se altera à medida da emoção que elas sentem" — finalizou o estrategista.