Há 38 anos no Partido dos Trabalhadores (PT), o deputado estadual Pepe Vargas e presidente da sigla no RS tornou-se uma liderança histórica da legenda no Estado. Atuando pelo segundo mandato na Assembleia, ele já foi eleito três vezes como deputado federal, além de ter sido vereador e prefeito por duas gestões em Caxias do Sul. Embora não tenha se confirmado como possível candidato para a disputa à prefeitura – seria a sexta vez que concorreria –, Pepe falou ao Pioneiro sobre a articulação do partido para as eleições.
Confira trechos da entrevista:
Pioneiro: Como projeta a disputa eleitoral em Caxias?
Pepe Vagas: Nós estamos priorizando no nosso calendário a renovação das direções municipais. Além disso, a atual direção municipal tem feito um esforço para abrir processo de discussão daquilo que chamaríamos de uma frente ampla de esquerda, um esforço para tentar unificar os partidos que têm se estabelecido como resistência à tentativa de retirada de direitos dos trabalhadores e ataques à soberania nacional que o Governo Bolsonaro vem empreendendo. A ideia desta frente não é só eleitoral, tem como objetivo apoiar e reforçar as lutas das entidades da sociedade civil que se mobilizam contra as medidas deste governo.
O PT municipal reitera esse posicionamento contrário ao governo federal. Mas quando a visão do partido se voltará ao município?
No devido tempo. Para nós, uma aliança se dá no campo da política, política é isso. Pode ter partido de oposição ao Governo Guerra, mas se é apoiador do Governo Bolsonaro, nós não vamos conversar. Obviamente, temos interesse de que, a partir de estabelecida essa unidade, também se estabeleça processo de discussão para possível coligação municipal e de um programa de governo para a cidade que faça juízo de valor sobre o que o governo municipal faz.
Então, o principal critério para formar essa coligação seria não ter vínculo ou apoiadoo Governo Bolsonaro?
Exatamente, nós queremos é distância deste tipo de política. Aliás, nós achamos que esse tipo de posição que o Bolsonaro defende não só não resolverá os problemas, como agravará os principais problemas que o país vem enfrentando. Com certeza, o estrago feito já é grande.
E como o partido se posiciona quanto à condução da gestão de Daniel Guerra?
Achamos um desastre o que ele faz na área da saúde, na cultura, a falta de diálogo e construção de parcerias e a forma que se relaciona com a sociedade civil e entidades que são importantes historicamente para políticas sociais. É um governo que não consegue sequer garantir que se tenha atenção básica nas unidades básicas de saúde (UBSs). Não tem capacidade de prover profissionais de saúde para atender à população. E é um governo muito conflitivo.
O senhor considera concorrer à prefeitura?
Nós não estamos discutindo nomes. Nas conversas com outros partidos, tivemos reunião com vários partidos que fazem oposição ao Governo Bolsonaro, não discutimos nomes. Estamos discutindo unidade na defesa dos direitos da população brasileira e, mais adiante, fazer esforço para discutir questões locais para construir plano conjunto. Vamos procurar estabelecer candidatura em comum acordo com partidos que tenham esse entendimento sobre as questões locais, mas também tenham entendimento de que é preciso outra política econômica no plano nacional, do contrário, as receitas dos municípios não se recuperam,cada vez mais os municípios terão de assumir responsabilidades da União e do Estado. Por isso, a questão não se resume à pauta municipal.
Mas o senhor coloca seu nome à disposição?
É uma discussão que o partido vai fazer. Não é uma questão pessoal. Não tem esse negócio de colocar o nome à disposição. É um debate coletivo. O partido não está discutindo nomes no momento. Achamos, inclusive, que se tivermos capacidade de sentarmos com essa força, todas esses partidos têm bons nomes para apresentar. O próprio PCdoB tem um bom nome, apresentou o Vanius (Corte). O PT também tem bons nomes, não só o meu,tem outros nomes também que ele pode eventualmente apresentar. Havendo disposição dos partidos em sentar, temos que discutir coletivamente. O candidato pode ser do PT, eventualmente não ser do PT, essa não é questão central.
O PT aceitaria abrir mão em ser cabeça de chapa?
Acho que a discussão não está nesta etapa. Eu até compreendo que vocês da imprensa queiram estabelecer essa coisa em torno de nomes. Acontece que a política não é feita por nomes, é feita por programas, conceitos, depois se discutem os nomes. Discutir nomes antes é colocar a carroça na frente dos bois.
Nos últimos anos, instaurou-se um clima de “antipetismo” no debate político. Acha que isso ainda prejudica o partido?
Primeiro, quero relativizar essa questão, ninguém fala do “antiemedebismo”, “antipeessedebismo”, anti não sei o quê. Nós fizemos 45% dos votos na eleição nacional, não 5%, 45%. Além disso, elegemos a maior bancada na Câmara Federal e na Assembleia. Qual partido pode dizer que tem esse desempenho? Não estou querendo diminuir os outros, só não quero diminuir o nosso desempenho. Aliás, esse discurso do anti é uma discussão política para tentar interditar o Partido dos Trabalhadores. Tem gente contra o PT? É lógico, sempre teve. São as pessoas que são contra a distribuição de renda, contra a afirmação de direitos, ou que querem retirar direitos dos trabalhadores e trabalhadoras. Esses sempre foram contra o PT, não seria agora que deixariam de ser.
Na visão do senhor, a esquerda está unida? Precisa se unir mais?Considerando a gravidade do que estamos vivendo, entendemos que esquerda e centro- -esquerda tenham que colocar de lado as diferenças e buscar uma grande unidade para construir uma nova alternativa para o Brasil. A gente observa cobranças de uma suposta falta de mea culpa de todas as acusações que foram feitas contra o PT nos últimos anos. O que está aparecendo na Lava-Jato é aquilo que vivíamos dizendo, um processo seletivo, uma acusação sem provas, o descumprimento na legislação para condenar alguém. Vamos fazer uma mea culpa por uê? De eles terem condenado Lula sem provas? De eles cometerem crimes para tentar interditar um partido político?
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