Daniel Guerra (PRB) completa neste sábado seis meses de uma gestão marcada por uma sucessão de polêmicas. Desde o início do governo, o prefeito de Caxias do Sul optou por enfrentar temas espinhosos, porém algumas de suas decisões têm causado discórdia em setores da sociedade. Para sustentar seus posicionamentos, Guerra aposta no apoio popular sem, por ora, pensar no prejuízo político. Uma das principais polêmicas da administração é a cobrança do ponto biométrico dos médicos da rede pública. A determinação de Guerra foi o estopim para o início da greve dos profissionais que já dura dois meses e deixou de atender 15 mil consultas. Resultado: a medida prejudica em cheio a população caxiense.
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Outros assuntos sacudiram o governo: a saída de dois secretários da Saúde, a divergência entre a manutenção e o aumento do valor da tarifa do transporte coletivo e o processo de indenização à Família Magnabosco que, até a metade da semana, havia bloqueado R$ 65 milhões dos cofres da prefeitura. No campo político, a crise fica por conta do rompimento de Guerra com o vice-prefeito Ricardo Fabris de Abreu (sem partido) após ele anunciar a renúncia do cargo e depois voltar atrás.A oposição define que o Governo Guerra é “uma máquina de criar conflitos” (confira no quadro da página 11) e tem dificuldades em dialogar com políticos e entidades. Neste mês, uma decisão comprometeu uma das bandeiras de campanha – a transparência. Guerra tentou deixar uma viagem sua sem divulgação à imprensa e à população. Com a repercussão negativa, a governo apressou-se em informar que o prefeito tinha viajado à Brasília para tratar sobre o caso da Família Magnabosco, mas não revelou com quem Guerra se reuniu e usou como justificativa ser esta uma "estratégia de governo".
Mesmo antes de tomar posse, Guerra assumiu compromissos em campanha ou registrados em seu plano de governo, chamado de “projeto de cidade”. Para uma análise dos seis meses, o Pioneiro apresenta a realidade de quatro temas polêmicos que povoaram os discursos de Daniel Guerra candidato e foram apresentados como prioridades por ele: o corte de cargos em comissão, os CCs, a abertura da UPA Zona Norte, o incremento de médicos e a abertura de novas vagas para a educação infantil.
A primeira promessa cumprida por Guerra foi a redução do número de cargos em comissão. Até o início de junho, 120 CCs estavam trabalhando da administração municipal. Segundo a Secretaria de Recursos Humanos, a folha de pagamento dos CCs nos primeiros seis meses do governo foi de R$ 2,28 milhões. O primeiro semestre de 2016, último ano do Governo Alceu Barbosa Velho (PDT) pagou um total R$ 5,71 milhões. A redução representou uma economia de R$ 3,43 milhões, ou exatos 60% em relação aos seis primeiros meses do último ano do governo anterior.
Ainda no ano passado, Guerra sugeriu ao então prefeito Alceu o corte de CCs para contribuir para a abertura da UPA. E até prometeu a abertura imediata da UPA para o início do ano. Mas, apesar da vontade, a promessa ganhou o prazo de inauguração para o final setembro. Confira na página ao lado a situação das principais promessas de campanha de Guerra.
O Pioneiro procurou Daniel Guerra e a secretária de Governo, Vania Espeiorin, para uma entrevista de avaliação do governo, mas a administração informou que o prefeito irá se manifestar sobre o assunto somente em entrevista coletiva na próxima semana.
Três estratégias para suprir procura na educação infantil
Com um déficit de aproximadamente 5 mil vagas na Educação Infantil (de zero a cinco anos), a secretária de Educação, Marina Mattielo, diz que a maior demanda da pasta ainda é o atendimento de crianças dessa faixa etária. Ela conta que foram adotadas três estratégias para suprir a procura: a compra de vagas, a ampliação da educação infantil nas escolas de Ensino Fundamental e a procura por espaços públicos ou privados nas regiões de maior demanda (Desvio Rizzo, São Ciro e Esplanada) que possam ser adaptados para receber creches.
– Estávamos analisando uma parceria público-privada que acabou não acontecendo com uma instituição do Desvio Rizzo. Agora estamos articulando com o Governo do Estado para que assuma mais vagas do Ensino Fundamental para que nós possamos, assim, ampliar a oferta de educação infantil.
Outra preocupação da secretária é com o número “muito alto” de vagas da educação infantil judicializadas. Durante a campanha eleitoral, Guerra prometeu terminar com esse método de atendimento, que custa mais caro comparado com a compra de vagas em escolas particulares.
– Estamos oferecendo o credenciamento (de escolas particulares) para reduzir a judicialização. Por enquanto, não temos vagas para todos e não conseguiremos fazer a transição imediata – lamenta ela.
SOBRE OS 6 MESES DE GUERRA
"Ele não mostrou a que veio ainda. Estava aguardando fechar os seis meses para começar a cobrar. Ele teve problema com os médicos e não se acertou, com a Visate também teve problema, limpou o centro dos ambulantes, mas criou outros problemas como o aluguel dos Pavilhões para as feiras itinerantes com a mudança de decreto, e isso foi muito prejudicial. As feiras itinerantes vêm de fora, pegam o dinheiro dos caxienses e vão embora. Isso é prejudicial para os clientes porque quem compra não tem garantia do produto, e ao comércio também Ele resolveu o problema dos ambulantes do Centro, mas tem alguns voltando com pouca mercadoria. A cidade não tem mais obras e o prefeito alega que está fazendo gestão, mas o resultado não está aparecendo."
Sadi Donazzolo, presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas)
"Temos sido muito bem atendidos quanto às nossas solicitações, mas os problemas que a gente têm levado ainda estão pendentes. Vou citar três: a gente solicitou ao governo do Estado a outorga para a prefeitura de Caxias do Sul como administradora oficial do Aeroporto Hugo Cantergiani. Foi um trabalho que fizemos junto ao governador (José Ivo Sartori) e ele consentiu. Agora, está dependendo da solução do senhor prefeito. Temos outra demanda que é a construção do Aeroporto de Vila Oliva. Apresentamos ao novo prefeito sugestões para a busca de investidores que possam pagar a área aos proprietários. Isso também está sendo estudado dentro da prefeitura e não há uma decisão. O terceiro ponto são ações mais práticas como a Festa da Uva, rodovias, investimentos na área da saúde e essa confusão toda com os médicos. Esses pontos também fizemos certa cobrança e não estão sendo resolvidos. Naturalmente, são problemas que foram herdados das administrações anteriores, mas hoje o prefeito é o senhor Daniel Guerra. Nossa avaliação é de um trabalho um pouco tímido. Ele está atirando para pontos diferentes e não existe uma solução prática para esses problemas."
Nelson Sbabo, presidente da Câmara de Indústria, Comércio e Serviços (CIC)
"Por enquanto, a gente está bem decepcionado com o nosso governo. Ele (prefeito) não recebe as entidades e tem feito coisas que estão atingindo somente os pobres. Para ele, ainda não acabou a eleição. Na nossa avaliação, o governo está muito ruim. Na questão da saúde, a falta de médicos está bem difícil e as UBSs da Zona Norte, onde há muita pobreza, faz sete anos que não têm médico pediatra. O Guerra não entendeu a grande responsabilidade que tem nas mãos."
Valdir Walter, presidente da União das Associações de Bairros (UAB)
"Entendo que os primeiros meses de um governo são importantes para que o prefeito se aproprie da situação do município. A gestão de uma grande cidade como Caxias do Sul é complexa e exige muito discernimento. Portanto, acredito que devemos aguardar um pouco mais para uma avaliação. De minha parte, desejo que ele consiga implementar seu planejamento com responsabilidade em meio a um cenário de crise nacional de ordem política e econômica."
Evaldo Kuiava, reitor da Universidade de Caxias do Sul (UCS)
"Temos conseguido dialogar a nossa pauta. Garantimos a nossa trimestralidade, ontem (quinta-feira) garantimos a aposentadoria dos bibliotecários. Ainda é cedo para avaliar em uma visão global, mas, nesses primeiros seis meses, dialogamos e esperamos avançar na próxima semana discutindo questões específicas com relação à saúde. Temos falta de profissionais que não vem de agora, mas que a gente precisa buscar uma solução para melhorar as condições de trabalho. Nesses primeiros seis meses, a questão mais difícil é a da saúde com a greve dos médicos porque a categoria tem dificuldade de reconhecer o Sindiserv como seu representante, e isso é um problema que a gente tem para superar, e as condições gerais da saúde, que são bastante difíceis na cidade".
Silvana Pirolli, presidente do Sindicato dos Servidores Municipais (Sindiserv)