Líder estudantil de Caxias do Sul é um dos fichados no Dops do Estado

Um líder estudantil de Caxias do Sul aparece entre as 4,6 mil fichas de "coleta e processamento de informações" do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) no Estado, reveladas por Zero Hora, no especial Fichados do Dops no RS.

Luiz André Fávero consta nos arquivos da repartição da Polícia Civil responsável por vigiar e controlar a oposição ao regime militar que durou de 1964 a 1985. Nascido em Ana Rech, Fávero era companheiro de militância do hoje empresário Orlando Michelli, 64 anos. Eles integraram a diretoria da União Caxiense de Estudantes Secundaristas (Uces) de 1966. No ano seguinte, em Uruguaiana, um congresso estudantil elegeu Fávero, então com 21 anos, presidente da União Gaúcha de Estudantes Secundaristas, (Uges), tendo Michelli, aos 18 anos, como tesoureiro da gestão.

Conforme avançavam na política estudantil estadual, os dois jovens caxienses, que passaram a morar em Porto Alegre, eram cada vez mais visados pelos repressores. O primeiro registro na ficha de Fávero no Dops data de 1968. Em janeiro, na Capital, estudantes do colégio Júlio de Castilhos e do Centro Acadêmico André da Rocha, da UFRGS, organizaram uma passeata com panfletagem no Centro. O regime menciona que Fávero e outros colegas "não discursaram, mas davam apoio e ajudavam a criar um clima de tensão entre os demais."

Depois de ser preso e torturado, em 1970, Fávero se refugiou no Chile e, depois, na França, onde ficou até a década de 1980. Lá, se formou doutor em Economia e Sociologia Rural pela Universite de Paris X (Paris-Nanterre) e pós-doutor em Mercados Agrícolas Globalizados pela Université de Paris I Sorbonne. Com reabertura política, Fávero escolheu a região Nordeste para retomar a vida no Brasil.

Ele era professor da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). Fávero morreu em janeiro de 2011, aos 67 anos, vítima de complicações durante uma cirurgia para retirada de um tumor.