Com apenas uma morte em setembro de 2024, Caxias do Sul teve o menor número de crimes violentos registrados no mês nos últimos 10 anos. Os dados integram um levantamento da reportagem do Pioneiro, confirmados pela Polícia Civil. No comparativo com o mesmo mês do ano passado, quando aconteceram sete assassinatos, a redução chega a 85%.
O único caso em Caxias do Sul foi o de Daniele Pinto de Azevedo, 38 anos, morta a facadas em casa, no bairro Primeiro de Maio, em 17 de setembro. Inicialmente tratado como feminicídio, o caso é investigado como homicídio pela Polícia Civil.
A queda no número de crimes violentos tem se repetido mês a mês no maior município da Serra desde junho (veja mais na tabela abaixo). Em todo o ano, foram 65 assassinatos em Caxias do Sul, sendo dois feminicídios, 53 homicídios, um latrocínio e nove em confrontos com a polícia. Um outro crime ainda é investigado.
O titular da Delegacia de Homicídios de Caxias do Sul, delegado Caio Márcio Fernandes, destaca que a redução histórica é resultado de um somatório das forças de segurança pública do município com os órgãos de defesa do Estado, como o Ministério Público e o Poder Judiciário. Ele acredita que a chegada de dois magistrados titulares à Vara Criminal trouxe mais celeridade aos casos.
— Até o mês de setembro temos 150 prisões feitas pela Delegacia de Homicídios. Dos casos registrados até o momento, 85% já estão elucidados e os inquéritos remetidos ao Poder Judiciário — afirma o delegado.
Violência cessou por "acordo" entre facções
O professor Charles Kieling, historiador especializado em Ciências Sociais na área de Segurança Pública, avalia que a queda no número de mortes em Caxias é relacionada à sazonalidade e uma "coalizão" entre as facções criminosas. Na visão do especialista, nos últimos 20 anos é perceptível a movimentação dos grupos e as disputas por território.
— O crime organizado é comandado por uma facção maior, atuante em nível nacional. Há uma hierarquia, uma coalizão com as facções que atuam aqui. Não estão unidos, mas estabeleceram uma espécie de acordo para ganhar o mercado e a logística para o tráfico. Isso dá uma falsa sensação de segurança pública na cidade — afirma Kieling.
Ele avalia a necessidade de um trabalho focado na inteligência para entender as ramificações da violência e atacar os autores. O historiador também acredita que as políticas públicas no Brasil para combater crimes de violência doméstica e feminicídio ainda são insuficientes.
— Não existe uma política pública eficiente que afaste o agressor da vítima e para proteger quem realmente corre risco. Colocar tornozeleira eletrônica não resolve — destaca o historiador.
Compare
O número de mortes ocorridas em setembro nos últimos 10 anos em Caxias do Sul:
- 2014 - 9
- 2015 - 16
- 2016 - 11
- 2017 - 6
- 2018 - 3
- 2019 - 9
- 2020 - 5
- 2021 - 9
- 2022 - 4
- 2023 - 7
- 2024 - 1