O roubo de veículo, aquele crime em que a vítima fica frente a frente com um assaltante armado, deixou há tempos de ser um dos grandes desafios da segurança pública de Caxias do Sul. E os dados de julho mostram que essa preocupação está a cada dia mais distante do cotidiano. O mês passado teve 11 ocorrências do tipo, número que é considerado muito baixo pela polícia e também é o menor para o mesmo período desde 2013 na cidade.
Para comparação, em 2016 houve um pico desse crime em Caxias do Sul. Na ocasião, a polícia registrou de dois a três casos diários. Ou seja, bem diferente de agora, com um roubo de veículo a cada três dias, em média.
Na comparação com o mês de julho de 2022, também houve queda de roubos. Em relação aos 24 casos do ano passado, a redução foi de 54%.
A diminuição atual, porém, demonstra que os criminosos preferem correr menos riscos e estão optando pelo furto de veículos (sem a presença da vítima), uma vez que o veículo levado será utilizado para o mesmo fim: moeda de troca por drogas e dinheiro ou para desmanche. No primeiro semestre, houve um total 468 carros furtados. Por outro lado, ladrões armados renderam vítimas para levar outros 127 veículos. Na prática, é como se cada quatro furtos, ocorresse um roubo mediante violência. Os números são da Secretaria de Segurança do Estado (SSP-RS).
De acordo com o delegado Luciano Righês Pereira, titular da Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas (Draco), a investigação conjunta das forças de segurança para identificar as organizações criminosas especializadas no roubo de veículos é o principal fator para a redução do índice. O delegado diz que Caxias do Sul ainda não tem, em operação, o cercamento eletrônico, ferramenta que, na visão dele, poderia ampliar o combate aos crimes.
— Os veículos não são roubados aleatoriamente, há uma encomenda. Uma pessoa fica na rua selecionando os veículos e acompanhando a rotina das vítimas. Depois, no momento oportuno, cometem o crime. Geralmente, é articulado por alguém que está dentro do sistema prisional — explica o delegado.
Modelos mais visados
Em 2023, segundo a Brigada Militar, os veículos com maior índice de roubo foram os modelos HB20 (9), Ford Focus (7), Gol (6) e Onix (5). As caminhonetes também são bastante procuradas pelos assaltantes. Somados, houve 22 casos no semestre.
Já os veículos mais furtados foram os modelos Fiat Uno (89), Gol (77) e Corsa (65). A motocicleta mais procurada pelos criminosos é a Honda CG, com 34 registros de furtos e 10 de roubo. O destino das caminhonetes, por exemplo, de acordo com a Draco, é fronteira do Brasil com o Paraguai para a troca por outras mercadorias, drogas ou dinheiro. Em outros casos, na maioria das vezes, os carros são desmanchados e as peças revendidas para estabelecimentos de desmanche clandestinos no próprio Estado.
Caso o crime de furto e roubo ocorra, a primeira iniciativa da vítima deve ser o comunicado à polícia. Através do registro do boletim de ocorrência, as viaturas que estão nas ruas já iniciam as buscas, por meio do modelo do veículo, placa. Informar a direção para onde eles fugiram também é importante para o trabalho da polícia.
Perfil dos ladrões
De acordo com o comandante do 12º Batalhão de Polícia Militar, tenente-coronel Ricardo Vargas, uma barreira que impede números ainda melhores na segurança pública é a legislação penal. Na visão dele, o criminoso sabe, ao planejar o assalto, que em breve estará em liberdade:
— A ação do sistema de Justiça criminal no Brasil está enfraquecida diante de legislações que permitem ao criminoso retornar às ruas no mesmo dia em que foi preso ou dias depois. Isso nos gera sérios problemas de segurança nas ruas, o que reflete diretamente na segurança da população — afirma Vargas.
O Código Penal brasileiro distingue as penas para crimes de furtos e roubos. Aos criminosos que não empregam violência e cometem o furto (artigo 155), a pena é de 1 a 4 anos de prisão, mais multa. Caso o crime tenha ocorrido à noite, a lei diz que a pena pode ser aumentada. Já no caso mais grave que é o roubo (artigo 157), a pena prevista é de 4 a 10 anos de prisão, mais multa. Também, dependendo as circunstâncias do roubo ou da ameaça feita contra a vítima a pena pode ser superior.