Um grupo de intervenção rápida será criado para melhorar as revistas e intervenções nas oito casas prisionais da Serra. Serão 30 agentes penitenciários que serão selecionados e treinados. Atualmente, a região depende do grupo especializado de Porto Alegre, que possui pedidos e demandas de todo o Estado. Também será instalado um canil, que deve ter quatro cães treinados para buscas e intervenção. Hoje, a Serra possui cerca de 3.150 presos.
O anúncio dos projetos foi feito pelo novo delegado regional da Serra, Fernando Demutti, 37 anos. Ele assumiu o posto no início deste mês e percebe a falta de estrutura como o principal desafio.
— Somos uma região superlotada. Em termos de porcentagem, a pior do Estado. Temos muito o que evoluir e trazer ideias que otimizem nossos resultados. Hoje, se tivermos um problema e decidirmos fazer uma revista em uma galeria, dependemos do apoio (do grupo especializado) de Porto Alegre. Quando tivermos o nosso grupo (na Serra), teremos uma autonomia melhor — explica o novo chefe da 7ª Delegacia Penitenciária Regional (7ª DPR).
Demutti afirma que a portaria para criação do grupo de intervenção está em iminência de ser publicada pelo Governo do Estado, o que autorizará sua criação. O reforço necessário no efetivo virá do curso de formação da Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), que está em andamento com 416 aprovados e previsão de formatura para este trimestre.
Sobre o canil, o delegado penitenciário relata que esta é uma iniciativa que já ocorre em Arroio dos Ratos e Santa Maria com bons resultados. A intenção é ter uma dupla de cachorros de faro e uma dupla de cães de intervenção.
— Vemos a ferramenta do cachorro como de extrema importância para localizar armas e drogas nas celas, pois os presos têm muito tempo para encontrar formas de escondê-las. O cachorro, por esta vantagem do faro, consegue localizar com mais facilidade. Esses setores operacionais (canil e grupo de intervenção) serão instalados nos espaços ociosos que temos nos presídios — aponta.
Demutti é natural de Dois Irmãos e começou a vida pública no Exército. Em 2009, ingressou na Brigada Militar e fez especialidade para bombeiro militar. A aprovação no concurso da Susepe aconteceu em 2014, onde atuou na divisão de escoltas até ser convidado para a direção do Presídio Estadual de Canela. Também teve passagens por casas prisionais em Canoas e Porto Alegre. Antes de voltar para a Serra, atuou no Departamento de Segurança e Execução Penal e na chefia da Divisão de Escoltas da Susepe.
Na manhã desta sexta-feira (25), o delegado penitenciário regional Demutti conversou com a reportagem do Pioneiro. Confira outras ideias do novo representante da Susepe na Serra:
Pioneiro: Apesar da breve carreira, o senhor já passou por diversos setores da Susepe. Por que?
Fernando Demutti: Costumo aceitar os desafios. Quando há um problema e me fazem um desafio para resolver, estou pronto para atender. Sou muito solícito e voluntário. Gosto de trabalhar em prol da instituição, para conseguirmos melhorar cada dia um pouco mais. Trabalho de forma técnica, com dados e gestão. Procuro otimizar, aproveitar o que temos e conseguir extrair um pouco mais. A minha meta é sempre conseguir fazer mais com o que já temos.
Por que decidiu voltar para a Serra?
Tenho casa em Gramado e um carinho pela região. Costumo dizer que quem vem para cá, se apaixona e não quer mais ir embora. O povo é muito acolhedor, a cultura é muito trabalhadora, de um povo honesto, de arregaçar as mangas e fazer. Gosto deste empenho e comprometimento, isto ajuda muito no trabalho. Um bom trabalho se faz com uma boa equipe. E, na Serra, conseguimos juntar boas equipes.
Neste primeiro mês, qual avaliação fez do trabalho na Serra e o que pode ser melhorado?
Já visitamos todas as casas da região neste mês para identificar as necessidades e ajudar eles. Estamos trabalhando em questões pontuais, com reuniões mensais com todos os administradores para discutir os problemas de forma ampla. Nosso desafio é trazer evolução. Trazer ideias que já funcionam em outras regiões para que funcionem aqui também. Esta falta de estrutura afeta o trabalho de quem está lá na ponta (nas cadeias). Nossa meta é trazer o grupo de intervenção e o canil regional ainda em 2022 para dar o suporte para as casas (prisionais).
Qual a situação da superlotação carcerária na Serra?
Hoje são cerca de 3.150 presos. Toda as casas da região estão já superlotadas, com exceção da de Bento Gonçalves. Lá, temos uma ideia de presença plena do Estado, que é fornecer ao preso todas condições necessárias para que ele tenha a opção de não cometer novos delitos. Criamos um espaço que não existe presença de facção, diferença de roupa ou objetos, porque sabemos que cada detalhe (numa cadeia) representa uma hierarquia. Em Bento, todos os presos são iguais e recebem a mesma alimentação e material de higiene. É uma questão de equidade. Fazemos questão de selecionar o perfil do preso e colocar em Bento só o perfil certo. Justamente para este trabalho dar certo. Não adianta colocar 50 presos faccionados lá, achando que iremos resolver o problema deles. Na verdade, estaremos prejudicando o trabalho com os demais que estão tentando ser reinseridos na sociedade com valores melhores.
Este trabalho não é feito nas outras sete casas da região?
Nas outras casas, não é possível em razão da superlotação. É um fator importante. No momento que não conseguimos fornecer aos presos os direitos que ele tem, também não conseguimos exigir melhorias. Temos celas que seriam para seis presos que, por vezes, tem 16 ou 17. Não tem cama para todos, o banheiro é apertado, muitos dormem no chão, estas condições não ideais atrapalham a reinserção.
Como o delegado vê a questão do trabalho prisional nas cadeias? É algo que irá tentar estabelecer na região?
O trabalho dá oportunidades. No momento que estão trabalhando, os presos não estão pensando bobagem. Estão aprendendo um ofício, ocupando a cabeça e, alguns de forma remunerada, estão ajudando suas famílias. Vejo que o trabalho prisional é uma oportunidade não só para o preso, mas também para a comunidade que tem ele envolvido. Os presos tem que ter oportunidade de trabalhar e estudar. A maioria dos presos, se tiverem oportunidades e souberem aproveitar, podem sair deste mundo do crime. Na região, temos bons trabalhos em São Francisco de Paula e Nova Prata. E estamos desenvolvendo outros projetos. Nosso foco está muito nisso, trabalho e educação.