Uma enfermaria foi transformada em um consultório com maca ginecológica para que as 85 mulheres, entre elas uma gestante, que cumprem pena no Presídio Regional de Caxias do Sul (antiga Pics), tenham acesso a consultas com especialista. A ideia foi bem aceita, tanto pela direção da casa prisional, como pelas presidiárias.
O programa foi desenvolvido em uma parceria entre a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) e o presídio. A maca foi doada pela Liga Feminina de Combate ao Câncer, que aposta nos atendimentos para a prevenção de doenças.
As consultas serão realizadas uma vez por mês. Inicialmente, dez mulheres vão ser atendidas. Depois, pretendem passar para 15 atendimentos mensais. Serviços como exame ginecológico Preventivo do Câncer de Colo Uterino (PCCU )e testes rápidos também serão oferecidos às detentas com o apoio da Unidade Básica de Saúde (UBS) Sagrada Família.
O projeto, idealizado pelo ginecologista Fernando Vivan, conta com o apoio da enfermeira Roseane Wagner dos Reis para que saia do papel. O médico que atua no administrativo da secretaria também atenderá as pacientes.
– Queremos buscar a inclusão dessas mulheres na assistência e no rastreio do câncer para que possamos combater a doença – disse o ginecologista. Tudo começou com conversas sobre a realidade enfrentada pelas detentas.Para o especialista apenas atendimentos clínicos não são suficientes para garantir o acesso à saúde:
– Sabemos que há preconceito da sociedade. É como se, ao cumprir pena, a pessoa não fosse mais um ser humano. As presas têm direito à saúde. Elas são privadas de liberdade, não da dignidade. O médico acrescenta ainda que como ele e a enfermeira Roseane trabalham no administrativo da secretaria, nenhuma UBS ficará sem médico:
– Uma vez por mês vamos nos dedicar ao assistencial para garantir o atendimento das mulheres que precisam deste cuidado.
A presidente da Liga Caxiense de Combate ao Câncer, Roseli Heinen, soube da iniciativa em uma palestra de prevenção durante o Outubro Rosa. Acompanhada pela vice-presidente Vera Caregnato Orsso ela esteve no presídio para falar com as presidiárias sobre o tema e abraçou a ideia.
– Conversamos com a psicóloga que nos contou que estavam em busca de patrocínio para adquirir a maca e que seria colocado em prática um projeto para atendimento das detentas – conta Roseli.
Consulta especializada evitará deslocamentos
As mulheres eram atendidas apenas por um clínico no presídio. Quando precisam de especialistas tem de ser levadas até as UBSs. As primeiras consultas aconteceram no último dia 13. O diretor do presídio,Marcelo Saviano, afirma que a iniciativa garante mais saúde e qualidade de vida às presas, e também mais segurança à população. – A importância do atendimento dentro do presídio é evitar a saída das presidiárias.
Para deslocá-las precisamos de viatura e policiais para escoltas. Também há a questão das consultas prioritárias, que revoltam as demais pacientes, mas que são necessárias,justamente,para preservar a sociedade. Sabemos que o atendimento prioritário provoca resistência e indignação da comunidade que aguarda pelas consultas – destaca Saviano.
Ele ressalta ainda que a construção da UBS no presídio será um avanço:
– Quando a obra estiver concluída teremos atendimentos em todas as áreas, sem precisar deslocar os apenados. Eles terão que sair apenas em casos de urgência.