Sair de casa e não encontrar mais seus pertences quando voltar. Este é o medo que uma viúva de 42 anos convive após ladrões arrombarem duas vezes sua residência nos últimos três meses, em Caxias do Sul. No segundo furto, policiais militares localizaram um suspeito e recuperaram a televisão. Contudo, não demorou muito para o suposto ladrão estar de volta ao convívio do bairro Desvio Rizzo e espalhar a insegurança na vizinhança.
Conforme o Código Penal, o furto qualificado tem pena dois a oito anos de reclusão e multa. Na prática, é um delito considerado de menor gravidade diante do volume de roubos, homicídios e tráfico de drogas — ainda mais quando se leva em consideração que o Rio Grande do Sul possui menos da metade dos policiais que deveria. Para as vítimas, o sentimento é de insegurança e impotência.
— A gente luta tanto para ter as nossas coisas... Moro aqui há 16 anos e nunca tinha acontecido. Precisava levar minha filha para atendimento e saímos tranquilas. Quando voltamos a casa estava revirada. Levaram tudo que conseguiram carregar. Pegaram até um cobertor, provavelmente para enrolar tudo — lamenta a moradora, que está desempregada e sobrevive com a pensão do marido falecido.
Este arrombamento aconteceu na tarde do dia 7 de maio. Por um terreno baldio, os ladrões cortaram a cerca e depois tiraram o miolo da fechadura. No início de julho, aconteceu novamente. Como a vítima havia reforçado a porta com mais de uma tranca, os bandidos cortaram a porta de madeira para abrir um buraco.
Na ocasião, uma vizinha viu a movimentação criminosa e acionou a Brigada Militar (BM). Procurando por um homem de moletom azul, os policiais militares chegaram até uma casa há 300 metros da vítima. Os PMs foram atendidos por um homem de moletom azul e a televisão branca da vítima foi localizada em um quarto da moradia.
Contudo, como é comum em casos de furtos, o suspeito não permaneceu preso por muito tempo. Enquanto a Justiça segue seus passos, a vizinhança tem que aprender a viver com medo.
— Não consigo dormir direito. Não fico tranquila em casa, mas também não fico quando saio. Se vou no mercado, já volto correndo porque tenho medo de chegar em casa e não ter mais nada. São sempre os mesmos caras que roubam por aí, todo mundo sabe. Mas, ninguém faz nada — lamenta a vítima.
EM NÚMEROS:
Caxias do Sul registrou 94 furtos arrombamentos em residência no primeiro semestre de 2019 — uma redução de 20% em comparação com o mesmo período do ano passado. A média é de mais de três casas invadidas por semana.
"Sem suspeitos ou câmeras, não tem como irmos atrás"
As investigações sobre crimes de furtos são distribuídas entre os três distritos policiais de Caxias do Sul conforme a região em que acontecem. O bairro Desvio Rizzo é responsabilidade da 2ª Delegacia de Polícia (2ª DP). A delegada Thais Norah Sartori Postiglione Peteffi explica que, diante da falta de policiais que afeta todo o Rio Grande do Sul, é necessário dar prioridade para os casos mais violentos.
Pioneiro: Como a Polícia Civil trata este tipo de delito?
Delegada Thais Norah Sartori Postiglione Peteffi: Não tratamos como prioridade. A prioridade são os crimes com violência ou grave ameaça as pessoas, no caso, os roubos. Há muito demanda por furtos, sim, mas é um delito sem violência.
Quando há prisão em flagrante, o que acontece?
Concluímos o inquérito e remetemos ao Judiciário em seguida.
É comum conseguir prisões neste tipo de inquérito?
Por furto? Não. É bem difícil. Normalmente, as pessoas não têm câmeras nas casas e não há testemunhas. Praticamente, é impossível representar pela prisão de furto. Não temos como reconhecer ou onde buscar. Se as pessoas (vítimas) vierem e apresentarem o nome de alguém (suspeito), com certeza iremos atrás.
O caso desta viúva no Desvio Rizzo é um exemplo?
O APF (Auto de Prisão em Flagrante) já foi (concluído e remetido). O outro, que aconteceu em maio, está claro na ocorrência: não tem suspeitos para delito. Depois: não tem câmera de vigilância e que o local já foi consertado. Se tivesse nos informado que possuía um suspeito, o caso teria sido bem diferente. Na ocorrência, está bem claro o que ela declarou. Sem suspeitos e sem câmeras, não tem como irmos atrás.
No segundo crime aconteceu a prisão em flagrante, mas a vítima relata que o detido já está solto e voltou para a vizinhança...
Mas, a culpa não é nossa. Quando a pessoa registra que não tem suspeitos e não tem câmeras, nós não temos o que fazer. No caso dela, esta pessoa foi presa em flagrante e nós fizemos o nosso trabalho. Se ele está solto, não tem nada haver conosco (da Polícia Civil). Se a vítima vem e diz que "fulano me furtou", nós iremos atrás. Mas, sem o mínimo, não tem o que fazer.