O autor da morte de Bruno Ribeiro Souza, 20 anos, se apresentou à Polícia Civil na tarde desta quarta-feira (29). Cristiano Pereira de Almeida, 28 anos, admitiu que houve uma discussão em razão do som alto na casa do vizinho, mas alega que só atirou em legítima defesa. A versão é que o grupo de amigos teria arremessado garrafas contra a sua casa e ferido sua filha de dois anos.
O advogado Luis Fernando Possamai acompanhou Almeida durante o depoimento na Delegacia de Homicídios. O defensor relata que o investigado foi até a casa vizinha e relatou que o som da festa estava importunando sua família, mas acabou expulsou pelo grupo. Almeida teria solicitado a esposa que chamasse a Brigada Militar e saiu para caminhar pelo bairro Villa-Lobos. Na volta, encontrou o grupo arremessando pedras e garrafas contra a sua casa, onde estava sua esposa e filhas.
Na tentativa de parar as agressões, Almeida alega que gritou e atirou para o alto, mas o grupo teria avançado em sua direção arremessando pedras e garrafas. O suspeito também relata ter ouvido tiros e, por isso, atirou contra o líder do grupo.
A versão inicial, registrada pelos familiares e amigos da vítima, é que Souza foi baleado quando deixava a moradia do amigo. O mecânico estaria buscando seu carro para dar carona a namorada e a filha de um primo, de três anos.
A reportagem entrou em contato com o comando do 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM) para esclarecer se a Brigada Militar foi acionada naquela noite em razão do som alto e o porquê de nenhuma guarnição ter atendido a denúncia, mas não obteve retorno até as 16h30min desta quinta-feira (29).
"Era uma agressão contra a família dele", alega advogado
Pioneiro: O seu cliente alegou legítima defesa?
Luis Fernando Possamai: Sim, porque não foi o som alto que motivou o homicídio. Houve esta festa e ele esteve na referida casa antes do fato, por volta das 3h da madrugada, para pedir a estas pessoas que baixassem o som, pois eles queriam descansar e tinham duas crianças pequenas. Só que estas pessoas se recusaram e expulsaram ele do local. Ele voltou para casa, falou para a esposa chamar a Brigada Militar e foi para o centro do bairro. Quando retornou, encontrou este grupo da festa em frente da sua casa jogando pedras, quebrando garrafas e dando tiros. Inclusive, a filha dele foi atingida por uma dessas garrafas.
Houve uma briga?
Era uma agressão contra a família dele, inclusive com risco de morte. Ele gritou para pararem, só que estes rapazes foram para cima dele. Ele foi atingido por uma garrafa e ficou com cortes no braço. Ele deu um tiro para cima, na tentativa que parasse estas agressões. Eles continuaram para cima dele, dando tiro e jogando pedras, por isso ele deu mais dois disparos. Foi quando cessou a agressão e o pessoal se dispersou. Então, o meu cliente buscou as duas filhas e a esposa e fugiu do bairro. Deixou a família em um local seguro e foi se esconder em um matagal. Ele estava apavorado, fora de si.
O seu cliente já havia se envolvido em brigas como essa?
Não, ele não tem nenhum antecedente criminal. É um trabalhador e pai de família. É morador do bairro há anos. Ele trabalha com construção civil, é um pedreiro autônomo, apresentamos a carteira de trabalho dele.
A BM não atendeu as denúncias de som alto?
A esposa ligou para a Brigada, que disse que iria verificar (a perturbação do sossego). Mas, até as 4h não haviam ido ainda. Estas pessoas estavam todas embriagadas, como os depoimentos de participantes desta festa confirmam. O que motivou o homicídio não foi a questão do som, foram as agressões à família e contra ele. Está tudo comprovado no inquérito. Apresentamos o atestado médico da filha, ele também irá fazer o exame de corpo delito e há testemunhas.
Quantas pessoas estavam atacando ele?
Não sabemos precisar. Não há iluminação pública na rua. A única luz vinha da área da casa dele. Era o grupo que estava na residência (da festa) e que foi para frente da casa dele. Tinha uma pessoas que liderava mais a frente, e outras pessoas atrás.
Ele percebeu que tinha baleado uma pessoa?
Não. Ele deu o primeiro tiro para o alto e depois mais dois. Quando o grupo estava agredindo ele com arremesso de pedras e garrafas, vários tiros foram ouvidos, mas não se sabe quem atirou ou qual direção atirou. Se estava na direção dele ou da família dele, mas eram pessoas deste grupo que estava na festa. Então, como continuaram indo para cima, ele deu os dois tiros na direção desta pessoa que estava mais a frente. Como estava escuro, não viu se acertou. Só percebeu que o grupo dispersou. Soube posteriormente que tinha acertado alguém e que esta pessoa tinha falecido.
Por que o seu cliente fugiu?
Ele fugiu porque estava apavorado e transtornado. Não queria aquele resultado. Pensava que ia morrer, que iam matar a família dele.
Este revólver que ele utilizou era legal?
Acredito que não. Quando fugiu para o matagal, esta arma se perdeu. Ele tinha comprado essa arma há pouco mais de seis anos. Não perguntei e nem a polícia perguntou se esta arma era legal.