O assassinato do professor Vinícius Ferreira da Silva Gatelli, 25 anos, na última sexta-feira (03), em Caxias do Sul, é um mistério que intriga a família e amigos do jovem. O professor da rede estadual de ensino foi morto a tiros, sendo que um deles foi disparado na cabeça.
O corpo, parcialmente enrolado em um edredom, havia sido jogado na lateral da Rua Luiz Covolan, embaixo da Ponte Seca, no acesso ao aterro São Giácomo, no Loteamento Mattioda. O motorista de uma van escolar viu o cadáver na rua e comunicou a Brigada Militar por volta das 20h20min.
Segundo a família, Gatelli saiu de casa na sexta-feira, por volta das 19h, para encontrar com amigos. Ele iria a um jantar de despedida porque o contrato dele na Escola Estadual Sílvio Dal Zotto, no bairro Santa Catarina, não seria renovado.
O professor carregava uma carteira de couro com R$ 1.571,85 em dinheiro, uma nota de US$ 1, um chaveiro e a nota fiscal de uma padaria. Como os objetos não foram levados afasta a possibilidade de um assalto seguido de morte. O celular, no entanto, não estava com o rapaz. O edredom sobre o corpo de Gatelli não pertencia a ele ou a sua família.
Vanderlei Mauro Gatelli, 55, pai de Vinicius, conta que o filho disse amigos lhe buscariam na Rua Cristiano Ramos de Oliveira, a duas quadras da casa onde morava com a família no bairro Desvio Rizzo. Os familiares não sabem se o encontro chegou a acontecer.
— A morte do nosso filho é muito estranha, porque ele saiu de casa para pegar uma carona, e geralmente, os colegas pegavam ele nesse ponto, próximo a nossa casa. Foi muito rápido, porque ele saiu depois das 19h e foi encontrado logo depois. Me pergunto porque enrolaram o corpo dele em um edredom — questiona o pai.
A reportagem apurou que o professor foi visto por uma testemunha sacando dinheiro do caixa eletrônico de um posto de combustíveis perto de casa, rotina que ele fazia com frequência. Contudo, a testemunha não soube dizer se o saque foi realizado na quinta-feira ou na sexta-feira.
– Se sofria ameaças, nunca nos falou – complementa o pai.
Ainda em choque, ele fala sobre a dor de enterrar o filho mais velho:
— Não faço ideia do que pode ter acontecido, é muito doloroso um pai ter que enterrar um filho.
A investigação está sob a responsabilidade da Delegacia de Homicídios. A reportagem não conseguiu contatar o titular da DP, Rodrigo Duarte.
"Ele brincava de dar aula. Tinha alunos imaginários", conta irmã
Filho de Vanderlei e Valdirene, 45, e irmão de Victória, 19, e Vicenzo, 8, Gatello, lecionava na Sílvio Dal Zotto e na José Generosi. A irmã se emociona ao falar sobre a paixão do professor pelo Grêmio, por músicas gaúchas, que adorava dançar, e principalmente, por lecionar:
— Ele brincava de dar aula. Quando criança, escrevia no quadro com giz e tinha alunos imaginários. Ele gostava de ensinar. Estava sempre com a mochila brincando de ser professor. Era um dom. Meu irmão era calmo, tinha muitos amigos e amado por todos. Todos gostavam de abraçar ele e ficar por perto — lembra Victória.
Professores lamentam assassinato do jovem
A titular da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE), Janice Moraes, conheceu o professor quando ele era estudante. Depois, ela reencontrou o jovem quando ele trabalhava na 4ª CRE, e em seguida, tinham contato em função dos contratos temporários de Vinícius, para lecionar para os anos iniciais. A coordenadoria irá fazer um trabalho de acolhimento com os alunos do professor durante essa semana.
— Vinícius tinha carisma e dedicação aos alunos e sempre desempenhou com carinho a função de alfabetizar as crianças. A comunidade escolar está chocada porque ele era um profissional muito comprometido com a educação _ aponta Janice.
A paixão pela sala de aula era visível tanto que o rapaz nunca se queixou de ser transferido e tampouco se recusava a começar a lecionar em outras escolas, já que os contratos eram temporários:
— Sempre aceitava as transferências. Por mais difícil que fosse perder as turmas onde lecionava, ele aceitava seguir para outra escola e se dedicava aos alunos _ cita a titular da 4ª CRE.
O corpo do professor foi enterrado na manhã deste domingo (05), no Cemitério Público Municipal.