A manhã do segundo dia do julgamento dos policiais militares acusados pelo Ministério Público de matar Lucas Cousandier em 4 de fevereiro de 2016 foi marcada pelos debates entre a Promotoria e as defesas dos três réus – Emerson Tomazoni, Gabriel Ceconi e Devilson Soares – mesmo que, de fato, tenham ocorrido as explanações do promotor e de apenas uma das defesas, a de Christian Tombini, que representa Tomazoni.
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É que, durante a argumentação do acusador, os defensores dos outros dois réus se manifestaram por diversas vezes, com e sem apartes (quando pedem a palavra), elevando, por momentos, o tom da discussão. Eles também ajudaram Tombini localizando falas das testemunhas nos depoimentos prestados por elas anteriormente, nas fases policiais e processuais.
O primeiro a falar foi o promotor Eugênio Amorim, de Porto Alegre, que atua no caso. Durante duas horas e 20 minutos (ele teria quatro horas e trinta minutos para falar) ele argumentou pedindo a condenação do trio por homicídio com dolo eventual, quando a pessoa ao adotar determinada conduta assume o risco de matar.
– O erro foi a escolha pelo disparo. E apoiar o disparo. Se os senhores entendem que podiam e deviam (os PMs) atirar no carro, absolvam. Eles vão continuar atirando nos carros sem saber o que tem dentro. Os três tem que ser condenados, um por autor e os outros por participação. Fizeram tudo errado. Se precipitaram. Mas não foi sem querer. Os senhores (jurados) estão sob o compromisso de serem justos, conscientes – argumentou o promotor.
Amorin se reportou ao fato de os policiais terem alegado que deram tiros de advertência e que, mesmo assim, os jovens não pararam, o que sugeriu aos PMs que se tratassem de criminosos. Segundo o promotor, em uma situação como esta, se fossem bandidos, teriam revidado aos disparos, e, no caso dos jovens, teriam parado o carro. Conforme Amorim, não o fizeram porque os "tiros não existiram".
Tanto acusador, quando defesa usaram carrinhos de brinquedo para defender as teses sobre o posicionamento dos veículos. Amorim disse que viatura seguia atrás do carro, mas no meio das duas pistas, na perimetral, portanto, com ângulo que permitiria o disparo na diagonal que passou pelo vidro traseiro e atingiu a nuca de Cousandier. O projétil perfurou a cabeça de baixo para cima, porque Tomazoni, que efetuou o disparo é mais baixo que a vítima, disse o promotor.
Já o defensor de Tomazoni tentou desclassificar o crime para homicídio culposo. No caso dele, porque teria agido com imperícia. Além de descrever de forma diferente o posicionamento dos veículos. De acordo com o defensor, o carro dos jovens derrapou (porque chovia naquela madrugada), o pneu traseiro bateu no meio-fio e o carro rodou 180º parando de frente para a viatura. Os policiais desceram fizeram uma formação em leque ao redor do carro. Tomazoni só teria disparado porque os jovens teriam arrancado com o carro em uma nova tentativa de fuga. O tiro teria sido para baixo, mas teria ricocheteado e atingido Lucas na nuca.
– Esse gatilho, (o Tomazoni) não apertou sozinho. O Felipe deu causa para tudo isso. Toda essa circunstância fez com que os policias, que não trabalham na Disneylândia e sim em Caxias do Sul, acreditassem estar diante de uma ocorrência de vulto. Condenem pelo homicídio, mas não com dolo eventual. Condenem Tomazoni por homicídio culposo, porque deu causa ao evento morte por imperícia – pediu aos jurados o defensor referindo que se os policiais tivessem intenção de acertar os jovens teriam atirado antes.
Além disso, o advogado tentou desqualificar o depoimento de Felipe Veiga, que conduzia o carro naquela madrugada, atribuindo ao jovem, amigo da vítima, protagonismo nos fatos que se seguiram após a fuga.
Na primeira fila da platéia, os pais do jovem morto, Naira e Marcelo Cousandier, 54 e 55 anos, respectivamente, se emocionaram muito aos ouvir os debates.
– Eu quero justiça. Não quero que outros pais passem pelo que nós estamos passando. Nossa vida acabou. Eu tenho outro menino de 12 anos. Ele precisa muito de nós. Mas, eu não tenho mais força. Eu preciso que haja justiça para meu filho (Lucas) ter paz, descansar e nós também – disse chorando dona Naira à reportagem no intervalo da sessão.