A morte de um animal em situação de abandono há quase duas semanas foi registrada em boletim de ocorrência na Polícia Civil na quinta-feira (3), em Caxias do Sul. O registro foi efetuado pelo Departamento de Proteção e Bem-Estar Animal da Secretaria do Meio Ambiente (Semma) após denúncias de vizinhos da residência situada no bairro Kayser.
Conforme o boletim de ocorrência, a dona da moradia estaria em viagem desde o dia 21 de dezembro. A funcionária da Semma Cátia Giesch conseguiu entrar no imóvel após contato com o ex-marido da proprietária da casa, que possuía o controle do portão de acesso ao pátio, apesar de não residir mais no local.
Segundo Cátia, o cão estava morto há pelo menos três dias e se encontrava em estado avançado de decomposição, dividindo o mesmo espaço com outros três cães, presos em canis e sem condições de se alimentarem.
— Vimos uma situação deplorável, o cachorro morto estava inchado por causa do calor, com muitas moscas em volta. Esse cão era o único que estava solto no pátio, mas sem comida — lamenta Cátia.
Segundo ela, um dos animais era cego e os outros dois eram idosos. Para o encarregado do caso, delegado Rodrigo Kegler Duarte, apesar da pena prevista nesses casos ser de detenção de três meses a um ano e multa, a responsável pelo animal deve responder a uma pena alternativa, por conta da ausência de flagrante.
Os cachorros foram encaminhados ao canil municipal. A Semma tentou entrar em contato com a responsável pelos animais, sem sucesso.
Abandono cresce no período de férias
Ao longo de 2018, a Secretaria do Meio Ambiente registrou cerca de mil denúncias de abandono ou maus-tratos de animais em Caxias do Sul. No entanto, os casos se acentuam no período de férias, entre dezembro e o final do mês de fevereiro do ano seguinte.
O cidadão que perceber esse tipo de ocorrência pode realizar a denúncia através de dois meios, pelo site da Secretaria Municipal do Meio Ambiente, na aba "Formulário de denúncia de animais em vulnerabilidade", ou pela ONG Proteção Animal Caxias (PAC), pelo telefone 9.9159-6172.
— É importante que as pessoas enviem fotos, endereço completo, pontos de referência e que horas pode ter gente próxima ao local de onde ocorreu a denúncia — explica Cátia Giesch, que também atua como voluntária na ONG.
As imagens devem ser encaminhadas para o e-mail bemestaranimalcaxias@gmail.com. A Semma reforça que toda denúncia é anônima _ os campos de preenchimento, nos quais constam nome e CPF, não são divulgados.
O artigo 32 da Lei de Crimes Ambientais prevê que praticar ato de abuso, maus-tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos, gera detenção, de três meses a um ano, e multa. A pena é aumentada de um sexto a um terço, se ocorre morte do animal.
Animais são largados no interior
O enólogo Valter Marzarotto, morador de Otávio Rocha, interior de Flores da Cunha, conta que nas proximidades de onde mora o abandono de animais é uma triste realidade. O caso mais recente ocorreu no final de dezembro, quando um cachorro e dois gatos morreram atropelados depois de serem largados na estrada que liga as comunidades de São Gotardo a Otávio Rocha.
— Aquele dia foi a gota d'água. Toda hora aparecem animais abandonados. Adotei um cachorro e um gato que foram largados ali. Achamos que é gente que vai para a praia, não tem o que fazer com o bichinho e larga na estrada — comenta Marzarotto.
Segundo o enólogo, o abandono de cães e gatos é mais comum no período do verão, geralmente antes das férias.
— Eles ficam vagando pela estrada e morrem atropelados. Chamamos a entidade daqui que cuida dos animais, mas às vezes não dá tempo — lamenta.