As circunstâncias de cada vida exterminada pelo tráfico de drogas em Garibaldi repetem a cartilha da violência: eliminar a concorrência, informantes da polícia e viciados em dívida da pior forma possível. A perícia confirmou que um homem executado no ano passado foi queimado vivo. Antes de ter o corpo carbonizado, uma mulher recebeu várias facadas na barriga para sofrer bastante, conforme apurou a polícia. A movimentação dos grupos ganhou evidência no ano passado, quando as prisões aumentaram e os assassinatos também: quatro mortes relacionadas ao tráfico em 2017 e outras quatro neste ano, segundo a Polícia Civil. Uma nona morte ocorreu em Farroupilha, mas teria sido cometida em Garibaldi e o corpo desovado na cidade vizinha. De todos os casos, apenas um está resolvido.
— São muitos assassinatos. Teve anos que passamos sem nenhum homicídio — recorda o delegado da cidade, Clóvis Rodrigues de Souza.
O policial acha equivocado apontar o bairro Fenachamp como o centro do tráfico na cidade. As investigações da Delegacia de Polícia (DP) apontam que a comercialização de drogas está disseminada em vários pontos da cidade, a exemplo do bairro Bela Vista I, onde pichações ostentam a relação com uma facção. Os rabiscos foram apagados pela polícia em fevereiro e ressurgiram um dia depois.
Num ponto na Rua Timbauva, atuações por tráfico sempre envolveram moradores de outras cidades, mais uma indicação da influência das quadrilhas de fora. Uma casa referência para usuários de drogas acabou sendo queimada em junho, supostamente pelos rivais, após a sequência de flagrantes da polícia. A extinção daquele ponto ajudaria a direcionar a clientela para outros locais da cidade.
MORTES RELACIONADAS AO TRÁFICO
Em 2017
:: Na onda de execuções relacionados ao tráfico de drogas em Garibaldi, Jeisson Zago, 24 anos, teria sido o primeiro alvo. Três tiros na cabeça e fim. O corpo foi deixado na BR-470, em Garibaldi, na noite de 14 de maio. Jeisson tinha passagens por furto, roubo e tráfico de drogas. A polícia não sabe quem matou Evandro Cristóvão Silva Paz, 26, mas tem certeza que ele foi queimado vivo, segundo laudo da perícia. O corpo em adiantado estado de decomposição foi achado numa estrada de chão no acesso à Linha São Miguel, na manhã de 4 julho. Ele também tinha perfurações de tiros na cabeça e teve os pés e as mãos amarrados. Para o delegado Clóvis, uma possível dívida com o tráfico pode ter motivado o crime.
:: Graziela Louzada Bandeira, 21, era conhecida dos assistentes sociais e da polícia de Garibaldi. Recebia conselhos, mas não conseguia se afastar do vício em drogas. Na noite em que Jeisson foi assassinado, Graziela estava por perto e teria testemunhado o crime. Graziela também era próxima de Evandro, morto poucos dias depois de Jeisson. Contudo, ela evitava repassar qualquer informação à polícia. Na manhã de 30 de julho, populares viram um corpo carbonizado na localidade de Desvio Blauth, em Farroupilha. Era Graziela. A perícia identificou múltiplos ferimentos de faca no peito e na barriga da jovem. Não se sabe quem cometeu a atrocidade.
:: Noite de 21 de outubro. Sandro Ferreira Souza, 33 anos, e Gilmar Marques Pereira, 26, conversavam numa rua do bairro Três Lagoas, zona rural de Garibaldi e não prestaram atenção aos ocupantes de uma moto. Um dos motociclistas sacou uma arma e disparou várias vezes contra a dupla, que não teve como reagir. Souza teria sido morto por estar na companhia de Pereira, com passagens por tráfico de drogas e que seria o alvo da execução.
Em 2018
:: Moradores de Garibaldi, Rodinei da Silva, 37 anos, e Renan Carlos Davis Fonseca, 22, eram amigos. No dia 1º de fevereiro, Rodinei foi achado carbonizado dentro de um Kadett, às margens de uma estrada no Fenachamp. Renan tornou-se o principal suspeito do crime e passou a circular por Garibaldi sempre com um colete à prova de balas. Dez dias depois da morte de Rodinei, o corpo de Renan apareceu às margens de outra estrada, também no Fenachamp. O Fusca dele havia sido incendiado nas proximidades. Para o delegado Clóvis de Souza, as duas mortes estão relacionadas ao tráfico. Os dois amigos vendiam drogas num ponto de Carlos Barbosa, segundo apurou a investigação, e se desentenderam. Não está claro por que Rodinei morreu, mas o assassino de Renan já foi identificado.
:: Na noite de 30 de abril, Eric Einecke Soares, 18, estava na Rua Timbaúva, no bairro Bela Vista I, quando ocupantes de uma moto atiraram contra ele. Eric tentou fugir e entrou dentro de casa, mas foi perseguido e baleado seis vezes dentro do banheiro. A hipótese é de que ele devia dinheiro a traficantes. Caso ainda insolúvel.
:: Rafael Dupont, 32, vivia a rotina típica de um usuário de drogas: furtava para poder manter o vício, foi preso em algumas ocasiões e voltava às ruas. No início da madrugada de 21 de julho, populares encontraram o corpo dele no acostamento da RSC-453, no bairro Bela Vista II. Nas costas, sinais de facadas. A investigação não chegou ao autor do crime.