A partir desta terça-feira, o coronel Ricardo Fraga Cardoso será, oficialmente, o responsável pela Brigada Militar (BM) na Serra. Ele assumirá o Comando Regional de Policiamento Ostensivo (CRPO) em substituição ao coronel Rogério Maciel da Silva, que irá para a reserva. A solenidade de passagem está marcada para as 17h, no 12º Batalhão de Polícia Militar (12º BPM).
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Nascido em Porto Alegre, o oficial Cardoso integrou a Brigada Militar em 1986. Ele iniciou sua atuação em São Luiz Gonzaga, na região das Missões, mas teve a carreira marcada pelo trabalho no Litoral Norte. Entre os diversos cargos exercidos, Cardoso comandou o Pelotão Rodoviário de Tramandaí, o Corpo de Bombeiros de Torres e foi subdiretor na Penitenciária Modulada de Osório.
Quando promovido a coronel, Cardoso assumiu o Departamento de Ensino da BM em Porto Alegre. Sua última experiência foi no comando no CRPO Litoral Norte, onde liderava a Operação Golfinho.
— É uma carreira longa e tentamos, dentro da nossa experiência, trazer uma motivação e agregar ao trabalho dos demais órgãos da Serra — diz.
Confira a entrevista que ele concedeu ao Pioneiro:
Pioneiro: Quais são os desafios no trabalho da Brigada Militar na Serra?
Ricardo Fraga Cardoso: O desafio é reduzir os índices de criminalidade. Esse é o nosso trabalho. O papel do comandante é bastante importante na motivação de seu efetivo. Policiais motivados, com sua autoestima elevada, com certeza prestarão um serviço melhor, com qualificação, para toda a comunidade. Nós temos uma deficiência de efetivo, mas essa dificuldade não vai impedir a nossa dedicação.
O efetivo é uma preocupação de todos. Como o senhor vê essa questão e como vai trabalhar para tentar combater a defasagem?
Eu venho de uma região onde também há essa defasagem, em torno de 50%. Estamos a todo momento reunidos com o comando para que a gente consiga reverter esse quadro. Estamos pleiteando para completar e melhorar o efetivo para que se possa dar uma resposta melhor ainda para a comunidade. Estamos também verificando a situação de meios materiais e viaturas. A nossa frota é bastante diferenciada. Por ser uma região mais turística, também temos que ter o efetivo para os grandes eventos que ocorrem na região.
Historicamente, a Serra tem os roubos a banco e a carro-forte. Recentemente, houve dois (Ibiraiaras e São Valentim). Diante disso, como está o policiamento em cidades menores e como combater esse tipo de crime?
Temos intensificado e fortalecido o serviço de inteligência para que a gente possa se antecipar nessas ações criminosas. Temos dado também uma atenção a esse tipo de crime (roubo a banco), porque tem muita repercussão negativa na cidade e nas pessoas que passam por isso. Participamos semanalmente em Porto Alegre de uma reunião onde são traçadas metas e planos, priorizando esses municípios onde há menos habitantes e menos agências bancárias. Em cima desse mapeamento, temos direcionado e realocados os recursos humanos e materiais. Mas sabemos que agindo em determinado local, o criminoso vai para outro. É brincar de rato e gato. Por isso, a atividade policial é dinâmica.
De que forma a sua experiência na Operação Golfinho pode auxiliar no combate a esses criminosos que vêm de fora da Serra?
No Litoral, de março a dezembro, é uma realidade. Depois, do início de dezembro até o fim de fevereiro, são 3 milhões de pessoas que procuram os 25 municípios litorâneos. O criminoso migra. Ele vai "trabalhar" onde tem maior poder aquisitivo. Em cima disso, volto a citar o serviço de inteligência, a antecipação destas situações criminosas. Vamos trazer o BOE (Batalhão de Operações Especiais) para operações relâmpago, em dias e locais alternados, porque a operação não pode ser estática. Vamos fazer barreiras, ações repreensivas, para que a gente consiga reduzir os índices de criminalidade. E a comunidade tem que nos ajudar. Não pode informar onde tem barreira, porque é um desserviço e acaba avisando o criminoso. O bandido que estiver com arma ou droga no veículo, por exemplo, não vai mais passar naquele ponto. Temos que ter consciência que todos nós, pessoas de bem, temos que nos ajudar, dar as mãos.
O senhor comentou a vinda do BOE para operações relâmpago. A Serra não merece um Batalhão de Operações Especiais? É algo discutido pela Brigada?
Esse assunto ainda não foi levantado. A vinda do BOE é uma complementação aos trabalhos que são executados em Caxias. Mas pela importância da região, com certeza, a criação de um Batalhão de Operações Especiais será estudada e analisada. Ainda é prematuro, mas, num futuro bem próximo, vamos ver o que se pode melhorar.
Sobre esse momento que o país vive, onde o ódio da população ganhou muita evidência, com as frases como "bandido bom é bandido morto". É um debate que está em alta. Como trabalhar isso com a tropa?
Esse sentimento que flui nas veias da comunidade não pode afetar o trabalho do policial militar. Por isso que há uma formação, que envolve exames psicotécnicos, para que se tenha um equilíbrio na hora de exercer o nosso papel e não se cometa nenhum excesso. O nosso trabalho está limitado ao que a legislação prevê e não cabe ao brigadiano julgar. Para isso que existem os poderes devidamente constituídos.
Como a Brigada trata a chegada das facções à Serra e, principalmente, às cidades menores?
É um trabalho de integração, principalmente com a Polícia Civil. É um relacionamento que tem que estar cada vez mais estreito. Outro ponto que já citei é o serviço de inteligência. Muitas vezes uma informação tem que ser trabalhada, às vezes dois ou três meses. É uma rede muito grande para que nós possamos agir e pegar as pessoas certas. Sabemos das movimentações das facções e as estamos mapeando.