A preocupação entre produtores rurais é crescente no Rio Grande do Sul e também causa prejuízos na Serra. Além das mudanças de consumo em razão da pandemia de coronavírus, que afeta as vendas, a produção sofre com a estiagem. Os efeitos da seca devem alterar a disponibilidade de produtos e, consequentemente, elevar preços nas próximas semanas. As duas vertentes de prejuízos formam um cenário preocupante para o setor.
No Ceasa Serra, que tem sede em Caxias do Sul, o primeiro trimestre foi positivo, com um acréscimo de comercialização entre 10% e 15%. Contudo, o mês de abril já desenha uma queda.
— Ainda não temos os números, mas está claro um decréscimo na comercialização e no consumo dos produtos. É a redução de movimentação do comprador no mercado, natural pelo fechamento de hotéis, restaurantes e outros tantos varejistas — aponta o gerente operacional Marcelo Nunes.
Os mercados foram os responsáveis por manter a comercialização dos hortifrutigranjeiros. Assim, neste início de pandemia, a Serra ainda não teve produtores sem demanda de consumo. O temor é com os produtores de foliosas. Com mais pessoas em casa fazendo a própria refeição, os hábitos alimentares foram alterados.
— O grande comprador, que é o atacadista, permanece em um fluxo de compras equiparado ao que acontecia antes. O que diminuiu de consumo são as pessoas dando preferência a alimentos essenciais. Principalmente, as verduras (caíram). Muitos optam pelo arroz, feijão, ovos, batata e outros com mais substâncias nutritivas.
Cogitada durante as primeiras medidas contra a pandemia, a falta de produtos está descartada. Durante as negociações desta semana, o estoque se mostrava cheio e, os produtos, com a qualidade tradicional. Produtores e compradores utilizavam máscaras e evitavam cumprimentos.
— A oferta está boa e tem todos os produtos. Acho que a diminuição das pessoas está fazendo até sobrar mercadoria. Os preços continuam os mesmos, não vi muita mudança desde que comecei a vir. Antes, meus pais é que faziam as compras. Mas como eles estão no grupo de risco, assumi a tarefa — conta Kaila Grisa, 35 anos, que mantém o mercado da família em Flores da Cunha.
Estiagem eleva preços da batata e das frutas
A preocupação causada pela pandemia seriam as restrições nas importações, que ajudam a manter os preços quando a produção nacional está na entressafra. Sobre março, o gerente Marcelo Nunes relata que não houve oscilações expressivas. Os números de abril já devem apresentar alguns aumentos para o consumidor. Mas, a preocupação é maior com os efeitos da seca no Rio Grande do Sul. A batata branca é um dos alimentos que está em processo de encarecimento.
— Já há uma valorização expressiva, de 30% a 35%, em função da estiagem. A banana caturra também está com produção baixa e a cotação deve aumentar. As frutíferas, como goiaba e caqui, também estão sofrendo com a estiagem e vão estar com valor elevado porque a oferta será pequena. Basicamente, são os produtos que estão sendo cultivados neste momento e vão ter diminuição de oferta em razão dos prejuízos na lavoura — aponta.
Nesta semana, o alho era o produto mais valorizado. A produção nacional está em período de entressafra e as importações da Argentina não estão acontecendo em função da quarentena. Sem esta regularização pela entrada do produto importado, a cotação disparou e chegou a R$ 23 por quilo no Ceasa da Serra. Na primeira semana de janeiro, o preço era de R$ 12 o quilo. Em 24 de março, a cotação era de R$ 18.
A valorização no alho era o motivo de sorriso para a produtora Ivete Simionato, 54 anos, e o filho Diego, 23. A preocupação era com outros produtos, como o tomate.
— Os mercados aumentaram as vendas, então compensa os restaurantes que estão fechados. Mas, diminuíram as vendas. A saída depende do dia do mês, do clima, se vem produtos de outros estados... Então, acho que, para nós, não mudou muito — analisa a produtora.
A oscilação de produtos também chamou atenção de Adelio Weber, 75, produtor de hortaliças em Vila Cristina. Mesmo fazendo parte do grupo de risco, o idoso foi vender no pavilhão da Ceasa na terça-feira.
— Estou me cuidando, mas as contas vem para pagar, né? Só que o movimento está meio fraco. Além da pouca produção, ainda sobram produtos. O repolho estava saindo bem, mas nas últimas semanas travou. Já a beterraba, vendi tudo. São épocas, faz parte — comenta.