Poucas cenas da vida colonial se equiparam em beleza e ternura a uma senhora tecendo cestos e chapéus com palhas de trigo envoltas por seus dedos ágeis. Sentadas com ar impassível, é como se não percebessem o tempo passar ou desenvolvessem até mesmo o poder de frear ou acelerar o tempo, conforme o ritmo do seu trançar. No pavilhão reservado aos artesãos da 32ª Festa da Uva, Marinês Benatti, 64, prende o olhar dos passantes com a habilidade ao entrelaçar as palhas até transformá-las na infinidade de peças que expõe ao seu redor.
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Para gerar sua matéria-prima, Marinês planta o próprio trigo numa propriedade de meio hectare em Monte Belo do Sul, onde vive. O processo, conta, envolve colher, cortar a planta, deixar secar ao sol, tirar as folhas e depois limpá-las para guardar. O uso da palha se dará pela espessura. As mais finas viram peças mais delicadas de decoração, enquanto as mais grossas servirão para cestos, sacolas e chapéus tão bonitos quanto resistentes. A colheita ocorre uma vez por ano, mas uma boa safra pode render palha para o ano inteiro.
— Como toda criança do interior, eu era bastante curiosa, mas não tinha muita coisa para fazer. Aprendi a fazer as tranças com a minha mãe, para ajudá-la. Mas só fui fazer minhas próprias peças para vender depois de adulta — conta a artesã.
A dedicação à dressa — nome dado à técnica de artesanato com a palha de trigo trançada — pode envolver um dia inteiro. É o tempo que leva para produzir um chapéu, exemplifica. Trabalha a maior parte do tempo sozinha, mas muitas vezes conta com a ajuda das irmãs ou de vizinhas.
— De vez em quando aparece alguma nonninha da vizinhança pra ajudar, com saudade da infância. Elas nem querem dinheiro, mas aí a gente oferece um suco pra agradecer — conta.
Esta é a primeira vez que Marinês expõe na Festa da Uva, embora boa parte do seu negócio ocorra em feiras pelo Estado. As principais, diz, são a Expointer, de Esteio, e a Expodireto, de Não-Me-Toque, para onde irá tão logo termine a festa em Caxias. São ocasiões que servem não apenas para garantir a renda, mas também tornar a sua arte mais conhecida:
— Muitas pessoas conhecem os produtos, mas não sabem como é feito. Uma vez eu fiz uma feira de hortifrutigranjeiros em Bento e a mãe chamou o filho, apontou pro trigo e falou que aquilo era arroz. Falei: "não, querida, isso não é arroz, é trigo". Ela ficou com vergonha, mas eu não podia deixar o menino aprender errado.
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