A bancada gaúcha na Câmara Federal não terá nenhum representante de Caxias do Sul e da Serra Gaúcha a partir do próximo mandato. O segundo maior colégio eleitoral do Rio Grande do Sul, o segundo polo metalmecânico do país e o segundo maior município em arrecadação de impostos do Estado ficará de fora das principais discussões do país, como as reformas políticas, tributárias e da Previdência. Os temas são propostas do próximo presidente da República, seja Fernando Haddad (PT) ou Jair Bolsonaro (PSL).
Desde o início da década de 1990, Caxias tem um ou dois candidatos eleitos com votações expressivas (veja o quadro abaixo). Na eleição de domingo (7), os partidos apresentaram 20 candidatos caxienses a deputado federal. PSB e PTC tiveram três candidatos cada. O número elevado de concorrentes diluiu a votação de candidatos com maior potencial eleitoral, como o ex-prefeito Alceu Barbosa Velho (PDT) e Mauro Pereira (MDB). Além disso, candidatos de fora de Caxias também conquistaram votos de eleitores da cidade. Os cinco deputados de fora mais votados obtiveram juntos 38.244 votos na cidade.
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Caxias do Sul fica sem representação na Câmara Federal
Para a Câmara da Indústria, Comércio e Serviços (CIC) de Caxias do Sul, a culpa é dos partidos, que não souberam avaliar o cenário eleitoral e repetiram o erro da eleição de 2014, quando a cidade ficou sem representante titular na Assembleia Legislativa.
— Infelizmente, não conseguimos eleger um deputado federal agora. Manifestamos essa preocupação no início do ano quando chamamos os partidos políticos e sugerimos que avaliassem bem as suas candidaturas, para que não tivéssemos mais candidatos do que votos capazes de elegê-los — disse Ivanir Gasparin na reunião-almoço de terça-feira (9) da CIC.
O presidente da Associação dos Municípios da Encosta Superior do Nordeste (Amesne) e prefeito de Veranópolis, Waldemar De Carli (MDB), diz que é difícil mensurar o tamanho do prejuízo com a perda da representatividade na bancada da região. De Carli afirma que as duas maiores cidades da Serra – Caxias e Bento Gonçalves – deveriam se unir para organizar seus representantes. Ele comenta que alguns deputados de outras regiões do Estado auxiliam com compromissos com a região, mas destaca que o comprometimento é menor.
— Ficou ruim. É um prejuízo imenso. Perdemos poder na bancada gaúcha para as nossas grandes demandas. Agora perderemos a distribuição das verbas de bancadas. Ficamos sem voz e perdemos quem pode reivindicar nossas demandas.
Um prejuízo imenso
1. Ausência dos debates sobre reformas da Previdência, política e tributária.
2. Menos força e articulação para a reivindicação e o encaminhamento das demandas regionais.
3. Falta de representantes diretos para conquista de verbas via emendas parlamentares ou de bancadas.
O que dizem
"Em primeiro lugar, deveria haver uma estratégia regional, de unidade partidária. Ninguém se elege só por Caxias, precisa de apoio regional. Os partidos precisam se fortalecer regionalmente e escolher candidatos que tenham amplitude e apoios em vários municípios. Outro fenômeno é a vantagem que candidatos famosos levam sobre os demais."
Antonio Feldmann (PSD), que fez 5.633 votos
"Recebo de forma humilde a opção dos caxienses que majoritariamente optaram por candidaturas de fora da cidade. No meu partido, houve mais sete candidatos que disputaram palmo a palmo cada voto comigo e isso faz parte da festa democrática. Sigo com meu foco de trabalhar em prol da minha cidade e na esperança de que, em 2020, possamos apresentar um projeto democrático e popular para Caxias."
Rodrigo Beltrão (PT), que fez 11.213 votos
"Pela receptividade nas ruas, tinha expectativa de maior número de votos se comparado à eleição de 2014. Em Caxias, fui a segunda mais votada, o que é positivo. No partido, a quarta mais votada. Mas o resultado foi insuficiente para eleger. Alguns pontos que influenciaram o resultado: a coligação com nomes fortes, políticos tradicionais. Além disso, tinha número expressivo de candidatos em Caxias, o que fez dividir ainda mais os votos."
Paula Ioris (PSDB), que fez 25.005 votos
Eleitos nas últimas eleições
1994
Paulo Paim (PT): 138.558
Germano Rigotto (MDB): 108.334
1998
Paulo Paim (PT): 213.894
Germano Rigotto (MDB): 151.260
2002
José Ivo Sartori (MDB): 98.903
2006
Pepe Vargas (PT): 124.686
Ruy Pauletti (PSDB): 57.064
2010
Pepe Vargas (PT): 120.707
Assis Melo (PCdoB): 47.141
2014
Pepe Vargas (PT): 109.469