Cerca de 25% de todas as mortes de Caxias do Sul são provocadas por câncer. O dado coloca a cidade entre os 516 municípios do Brasil (10% do total) que têm a doença como principal causa de óbito, conforme estudo do Observatório de Oncologia do movimento Todos Juntos Contra o Câncer (TJCC) e do Conselho Federal de Medicina (CFM).
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O números, compilados do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde (MS), foram divulgados nesta semana. Em 2015, ano dos últimos dados oficiais, 669 pessoas morreram de algum tipo de câncer na cidade, de um total de 2.691 óbitos. O padrão se manteve praticamente igual em 2017, conforme informado pela Secretaria Municipal da Saúde.
O Rio Grande do Sul (RS) é a unidade da federação com maior número de cidades onde o câncer é a primeira causa de morte: são 140 municípios, 25 dos quais estão no nordeste do Estado, o que inclui a Serra. Conforme os autores do estudo, a incidência da doença está diretamente relacionada ao desenvolvimento e à modernização da sociedade. A secretária da Saúde de Caxias, Deysi Piovesan, concorda:
— A gente sabe que os determinantes de saúde são multifatoriais, mas eu ressaltaria o envelhecimento da população. Câncer é doença, em geral, de pessoas mais velhas. Nossa expectativa de vida no Rio Grande do Sul é de 77,8 anos, e vem crescendo. Ou seja, há mais probabilidade de se morrer dessa doença — aponta.
Ela explica que, conforme a renda da população aumenta, a letalidade das doenças infectocontagiosas tende a diminuir, o que também aumenta a representatividade do câncer entre o número de óbitos. É necessário, ainda, considerar as características genéticas da população. No RS, por exemplo, há propensão maior ao câncer de pele. Ao mesmo tempo, hábitos contemporâneos aparecem como causadores diretos do câncer.
— Há a questão da urbanização e dos hábitos de vida. É a comida que já não é tão natural, mas industrializada, a questão do cigarro, do álcool, o estresse. Há pessoas que levantam também a questão da poluição, dos agrotóxicos. Não temos nenhuma pesquisa local que aponte todos os fatores mas, em princípio, esses são os que a gente sabe que estão relacionados ao aumento da incidência — enumera a secretária.
A divulgação dos dados é vista pelos autores do estudo como forma de alerta para a criação de políticas públicas de prevenção e melhora no atendimento aos pacientes no Sistema Público de Saúde (SUS), já que eles relacionam o crescimento da mortalidade por câncer também às dificuldades de acesso ao diagnóstico e ao tratamento da doença.
Em Caxias, porém, a situação é oposta, conforme a secretária Deysi Piovesan. De acordo com ela, se comparada a outras regiões do Estado, a estrutura de combate ao câncer no município pode ser considerada exemplar.
— Em Caxias, nós temos uma agilidade muito grande. Uma vez feito o diagnóstico, não há lista de espera para iniciar o tratamento, seja ele cirúrgico, quimioterapia ou radioterapia. Nós temos dois serviços especializados no Hospital Geral e no Pompéia, monitoramos muito para que haja presteza no início do tratamento. Não existe demora — garante.
Mesmo com a alta incidência de casos de câncer, as doenças do aparelho circulatório (AVC e infarto, por exemplo) ainda são as principais causas de morte na maioria das cidades do Brasil.
A DOENÇA EM NÚMEROS
:: O câncer é a principal causa de morte em 516 municípios, ou 10% das cidades do Brasil.
:: A maior parte dos municípios está em regiões mais desenvolvidas, onde a expectativa de vida e o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) são maiores. Oitenta por cento ficam nas regiões Sul (275) e Sudeste (140).
:: Esses municípios concentram uma população total de 6,6 milhões de habitantes.
:: Onze municípios são considerados de grande porte, sendo Caxias do Sul o mais populoso. Outros 27 são de médio porte (com população entre 25 mil e 100 mil) e a maioria (478) está situada na faixa de pequenos municípios, com menos de 25 mil habitantes.
:: O Rio Grande do Sul é o Estado com o maior número de municípios (140) onde o câncer é a primeira causa de morte.
:: Vinte e cinco dessas cidades estão na região nordeste do Estado, o que inclui a Serra.
:: Enquanto em todo o país as mortes por câncer representam 16,6% do total de óbitos, no território gaúcho o índice chega a 33,6%.
:: No restante do Brasil, as complicações no aparelho circulatório, especialmente o Acidente Vascular Cerebral (AVC) e o infarto agudo do miocárdio ainda são responsáveis pela maior parte dos óbitos. Em geral, são doenças associadas à má alimentação, ao consumo excessivo de álcool, ao tabagismo e ao sedentarismo.
:: O número de mortes por câncer, porém, aumentou 90% em 2015 com relação a 1998 no país. No mesmo período, houve alta de 36% entre as vítimas de doenças cardiovasculares. Ou seja, o crescimento das mortes por câncer foi quase três vezes mais rápido.