Qual é o segredo de um município gaúcho com quase 40 mil habitantes ter apenas três carros roubados por ano? De acordo com as lideranças policiais de Canela, na região das Hortênsias, o principal é conhecer a comunidade e estar atento à chegada de novos criminosos. Esses dois fatores fazem parte do combate ao tráfico de drogas, apontado como um trampolim para crimes mais graves.
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A posição geográfica, afastada de metrópoles, e a característica turística de Canela auxiliam no engajamento pela segurança pública. Os moradores e policiais sabem que manter a cidade segura é essencial para atrair visitantes e manter a sobrevivência financeira da cidade. A atuação conjunta segue a doutrina do policiamento comunitário.
— Nossos policiais são vinculados à comunidade e entendem a importância do turismo, porque seus familiares também dependem do setor. O bandido que chega com más intenções encontra uma cidade com um policiamento preparado e uma comunidade atenta, que denuncia a movimentação de desconhecidos e participa de ações preventivas — explica a capitã Francieli Ronsoni, do 1º Batalhão de Policiamento de Áreas Turísticas (1º BPAT).
No entendimento da Brigada Militar (BM), estes foram os principais motivos para as 800 prisões realizadas no ano passado. Para comparar, em Caxias do Sul, que tem população 12 vezes maior, foram 2.941 prisões no mesmo período.
Entre os motivos dos flagrantes, destacam-se a captura de foragidos (foram 129) e pessoas detidas por posse de entorpecente (97). Estes números são resultado, principalmente, de barreiras de trânsito realizadas e do monitoramento de criminosos contumazes.
— É o nosso trabalho cotidiano: mais de 21 mil pessoas foram abordadas e 12 mil veículos fiscalizados em Canela no ano passado. Estimulamos nosso efetivo para estar cada vez mais presentes nas ruas. É muito importante que a BM esteja próxima da população — ressalta a oficial.
R$ 160 mil em doações
O comprometimento com a segurança pública também é destacado pelo chefe da Polícia Civil de Canela, delegado Vladimir Medeiros. Ele lembra que em 2015, a delegacia recebeu mais de R$ 160 mil em doações. O recurso, segundo o delegado Medeiros, foi doado por dois grupos de moradores da cidade e pelo Poder Judiciário.
— Foi um apoio muito importante. Compramos de cortina a fuzis, sem exagero. O prédio, que hoje é adequado para as atividades de investigação, não tinha uma manutenção adequada desde a década de 1970, quando construído. Fizemos reformas elétrica e hidráulica, pinturas, trocamos os móveis e compramos novos computadores e impressoras — enumera o delegado.
A estrutura favorável é correspondida em resultados. De acordo com Medeiros, todos os assassinatos registrados nos últimos quatro anos estão esclarecidos. A única investigação em andamento é de um crime mais recente, ocorrido no final de semana passado — quando um rapaz de 20 anos foi sequestrado no bairro Vila Mina e executado a tiros.
Enquanto trabalho policial continua focado no controle do tráfico de drogas, que aparece como pano de fundo da maioria dos homicídios, a população está preocupada com a redução do efetivo policial na cidade. No ano passado, uma comitiva de Canela foi até a Secretaria Estadual de Segurança Pública para pedir providências. A reclamação é que, por vezes, há apenas uma guarnição (uma viatura com dois policiais) para atender o município durante a noite.
— Aos poucos, parece que a criminalidade está piorando justamente pela falta de efetivo. A comunidade busca ajudar com a estrutura, mas quanto aos recursos humanos não temos o que fazer. Se a situação continua controlada, o mérito é dos nossos policiais — aponta João Luiz Richa, que participou da reunião e é vice-presidente da Associação de Moradores do bairro Vila Suzana.
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