A previsão de que a violência em Caxias do Sul em 2017 seria ainda pior do que o 2016, ano histórico com 150 assassinatos, está se confirmando. Já são 17 mortes violentas em 37 dias. Janeiro, por exemplo, foi o período com mais vítimas desde 2000 – 14 casos. Fevereiro, com três casos até segunda-feira, mantém a média de uma morte a cada dois dias. No ano passado, o 17º assassinato só foi registrado em 25 de fevereiro.
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Outro dado que chama atenção são as motivações. Em janeiro de 2016, a maioria dos assassinatos estava relacionada a desacertos entre criminosos. Neste ano, além de execuções de pessoas com passagens na polícia, já ocorreram feminicídios, latrocínio e mortes por discussões banais, um indicativo de que a violência continua disseminada, como indicavam autoridades policiais.
Os números de mortes estão semelhantes ao segundo semestre do ano passado – que teve média de 15 assassinatos por mês, com pico recordes em agosto (18 mortes) e outubro (25 mortes). Para o delegado Rodrigo Kegler Duarte, os registros só confirmam o que era previsto.
– O prognóstico já era esse: 2017 será pior que o do ano passado. Não há um fato novo. Estamos trabalhando, mas está claro que somente a ação da polícia judiciária não será suficiente para diminuir os índices criminais – lamenta.
Titular da Secretaria Municipal de Segurança Pública desde o início do ano, José Francisco Mallmann admite que o número é o preocupante. O secretário ressalta o número de execuções relacionadas ao tráfico de drogas e à vida criminosa, um tipo de difícil de inibir.
– O que mais nos preocupa é o latrocínio, que ocorreu apenas um (do sargento da BM Edir Welter). Não tem como a segurança pública intervir numa execução, por exemplo. Estes acertos de conta irão ocorrer em algum momento ou outro. O que podemos fazer é combater o tráfico de drogas, que motiva tantas mortes. O primeiro passo foi dado hoje (segunda-feira).
O secretário se refere à Operação Cerca Viva, que realizará barreiras em pontos e horários alternados da cidade. Ontem, a equipe monitorava e abordava veículos na Rota do Sol, no acesso ao Pavilhões da Festa da Uva. A intenção é inibir a entrada de entorpecentes e de armas.
– Caxias do Sul não é uma produtora de drogas. Este material, então, entra pelas rodovias ou via aérea. Iremos atuar nesta prevenção sumária. Aos poucos, iremos estancar a entrada de drogas – avalia Mallmann.
O passo seguinte da secretaria é a criação de uma diretoria de inteligência que, de acordo com o titular da pasta, terá como foco proteger a vida, ou seja, combater homicídios e latrocínios, crimes que quase sempre têm origem no tráfico de drogas.
VÍTIMAS EM 2017
Em janeiro de 2016, boa parte das mortes estava relacionada a desavença entre bandidos. Neste início de ano, as motivações são variadas.
Homicídios de pessoas com passagens na polícia
:: Paulo Sergio Palhano, 46, foi executado no Euzébio Beltrão de Queiróz. Tinha antecedentes por roubo e receptação.
:: Andrigo Gabriel de Melo, 29,foi retirado de um carro e assassinado no São Victor Cohab. Tinha sete indiciamentos por homicídios consumados e tentados desde 2012.
:: Um corpo envolto em um saco plástico e amarrado com pedras foi encontrado em um rio no interior de Fazenda Souza. O homem foi morto com um tiro na cabeça.
:: Clairton Maciel, 36, foi baleado no bairro Euzébio Beltrão de Queiróz, Maciel. Ele era detento do regime semiaberto e monitorado por tornozeleira eletrônica.
:: Luis Fernando Pereira de Cândido, 28, foi executado com pelo menos cinco tiros no Mariani. Tinha antecedentes por lesão corporal, ameaça e furto qualificado.
:: Michael Biano, 34, foi assassinado no loteamento Glória. Ele era usuário de drogas e cometia furtos para sustentar o vício.
:: Felipe Fortunato de Oliveira, 26, vítima de um duplo homicídio próximo aos trilhos no Charqueadas, era suspeito de um homicídio em 2012.
:: Leandro Daniel da Silva, 24, vítima de um duplo homicídio próximo aos trilhos no Charqueadas, carregava um alvará de soltura.
Brigas
:: Guilherme Yuri Padilha, 19, foi esfaqueado durante discussão entre dois grupos de jovens no Largo da Estação Férrea. O crime motivou uma operação permanente na área de lazer.
:: Flávio Duarte Lopes, 41, foi chamado do lado de fora da sua casa, no Presidente Vargas, e assassinado com um tiro na cabeça.
Motivação desconhecida
:: Jair Pereira, 31, foi baleado em frente a um bar na Rua Leoclides Pereira Dias, no Mariani.
:: Paulo Sérgio Pereira, 47, foi executado a tiros quando deixava a borracharia em que trabalhava, no São Pelegrino.
Latrocínio
:: O sargento Edir Hendges Welter, 46, foi assassinado durante uma tentativa de roubo de veículo no Pio X
Feminicídios
:: Veronica Doroteia de Oliveira, 36, foi morta a tiros em Fazenda Souza pelo marido, que se suicidou depois.
:: Gracielli Degasperi Grandi, 17, foi assassinada pelo ex-companheiro em casa, no bairro Forqueta
Confrontos com a Brigada Militar
:: Eder Martin Leite, 37,morreu durante troca de tiros no Cidade Industrial. Na época, o foragido era suspeito da morte do sargento Welter.
:: Everton Ataide dos Santos, 24, morreu em confronto no Belo Horizonte após um roubo a mercado.