Caxias do Sul segue na contramão do aumento de casos de coqueluche registrado no Brasil e no Rio Grande do Sul. De acordo com dados da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), o município não registrou casos confirmados da doença nem em 2023 nem em 2024, e mantém uma cobertura vacinal de 100% contra a infecção.
Em contraste, o Brasil tem enfrentado um aumento significativo de casos, com 3.253 registros notificados em 2024 — o maior número desde 2014. No Rio Grande do Sul, o aumento foi ainda mais expressivo, com um crescimento de cerca de 620% em relação ao ano passado.
A coqueluche é uma infecção respiratória transmissível causada pela bactéria Bordetella Pertussis. Ela se caracteriza por ataques de tosse seca e pode atacar aparelho respiratório, traqueia e brônquios. A doença tem tratamento e prevenção por meio da vacina.
Semelhança com a gripe
Conforme o médico pneumologista de Caxias do Sul Eduardo Garcia, a coqueluche é uma doença de difícil diagnóstico por se assemelhar a outras doenças respiratórias, como gripe e pneumonia.
— Os pacientes apresentam tosse e sintomas semelhantes aos de um quadro viral comum. Muitos acabam sendo tratados e melhorando com os antibióticos usados em infecções como amidalite e sinusite, o que pode mascarar o diagnóstico. O diagnóstico correto costuma ocorrer quando o quadro piora e entra na segunda fase.
Garcia explica que a coqueluche tem três fases:
- Fase inicial: com sintomas semelhantes aos de uma gripe, como tosse, mal-estar e coriza.
- Fase crônica: a tosse seca piora, tornando-se crônica e desconfortável, podendo durar de duas a seis semanas.
- Fase grave: a infecção pode comprometer os brônquios e os pulmões, resultando em problemas de saúde mais sérios, que podem levar a sequelas permanentes ou até à morte, especialmente quando associada a comorbidades, como diabetes.
Garcia enfatiza que, embora a morte por coqueluche seja raro em adultos, ele é mais comum na infância.
Vacinação obrigatória e ampliada
A vacina contra a coqueluche faz parte do calendário vacinal obrigatório na infância. Ela inclui três doses da vacina pentavalente (aos dois, quatro e seis meses) e dois reforços com a vacina tríplice bacteriana, aos 15 meses e aos quatro anos, podendo ser aplicada até os sete anos. Além disso, gestantes a partir da 20ª semana de gestação e profissionais de saúde que atendem a gestantes e recém-nascidos também devem ser imunizados.
Neste ano, devido ao aumento de casos no Brasil, o Ministério da Saúde orientou que os municípios ampliem a vacinação para profissionais da Educação Infantil, que atendem crianças com até quatro anos. Segundo Magda Beatris Teles, diretora técnica da Vigilância Epidemiológica da SMS, tanto profissionais da saúde quanto da educação devem apresentar comprovante de vínculo com a profissão.
A vacinação em Caxias do Sul ocorre em todas as Unidades Básicas de Saúde (UBSs). Conforme Magda, a cobertura vacinal em Caxias é de 100% e não há falta de doses no município.
— Essa vacina já está no calendário, as pessoas têm confiança. Tivemos uma baixa na pandemia, mas foi em todas as vacinas, agora retomamos com boa cobertura vacinal — afirma ela.
O médico Eduardo Garcia destaca que, embora a vacinação contra a coqueluche seja obrigatória na infância, os adultos podem não estar completamente imunizados, especialmente idosos. Ele sugere que os órgãos de saúde considerem a ampliação ou o reforço do calendário vacinal para adultos, uma vez que a imunização infantil não garante proteção vitalícia.
Em caso de suspeita de coqueluche, Garcia recomenda que os adultos procurem um pneumologista e que as crianças sejam avaliadas por um pediatra. Além disso, é fundamental que, ao ser diagnosticado com a doença, o paciente use máscara e evite o contato com outras pessoas para prevenir a transmissão.