"É uma vida, assim, bem dedicada ao outro". A frase dita com voz serena, enquanto servia um chá, no próprio quarto de orações, é a autoavaliação de quem chega aos 82 anos com uma vida comprometida com a educação, a espiritualidade e o desenvolvimento humano. Esses e outros marcos da trajetória da professora e escritora Lucy Ramos da Silva serão homenageados nesta quinta-feira (25), no Dia Mundial da Cultura e Paz, no Centro de Cultura Ordovás.
Caxiense de uma família ligada desde sempre ao espiritismo, se recorda que os primeiros sinais de mediunidade ocorreram aos 12 anos. Os pais, inseguros com os sintomas, buscaram a ajuda de uma amiga, de Jaquirana, que ajudou a identificar a "missão", como ela mesmo caracteriza.
— Com 14 anos eu comecei a receber espíritos em mesa mediúnica e, aos 15, a dar passes (que, na doutrina espírita, é, em resumo, uma transfusão de energias). A minha missão é servir: qualquer pessoa, em qualquer lugar, inclusive na minha casa, fazendo o que eu puder fazer de mim. Coisas materiais eu não tenho muito para dar, mas as coisas espirituais, o meu trabalho, a minha fala, o meu acolhimento, isso eu tenho — enfatiza Lucy, cuja trajetória e do irmão, Dorival Ventura Ramos, estão atreladas ao Centro Cultural Espírita Jardelino Ramos.
A capacidade de realizar as chamadas cirurgias astrais foi descoberta logo depois, aos 16 anos. Lucy relembra quando foi visitar uma prima, e o namorado dela, que era jogador de futebol, estava tratando um problema no joelho. Imediatamente sentiu que deveria ajudá-lo. O procedimento espiritual foi feito e, como conta, dias depois, o rapaz, que estava acamado, se curou do problema.
— Naquela época, o acesso aos médicos não era tão fácil e também não tinha SUS. Então, o Centro Espírita era um lugar de cura, onde as pessoas iam nos procurar — enfatiza Lucy, que seguiu com as cirurgias até o nascimento do quarto filho, aos 37 anos.
A vida voltada para a educação
Formada no magistério e no curso de Belas Artes pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), foi à frente de escolas que Lucy encontrou parte importante da vocação. A primeira experiência, aos 20 anos, foi na direção do antigo Grupo Escolar Santa Marta, que, posteriormente, deu origem à Escola Apolinário Alves dos Santos, no bairro Sagrada Família.
Embora jovem e com uma família recém-formada, Lucy diz que foi encarando os desafios propostos pela vida e pela profissão, sempre com coragem e aceitação.
— As coisas não são fáceis, todos temos dificuldades, mas a minha vida tem uma certa tranquilidade em função da aceitação dessa missão, de vir com essa mediunidade — diz.
Em uma das memórias que cultiva do período nas salas de aula está a vez que, insatisfeita com o acúmulo de barro na entrada de uma das escolas que foi diretora, fez um empréstimo bancário no próprio nome para a construção de uma calçada. O dinheiro, tempos depois, foi restituído por meio de rifas, bailes e outras atividades.
— Hoje, ainda está lá o calçamento que a dona Lucizinha fez. Porque é assim, não dá para esperar. Eu digo que é um vulcão que tem aqui dentro de mim, que não me deixa sossegar — brinca.
A própria energia que Lucy enfatiza também foi canalizada para a escrita, dando origem a títulos como Jardelino Ramos – Um homem Chamado Amor e Coleção Coração Azul (seis volumes).
A busca pelo autoconhecimento
Na década de 1990, a professora começou a se dedicar aos estudos sobre autoconhecimento, dando origem, posteriormente, ao Crear Instituto de Autoeducação, o qual existe até hoje, em um espaço voltado para estudos e meditação.
Os encontros são baseados no Programa Breve Reflexão Sobre a Educação do Homem Integral, criado por Lucy a partir da leitura do livro A educação do homem integral, de Huberto Rohden.
— Este projeto visa o nosso acordar. Porque estamos na inconsciência até determinado tempo da nossa vida, mas, quando bate o sininho dentro de nós, aquele desconforto que sentimos, está na hora da gente começar a se voltar para a gente — aconselha Lucy.
A homenagem à professora integra a programação do Dia da Cultura e da Paz, comemorado anualmente no dia 25 de julho, no Centro de Cultura Ordovás. A cerimônia inicial está marcada para as 9h.