Dores intensas que se estendiam pelo corpo todo, inchaço abdominal e incapacidade de cumprir com compromissos de trabalho tornaram-se rotina na vida da cabeleireira Cacá Weber, 38 anos, nos últimos tempos. Diagnosticada com endometriose, ela lembra o quanto teve a qualidade de vida afetada pela doença e enfatiza como o tratamento adequado, com uma cirurgia recente, tem impactado positivamente o que ela chama de "novo ciclo que está nascendo".
Sentia dores pelo corpo inteiro, nas pernas, na lombar, uma dor intensa a ponto de me incomodar com a roupa encostando na minha barriga
CACÁ WEBER
Cabeleireira
— A cada ciclo menstrual era pior. Sentia dores pelo corpo inteiro, nas pernas, na lombar, uma dor intensa a ponto de me incomodar com a roupa encostando na minha barriga. Eu sentia um pouquinho do alívio, deitada, coberta, em posições mais confortáveis. E isso tudo afetou muito a minha saúde mental. Afetou muito quem eu era no sentido de disposição e de ter ânimo para a vida. Eu sinto que fui murchando — destaca Cacá sobre o momento em que decidiu mudar o médico que a acompanhava e recebeu a recomendação para o procedimento cirúrgico realizado há menos de um mês.
O relato da cabeleireira não é uma exceção. Estima-se que uma a cada 10 mulheres sofra com a endometriose no Brasil. Uma condição cada vez mais em pauta entre a classe médica e que é tema de um simpósio realizado neste fim de semana em Caxias do Sul. O encontro, realizado no auditório do Hospital da Unimed, tem o objetivo de permitir a troca de informações entre diferentes profissionais da saúde e colocar em enfoque o que há de mais atualizado sobre a patologia.
Além disso, de forma inédita, o 3º Simpósio de Endometriose e Cirurgia Minimamente Invasiva da Serra Gaúcha, que ocorre a cada dois anos, promoverá uma cirurgia ao vivo que será transmitida para os participantes. Comandado pelo médico Ricardo Pereira, o procedimento contará com a apresentação, estudo do caso e a análise dos exames de imagem da paciente, sendo mediado e comentado aos inscritos pelos médicos da comissão.
— Precisamos chamar a atenção para esta doença que atinge 180 milhões de mulheres no mundo inteiro e trazer para Caxias do Sul profissionais de renomada expertise, seja no ponto de vista diagnóstico, clínico ou cirúrgico — salienta o ginecologista e mastologista Paulo Cará, um dos médicos à frente do simpósio.
Profissionais e estudantes interessados em participar, podem se inscrever na hora, mediante pagamento. Neste sábado, o evento começa às 8h. Informações podem ser solicitadas no WhatsApp (54) 9965-1080.
Sintomas, diagnóstico e tratamento: entenda mais sobre a endometriose
A endometriose, segundo o Ministério da Saúde, é uma modificação no funcionamento normal do organismo. As células do tecido que reveste o útero (endométrio), em vez de serem expulsas durante a menstruação, se movimentam no sentido oposto e caem nos ovários ou na cavidade abdominal, onde voltam a multiplicar-se e a sangrar.
Dados da Sociedade Brasileira de Endometriose indicam que 57% das pacientes com endometriose têm dores crônicas e mais de 30% dos casos levam à infertilidade. Outros sintomas são dor durante as relações sexuais; sangramento ao urinar e evacuar; fadiga e diarreia. Os sinais podem ser percebidos desde a primeira menstruação.
A doença é conhecida por impactar fortemente a qualidade de vida das pacientes. O médico caxiense Paulo Cará enfatiza que estudos recentes indicam que as mulheres chegam a perder de 14 a 26 dias por ano de trabalho em função das dores que sentem todo mês. Ele também aponta para um retardo no diagnóstico, que pode variar de oito a 12 anos, da primeira queixa ao reconhecimento do quadro:
Precisamos encurtar o tempo de diagnóstico. (avaliar melhor) aquela paciente que tem dor
PAULO CARÁ
Médico
— Precisamos encurtar esse tempo de diagnóstico. (avaliar melhor) aquela paciente que tem dor, que passa por profissionais que a mandam tomar pílula, analgésico e continua com dor. Essa mulher precisa ser investigada para que possamos tratá-la de forma adequada — opina Cará.
O diagnóstico, segundo o médico, leva em consideração o histórico da paciente, bem como as queixas de dor e a infertilidade. Exames ginecológicos e de imagem também contribuem para o rastreamento da doença. O tratamento, por sua vez, tende a envolver uma equipe multidisciplinar, com ginecologista, coloproctologista, psicólogo, nutricionista e fisioterapeuta. Os graus mais severos podem ter a necessidade de procedimento cirúrgico.
Ainda conforme o médico, com o tratamento, algumas das mulheres podem engravidar naturalmente e outros casos, entretanto, podem exigir a necessidade de técnicas de reprodução assistida.