Sempre que uma pessoa com deficiência (PCD) chegar na Festa da Uva, ela será convidada a responder um questionário organizado pela Coordenadoria de Acessibilidade. Uma ação simples e rápida, mas que tem ajudado a melhorar a inclusão de todas as pessoas nas atividades organizadas pelo evento, que completa uma semana de portões abertos ao público nesta sexta-feira (23) em Caxias do Sul.
O questionário é aplicado desde a celebração de 2019 e tem servido como norteador das iniciativas de inclusão dentro do parque. Na última Festa da Uva, em 2022, cerca de 700 PCDs responderam ao formulário. De acordo com a assistente social da Coordenadoria de Acessibilidade, Lucélia Amaral Gomes, o mapeamento revelou que pessoas surdas fizeram parte do segundo grupo de PCDs que mais visitou os Pavilhões.
Por isso, neste ano, foi ampliada a presença de intérpretes da Língua Brasileira de Sinais (Libras) nos desfiles, nos shows nacionais, nos palcos com apresentações e no Som & Luz. Para o grupo que mais visitou a edição passada, as pessoas com deficiência física, há o empréstimo de cadeiras de rodas, um serviço gratuito e localizado na entrada do parque. Mais de 60 visitantes utilizaram o equipamento neste ano para fazer o passeio.
— Pessoas com deficiência não pagam para entrar na Festa da Uva e precisam se sentir pertencentes ao evento. O questionário é fundamental para que possamos pensar que iniciativas podemos fazer para tornar o parque mais acessível, seja ela arquitetônica, comunicacional, atitudinal. Todos esses dados são repassados para a organização, que pode pensar em como fazer do ambiente mais preparado — contou.
Até o momento, 270 PCDs responderam ao questionário nesta edição. Lucélia afirma que, durante uma avaliação parcial, se identificou o aumento na presença de pessoas com transtorno do espectro autista (TEA), o que indica que o evento em 2026 deverá ampliar as ações para melhor receber esse público.
— O desafio para os próximos anos será manter o investimento em intérpretes de Libras, mas que se dediquem em outras acessibilidades também. É pensar as necessidades de cada um, para que todos se sintam bem-vindos, pertencentes à festa e que saiba que esse é um espaço que a pessoa com deficiência pode ocupar — disse a coordenadora.
Para pessoas com deficiência visual, a Festa da Uva organizou duas visitas guiadas, realizadas em parceria com o Instituto da Audiovisão (Inav), sendo que uma delas está programada para esta sexta-feira (23), às 18h30min, e a outra no dia 1º de março. Inscrições podem ser feitas pelo telefone (54) 98418-5794. A instalação de piso tátil foi realizada na parte externa do parque, mas não há esse tipo de pavimento na área interna, uma vez que o espaço é volátil, ou seja, adaptado conforme o evento.
Ao todo, a Festa da Uva disponibilizou 1,5 mil ingressos gratuitos para PCDs. Os bilhetes podem ser retirados em uma bilheteria específica e identificada na entrada dos Pavilhões. O acompanhante também tem direito à cortesia e não é necessário fazer reserva.
Dentro do parque, pela primeira vez na Festa da Uva, a Associação de Pais e Amigos dos Deficientes Visuais de Caxias do Sul (Apadev) levou um túnel sensorial para o parque. O objetivo é mostrar ao público os desafios enfrentados pelas pessoas cegas.
A experiência começa com o visitante colocando um óculos que o deixa sem visão. Dentro do túnel, em uma distância de oito metros, ele precisa driblar obstáculos que simulam o choque em galhos, objetos e outros desafios no dia a dia da pessoa com deficiência.
Acessibilidade é testada e avaliada
Para incentivar a autonomia e inserção das pessoas com deficiência na sociedade, profissionais do Centro Clínico (Ceclin), da Universidade de Caxias do Sul (UCS), levaram nove pacientes com algum tipo de deficiência para visitar os Pavilhões na tarde de quinta-feira (22).
A instituição atua na reabilitação interdisciplinar dos pacientes, independente da patologia. O local atende pessoas com acidente vascular encefálico, amputação de membro inferior e com pós-lesão medular, entre outros.
— Pacientes em tratamento, no pós-lesão, acabam perdendo o convívio na sociedade e, por isso, aproveitamos um dos maiores eventos que a cidade tem, que é a Festa da Uva, para que eles curtam — contou a fisioterapeuta do Ceclin Thais Andréia Schepa.
A única sugestão dela é na escada rolante no Centro de Eventos. O degrau não prendeu a roda de uma cadeira utilizada pelo grupo (uma própria e outra emprestada pela Festa da Uva), exigindo que uma pessoa andante segurasse a equipamento.
Um ano após um acidente de moto que provocou a amputação de uma das pernas, o músico Leonardo Mello Bernardini, 25 anos, fez parte do grupo que visitou os Pavilhões usando muletas. Ele testou a utilização de uma prótese, mas ainda não se adaptou. Mesmo assim, saiu para conhecer a Festa da Uva.
— Achei acessível para passear, fomos bem recebidos. Sou acostumado a descer em escada rolante, por exemplo. É um membro que a gente perde, mas não podemos baixar a cabeça. Tudo na vida tem um propósito — contou.
Quem também elogiou a acessibilidade no parque foi Antônio de Oliveira, 72 anos. De cadeira de rodas após perder uma das pernas devido ao tabagismo, ele esteve no festividade pela primeira vez.
— Achei tudo bem bom, não tive nenhuma dificuldade, o pessoal nos ajuda. Frequentar esses espaços ajuda a dar mais ânimo — avaliou.
Espaço para PCDs nos shows será melhorado
Nos shows nacionais, pessoas com deficiência ficam em uma área reservada próximo ao palco e pagam meia-entrada para o setor de arena, além de meia-entrada também para acompanhante. No último sábado (17), durante apresentação da cantora Ana Castela, houve reclamações sobre a falta de acessibilidade no espaço destinado aos PCDs.
A AM9 Produções, responsável pelos shows, informou que identificou uma invasão de pessoas que não eram PCDs e nem acompanhantes na área destinada para esse público. Por isso, pessoas nas cadeiras de rodas tiveram a visão prejudicada devido ao grande número de pessoas no local.
A empresa informou ainda que, para os próximos shows, haverá maior atenção para esse setor, com ajuste nas grades para evitar prejuízos na acessibilidade do espaço.