"Eu nunca vi uma coisa tão horrível". Era uma tarde de quarta-feira (3) de chuva normal para a aposentada Nilva Meneguzzo, 56 anos, moradora da Rua Aloísio Antunes, no bairro Serrano, em Caxias do Sul. Nilva estava deitada, no quarto, quando notou que o vento estava mais forte do que o normal. Ela resolveu abrir a porta de casa para ver a rua, quando a chuva de pedra invadiu o interior da residência, momento em que ela relata ter sido como uma avalanche.
O imóvel, com dois quartos, um banheiro e sala com cozinha conjugada ficou totalmente tomado pelas pedras. Segundo Nilva, com uma espessura de 70 centímetros. Ao ver a casa nesta situação, a aposentada, primeiramente, entrou em desespero. Depois, lembrou quando era técnica em enfermagem, dos cursos de bombeiro que fez e se deu conta que, se pisasse no gelo, poderia ter um choque elétrico.
— Eu achei que ia morrer, que ia ter uma hipotermia. A sorte é que faltou luz e eu não tomei um choque quando estava no chão. Depois, tirei tudo da tomada. E foi caindo tudo. O fogão caiu, tudo que tinha de armário pequeno as pedras derrubavam. Era como se tu visse uma avalanche entrando dentro da tua casa — relata Nilva.
Ela estava sozinha em casa. O pai, que mora ao lado, estava com a outra filha. Os dois ouviram o pedido de socorro de Nilva. Entretanto, naquela hora, a chuva não dava trégua.
— Eu só gritava por socorro. Pedia "pai, pai, me salva, me ajuda". Aí, minha irmã gritou para eu ficar calma, que ela estava pensando em como podia chegar até mim. Comecei a me sentir mal, fiquei com medo de enfartar, mas consegui ir, em cima de cadeiras velhas, até onde estavam meus remédios da pressão. Eu estava em choque, não sabia o que pensar, o que estava acontecendo, eu nunca vi uma coisa tão horrível — desabafa.
Após os minutos de tensão, com tábuas de madeiras, as irmãs conseguiram se encontrar. Quando a chuva parou, um mutirão de vizinhos foi iniciado para ajudar a tirar as pedras de dentro da casa. Nilva diz que mais de 20 pessoas ficaram mobilizadas e que uma padaria do bairro forneceu pastéis de janta para contribuir.
— Veio até meu ex-marido. Uma farmácia disponibilizou os funcionários para vir me ajudar. Eles levaram quase três horas, não tinha luz, então usavam lanternas do celulares. Hoje, mais cedo, lavaram a casa com mangueira, mas não sei nem por onde iniciar a arrumação, a limpar o que ainda tem barro — lamenta a moradora, que perdeu a máquina de lavar e o forno elétrico também.
Passado mais de um dia do temporal, equipes da prefeitura auxiliavam na retirada do granizo, ainda acumulado, no pátio dos fundos da casa e também na entrada, que fica na lateral da construção. Um serviço que parecia não ter fim para os servidores. O meteorologista da Climatempo, Vinícius Lucyrio, explica que o granizo não derreteu em função do grande volume e também porque a temperatura desta quinta-feira, de 25°C, também contribuía para a manutenção do gelo.
— Eu tenho gratidão que estou viva, porque poderia ter sido pior.
Amizade em todos momentos
Andrea Vanessa Pereira, 43 anos, é amiga de Nilva há 10 anos. Ela estava com a aposentada quando a reportagem chegou no local, lavando a louça para conseguir ajudar a amiga.
— Não tem como botar nada em ordem, ainda está tudo molhado, eu quero ir no mercado pegar caixas, para ir guardando as coisas, secar o que ainda está molhado, mas quero trazer tranquilidade para ela (Nilva) — destaca Andrea Vanessa.
100 casas atingidas
Um levantamento, divulgado pela prefeitura de Caxias do Sul no final da tarde desta quinta aponta que, pelo menos, 100 casas foram atingidas pela chuva, granizo e alagamentos em todo o município. A maior parte das ocorrências foram no bairro Serrano. Ao todo, 52 atendimentos foram realizados nesta quinta e 4,2 mil metros de lona foram entregues. Até as 19h, 650 clientes da Rio Grande Energia (RGE) seguiam sem luz em Caxias do Sul e também em Flores da Cunha.