Interessados em atuar como bombeiro voluntário, doando-se sem receber nada em troca, além do carinho da população, podem ingressar na corporação de Antônio Prado. A equipe, que atualmente tem 20 integrantes, 17 voluntárias e outros três profissionais contratados, precisa de reforços. Os bombeiros atendem a rodovia RS-122, parte da BR-116 e os municípios de Antônio Prado e Ipê, somando mais de 20 mil moradores.
A equipe é dívida em socorristas e motoristas, que também fazem o trabalho de resgate, mas com um curso adicional de motorista de emergência. O plantão de 24 horas é feito sempre em dupla, com escalas montadas conforme a disponibilidade de todos. Em ambos os casos, segundo a bombeira voluntária e diretora presidente, Graziela Geremia Mezalira, 44 anos, precisa ter o curso de Atendimento Pré-Hospitalar (APH) e o Suporte Básico de Vida (BLS), voltado para paradas cardiorrespiratórias.
— Pra ser um voluntário, tem que gostar, tem que ter amor à camiseta, porque tu estas aqui pra se doar. Tem que ter 18 anos completos. Pra ser socorrista exige os cursos APH e o BLS. Pra ser motorista é preciso ter a carteira D e o curso complementar de motorista de emergência— explica Graziela, que também é técnica em enfermagem num hospital de Caxias do Sul.
Os cursos referidos pela diretora são oferecidos por empresas particulares de Caxias do Sul e Porto Alegre. Em média, segundo Graziela, o custo é de R$ 300 e tem duração de um final de semana, o APH de 8h e BLS, de 20h aula, mesclando teoria e prática. Há cada cinco anos há uma reciclagem. A preferência é que o voluntário seja da área da saúde, pois já teria noções de atendimento, mas não há um pré-requisito para pessoas com outras formações. E não precisa ser só residente no município. Quem desejar ingressar na corporação, pode enviar um currículo para o e-mail bombeirosvap@gmail.com.
Metade Samu, metade bombeiro
O motorista da ambulância do Samu de Antônio Prado, Ronaldo Geremia, 50 anos, é um dos voluntários no Corpo de Bombeiros, atuando também como motorista da ambulância e dos caminhões da corporação. São 20 anos nesta profissão, somados Samu, bombeiros e prefeitura.
— Durante as noites, atuo no Samu, e de dia, há cinco anos, atuo aqui no quartel. Faço essa jornada dupla porque a gratidão da vítima, o olhar dela depois do atendimento, isso não tem preço que pague — confessa Geremia.
O pai de dois filhos, Rian, 21, e a Raissa, 17, relata que ao longo destes anos as ocorrências que mais lhe afetaram foram as que envolveram crianças, os casos de acidentes de trânsito, principalmente. Mas Geremia relembra que um dos trabalhos mais árduos realizados neste período foi o auxílio no combate às chamas, em uma grande empresa de exportação de maçãs de Vacaria, em 2022. As guarnições de Bombeiros Militares de Vacaria e de Flores da Cunha costumeiramente pedem ou dão apoio a ocorrências. Naquele dia, Geremia e outro colega de Antônio Prado passaram 12 horas combatendo as chamas na empresa.
Outro desafio destacado pelo bombeiro voluntário é a distância da família em alguns momentos. Afinal, ao se dedicar ao voluntariado, por muitas vezes a pessoa perde datas importantes como aniversários, Natal e Ano-Novo. Mas, segundo Geremia, tanto a esposa Valderez, quanto os filhos, sentem-se felizes pelo trabalho desempenhado por Geremia.
Além de Graziela, que está há 16 anos na corporação, e de Geremia, há cinco, a corporação também conta com o novato Igor Reginato De Nalli, 21 anos, estudante do curso de Técnico em Enfermagem e que atua há dois anos como voluntário. A prática o auxilia como um estágio no curso e enriquece o conhecimento prático no dia a dia. Ao todo, são 15 homens e cinco mulheres atuantes em Antônio Prado. Além deles, o quartel conta com o gato preto chamado “Puma”. O felino, que é adotado pela equipe de bombeiros, auxilia na doação de sangue em uma veterinária local, ganha ração e muito carinho de todos que circulam pelo quartel.
A equipe conta que geralmente o trabalho é pacato, em média são três atendimentos por dia. Porém, há semanas em que o movimento é maior. Segundo Graziela, no verão o chamado principal é para combate de fogo em vegetação. Já no inverno, os incêndios domésticos são mais comuns. Os acidentes na rodovia são constantes o ano todo, infelizmente.
Fundação dos bombeiros de Antônio Prado
“Até onde o corpo aguenta somos seres humanos, depois disso somos bombeiros!”.
RODOLFO PAVANI
Frase está estampada na parede do quartel
Até 2007, o servidor público do município de Antônio Prado, Vicente Visentin, tinha um caminhão modelo F11000, de 1982, equipado para o combate a incêndios, principalmente, com atenção maior voltada ao Centro Histórico do município. Mas Visentin percebeu que precisava de uma equipe, e conseguiu fundar, junto de outros moradores da cidade, o quartel de Bombeiros Voluntários.
Inicialmente, a corporação ficava junto ao pátio da Brigada Militar, na Avenida Presidente Castelo Branco, porém, segundo a atual diretora, Graziela, o espaço era pequeno e alagava constantemente. Com o passar dos anos, parcerias com as prefeituras de Antônio Prado e Ipê, com empresas concessionárias que cuidavam da RS-122, com entidades, além de empresários locais, a corporação se mudou para uma sede própria, ao lado do Posto de Saúde do bairro Aparecida.
O prédio de cerca de 470 m² abriga dois caminhões, um que era de Visentin e agora foi cedido pela prefeitura para os bombeiros e outro modelo, um Scania de 1984, comprado em um leilão. E também uma ambulância e um veículo Fiat Strada. Além de sala de estar, cozinha, dormitórios, lavanderia e sala administrativa. Na parede do quartel há uma frase de Rodolfo Pavani que diz “Até onde o corpo aguenta somos seres humanos, depois disso somos bombeiros!”.
Os equipamentos de proteção da corporação são os mesmos utilizados pelos bombeiros militares do estado, comprados em sua maioria, no ano passado, com recursos de parcerias com uma hidrelétrica da região e uma das antigas concessionárias da RS-122. O perímetro de atuação da equipe abrange a rodovia estadual, entre os quilômetros 110 ao 147, além de trechos urbanos e rurais de Antônio Prado e Ipê, até as divisas com os municípios de Nova Roma do Sul, Flores da Cunha, Campestre da Serra e parcialmente também a BR-116.
Serviço comunitário
Além do atendimento aos sinistros na região, os bombeiros fazem muitos serviços sociais. Dentre eles, vestem-se de Papai Noel e fazem entregas de doces e presentes para as crianças no Natal. Dia das Crianças também é uma data bastante celebrada. Ao longo do ano, as crianças são recebidas para visitas ao quartel ou passeios em cima dos caminhões. A equipe também vai até as instituições de ensino e empresas oferecer capacitações sobre primeiros socorros e de incêndio. A comunidade é bem receptiva, segundo a equipe.
— Nós voluntários não temos salário, é o que nos diferencia de um bombeiro militar. Mas, também não retiramos nenhum dinheiro do bolso, ganhamos alimentação, uniforme e equipamentos de parcerias que temos e de projetos que realizamos pela cidade, sempre contando com apoio da comunidade — explica Graziela.
A manutenção financeira dos Bombeiros Voluntários de Antônio Prado é feita pelas prefeituras (Antônio Prado e Ipê) e comunidade. Para doar ao Corpo de Bombeiros Voluntário, o interessado pode entrar em contato com a corporação pelo e-mail: bombeirosvap@gmail.com, ou ainda, conhecer a equipe pessoalmente na Rua Luiz Marcantonio Grezzana, 332, no bairro Aparecida.