Para quem mora na Serra, não é novidade que a BR-116 não acompanhou a evolução econômica e logística da região ao longo do tempo. A defasagem pode ser constatada todos os dias ao circular pela rodovia na área urbana de Caxias do Sul nos horários de pico. Apesar de ser duplicada em um trecho importante, a estrada mantém características básicas da década de 1940, quando foi inaugurada. E mesmo trechos de maior capacidade não são mais suficientes para escoar todo o fluxo que utiliza a rodovia como ligação entre bairros e cidades.
O Pioneiro percorreu seis pontos de gargalos que oferecem risco constante de acidentes ou são responsáveis por travar o fluxo. Um deles é o acesso à Ana Rech, que envolve a Avenida Rio Branco, a Avenida Treze de Junho e outras vias locais, com trânsito organizado por semáforos. Outra característica é a existência de empresas com grande número de funcionários nas proximidades. Essa combinação se reflete em grandes congestionamentos no início da manhã e no fim da tarde, que atingem não só a BR-116, mas também vias do entorno. Proprietário de uma lanchonete na Rua Ildo Antônio Baldi, Flávio Zapparoli, 58 anos, mora na Avenida Treze de Junho, do outro lado da rodovia. Conforme ele, até mesmo atravessar a BR-116 é difícil em horários de maior movimento.
— Tem hora que tem que ir lá no outro posto (na região do bairro Serrano) porque é melhor do que aqui. Tem muito carro e o semáforo dá pouco tempo para entrar — relata.
Outro cruzamento em que os semáforos contribuem para o gargalo é entroncamento da Perimetral Norte com a BR-116. No início da manhã, por exemplo, são comuns congestionamentos para quem sai da Perimetral para acessar a rodovia em direção à Ana Rech, ou mesmo quem trafega pela estrada no sentido sul-norte. Conforme funcionários de uma loja de móveis nas proximidades, acidentes também são frequentes.
— Faz um ano e três meses que a loja abriu e nesse período já deu vários acidentes — lembra Evandro Amaral, 35 anos.
Já a vendedora Tainá Lopes, 23, relata a dificuldade de deslocamento no fim da tarde.
— Vou de Uber para casa e fico mais de 30 minutos somente para contornar a rótula e subir.
Motoristas que dependem da BR-116 enfrentam problemas também no acesso ao Hospital Geral (HG). A principal dificuldade é cruzar a rodovia para acessar a Universidade de Caxias do Sul, já que alça lateral costuma ficar congestionada. Outro problema histórico do ponto é a insegurança para a travessia de pedestres.
— A distância entre a sinaleira e a faixa de pedestre é muito grande e os motoristas vêm em alta velocidade. Também não se teve até hoje capacidade de rebaixar o meio-fio para um cadeirante que precisa ir ao hospital poder atravessar — reclama Airton Rodrigues Pinto, 54, que mantém um comércio nas proximidades.
Travessia insegura
Se na parte norte do trecho urbano da BR-116 as dificuldades são principalmente congestionamentos causados por semáforos, no segmento sul o problema é a ausência de qualquer dispositivo que gere a mínima segurança aos motoristas. É o caso do cruzamento da rodovia com a Rua João Orestes Faoro, por exemplo. Acesso aos bairros Planalto e São Victor Cohab, é regra motoristas aguardarem sobre a pista no fim da tarde para fazer a conversão à esquerda em direção aos bairros.
— É horrível, eles não param no acostamento, entram direto. Já morreram muito motociclistas. Eu vou à missa em Santa Corona e estou desistindo de ir porque não tem como atravessar — observa a aposentada Alvina Marcon, 78, que há 54 anos vive junto ao entroncamento.
Já o cruzamento com a Rua Pedro Olavo Hofffmann serve de acesso ao Villa-Lobos e outros bairros populosos do entorno. No ponto, qualquer conversão à esquerda é um desafio aos motoristas, já que não há dispositivos que auxiliem na manobra. Além disso, o trecho da rodovia é em curva. Um recuo não pavimentado é muitas vezes usado irregularmente como retorno.
— Esse retorno é muito usado pelo pessoal, mas o certo seria ir no Santa Corona fazer o retorno — alerta Alessandro de Moura Oliveira, 42, que trabalha como garçom em um restaurante às margens da estrada.
Já entre o Vila Verde e o Planalto, a pista de sentido sul-norte apresenta lentidão com frequência devido à falta de duplicação. O problema é mais visível próximo do acesso ao Vila Verde e gera conflito entre os motoristas.
— Às 6h já não consigo mais dormir por causa do buzinaço que ocorre no ponto onde afunila a pista — relata o aposentado Gilnei Formigheri, 62, que mora nas proximidades.
Em busca de soluções
Os seis pontos visitados pela reportagem estão nos planos da prefeitura de Caxias para a implantação de melhorias. Há cerca de duas semanas o prefeito Adiló Didomenico esteve em órgãos federais em busca de recursos para viabilizar a obra.
De acordo com a secretária do Planejamento, Margarete Bender, o município já elaborou os projetos para a implantação de acessos junto às ruas Pedro Olavo Hoffmann e João Orestes Faoro. Para isso, contudo, é necessário repasses da União, já que a rodovia é federal.
Situação semelhante ocorre com o trecho de um quilômetro entre o Vila Verde e o Planalto. O projeto que permitiu a implantação de uma faixa adicional em 2018, já previa a duplicação completa do trecho. No entanto, O Departamento Nacional de Infraestrutura dos Transportes (Dnit) não tinha recursos disponíveis na época. Agora, o município cobra do órgão federal as intervenções pendentes.
Com relação ao entroncamento da Perimetral Norte com a BR-116, o município também já elaborou projeto para a construção de um viaduto. O documento foi entregue ao governo federal para adequações com o objetivo também de liberação de recursos.
Já o acesso à Ana Rech e ao HG ainda não contam com projeto nem solução definida. O município busca o auxílio da União para a elaboração dos estudos ou ao menos uma autorização para que a prefeitura contrate.
— No caso de Ana Rech, há uma série de elementos que precisam ser considerados, uma vez que é acesso não só de Ana Rech, mas também de outros bairros — exemplifica a secretária.
A reportagem procurou o Dnit para verificar o andamento das solicitações do município, mas não obteve retorno.