Inspirada pela Campanha da Fraternidade 2023, que tem o combate à fome como tema, a Diocese de Caxias do Sul realiza um levantamento para mapear iniciativas que sejam desenvolvidas nesse sentido nas 73 paróquias de 32 municípios de abrangência na região. Segundo o coordenador da ação, padre Leonardo Inácio Pereira, a partir das informações preenchidas em formulário encaminhado às paróquias, a ideia é que, a partir do banco de dados, as ações possam ser fortalecidas e também levadas em consideração nos cadastros realizados pelos municípios. Os formulários desta primeira etapa devem ser preenchidos pelas paróquias até o dia 5 de fevereiro e serão apresentados no lançamento da Campanha da Fraternidade, no dia 22 de fevereiro.
— Na comissão montada aqui em Caxias, para a campanha, surgiu a ideia deste mapeamento que achamos interessante para movimentar as paróquias e ver o quanto a Igreja tem esta compreensão das pessoas que são atendidas pela própria Igreja. Estamos perguntando quem são as pessoas ajudadas, de onde vêm os recursos que a Igreja destina a elas, quais são as campanhas, se há envolvimento da prefeitura, que tipo de acompanhamento vem sendo feito... — relata o coordenador.
Segundo ele, há também a intenção de que, em um segundo momento, sejam organizadas as informações referentes a outros atendimentos prestados pelas paróquias, que atendam a outras necessidades de moradores em cada comunidade, independentemente da fé que eles tenham.
— A fome bate independente da religião e acreditamos que toda a ação que a gente faz para aliviar o sofrimento de alguém é uma expressão de cuidar de Cristo presente no pobre, as campanhas são uma forma de repercutir o que a gente professa — complementa o padre.
Em Caxias, integrantes de mais de 11 mil famílias vivem com R$ 3 por dia
O padre afirma que este não será o primeiro levantamento do tipo realizado pela Diocese. Ele não tem os dados anteriores, mas acredita que os atuais trarão um resultado bem diferente, tendo em vista o contexto de agravamento da fome, especialmente no período da pandemia. No final de 2022, o Brasil voltou para o Mapa da Fome, conforme relatório da Organização das Nações Unidas (ONU). Em Caxias do Sul, 11.471 famílias vivem em situação de extrema pobreza — significa que cada pessoa de um núcleo familiar tem até R$ 89 para passar o mês, o que, na prática, é sobreviver com menos de R$ 3 por dia. Ainda conforme os dados mais recentes, que são de dezembro, outras 4.441 famílias de Caxias vivem em situação de pobreza, com renda mensal entre R$ 89,01 e R$ 178 por pessoa.
Somente pela Fundação de Assistência Social (FAS), foram quase duas mil cestas básicas distribuídas ao longo de 2022 e, no combate à fome. O poder público conta com iniciativas voluntárias, muitas vezes realizadas por voluntários em ações ligadas à Igreja Católica. Há 23 anos em atividade, a Casa Madre Teresa, vinculada à Paróquia Santa Teresa D'Ávila, atua em diversas frentes, tendo o combate à fome como um dos pilares. Atualmente, são 80 famílias cadastradas e, somente no ano passado, foram 14 toneladas de alimento repassadas.
— Os atendimentos de 2022 até tiveram redução em relação a 2021, mas acreditamos que seja pela dificuldade de acessibilidade. Muitas pessoas não têm condições para pagar uma passagem de ônibus, por isso queremos, neste ano, intensificar as visitas onde conseguimos ter um diagnóstico de outras necessidades, para além do alimento — afirma a coordenadora, Silvana Leonor De Conto.
Na paróquia dos Capuchinhos, a Pastoral do Pão entregou 47 toneladas de cestas básicas em 2022 e o Restaurante Popular, administrado pelo Projeto Mão Amiga, deu sequência ao serviço, mesmo sob desocupação da sede na Rua Sinimbu - passando a atender na União das Associações de Bairros (UAB), no bairro Panazzolo. São, em média, 70 almoços diariamente servidos pelo valor simbólico de R$ 1, além de 1,2 mil marmitas que são levadas a cinco bairros da cidade.
— Esse levantamento da Diocese mostra o trabalho silencioso das paróquias, que sempre cuidaram das pessoas mais vulneráveis — avalia o frei Jaime Bettega.
— Mas não basta dar comida. Por isso, no Restaurante Popular, temos os cursos profissionalizantes gratuitos. Neste 2023, teremos muitos cursos. Sonhamos com pão em todas as mesas, através da dignidade. O trabalho é a forma mais justa de conseguir o alimento. É evidente que nem todas as pessoas vulneráveis conseguem trabalhar. Idosos e crianças carentes merecem uma atenção especial. O somatório de todas as ações que são realizadas pelas paróquias e ONGs é a atualização do milagre da multiplicação dos pães, que Jesus realizou — completa o religioso.