Um fruto oval de casca verde, semelhante a uma melancia, de polpa branca e fibrosa, volta a ser protagonista da maior festa de Bom Jesus, nos Campos de Cima da Serra. Nativa de regiões de altitude das Américas, a gila, da família das abóboras, divide, com o queijo artesanal serrano, as atenções do evento que ocorre até domingo (17) na cidade que celebra neste final de semana 109 anos de emancipação política. A 15ª Festa da Gila e 8ª Festa do Queijo Artesanal Serrano ocorrem no Ginásio Poliesportivo de Bom Jesus.
Pouco ou quase nada comercializado antes dos anos 2000, o fruto de cultivo silvestre, com gosto parecido com o do chuchu, não exige trabalho se quer para ser colhido, pois, segundo as famílias que o transformam em doces artesanais, sua colheita se dá de forma espontânea quando o talo se desgruda do caule.
— A gila nascia por conta. As sementes eram jogadas e ficavam por lá rolando na horta até que alguém tivesse vontade de fazer um doce. Agora tem comércio e ela me garante renda — diz a produtora rural Gessi Macedo Zanella, 66 anos, que faz parte de um grupo de seis mulheres, que em 2003, incentivadas pela Emater, participou da primeira Mostra da Gila, o embrião do que é a festa hoje.
Da Linha Caraúno, interior de Bom Jesus, e há uma semana de completar 80 anos, Edy Velho Alano, também participou do despertar econômico da gila. Agora ela conta com os lucros da venda dos produtos em uma padaria local:
— No tempo da minha mãe chamavam a gila de "doce espanta visita" e hoje é uma sobremesa boa, além de uma fonte de renda garantida.
Quando a Emater ministrou cursos para o manuseio da fruta, o apicultor João Batista Alano, 72, não levou muita fé. Hoje, conta que o fruto divide as atenções com a uva e o mel na produção da família. O doce de gila, no entanto, é tarefa da esposa Edy; Alano só ajuda a cortar a casca dura da fruta.
— Só ajudo a preparar a fruta, o ponto e cozimento é com ela. A gente faz os pastéis, doce em calda e rapadura, e vende toda semana para a padaria daqui. Achei que não ia dar em nada, mas a prefeitura vai ter que aumentar o espaço daqui uns anos — projeta Alano.
A história da fruta, celebrada durante esse final de semana em Bom Jesus, remonta à colonização do Brasil. Quando foi levada para a Europa por portugueses que desbravavam os Campos de Cima da Serra, se encaixou muito bem nos chamados doces convençais, feitos nos conventos e muito populares na Espanha e Portugal. A história, resgatada pela Emater e contada aos agricultores familiares de Bom Jesus, fez crescer o orgulho do produto e credenciou a possibilidade de fazer dele um atrativo turístico para o município.
— Antigamente, o doce era encontrado em praticamente todas as residências, era levado pelos tropeiros e fazia parte dos eventos como batizados e casamentos — conta Juruema Batista Velho, extensionista rural social da Emater, que há 21 anos no escritório de Bom Jesus, foi fundamental para dar protagonismo à gila.
Para ela, trata-se de um produto emblemático, próprio da região e que deve ser valorizado por carregar traços culturais. Quando reuniu o grupo de seis mulheres que iniciou a comercialização dos doces feitos de gila, Juruema tinha como objetivo refletir a história ao transformar a fruta em um produto que trouxesse geração de renda para a comunidade.
— As pessoas não valorizam a riqueza que têm na mão, é um produto que outra região não tem. Essa valorização começou a acontecer e despontou nessa grande festa — comemorou, explicando ainda que, atualmente, a gila é produzida por 10 famílias de Bom Jesus.
Mas afinal, como se faz o doce de gila?
Gessi Zanella explica que para a gila se tornar um doce, a finalização mais comum, não tem mistério, mas alguns passos precisam ser seguidos. A receita é de família, foi ensinada pela mãe e pela avó: depois de colhida, a fruta é bem lavada e cortada em pedaços. Para que ela fique bem seca antes de ir para a panela, Gessi aconselha "espremer" a fruta com um pano. Ainda com a casca, a gila vai para o cozimento com açúcar na mesma proporção (para 1kg de gila, 1kg de açúcar). A casca só é retirada no final, já que, segundo Gessi, ela deixa o doce com uma cor mais bonita, meio amarelado. Com a gila e o açúcar na panela, o passo agora é mexer: para virar um doce de compota, a consistência deve ficar grossa.
— Ah, é preciso tirar as sementes ao final. E uma dica: quando a gila está madura, suas sementes são pretas — diz.
8ª Festa do Queijo Artesanal Serrano
Com cerca de 700 produtores informais de queijo artesanal serrano, Bom Jesus é uma das referências nos Campos de Cima da Serra em regularizar a venda e produção do derivado de leite. Atualmente, são cinco produtores, que desde o ano passado, estão certificados com o selo SIM, que segundo a médica veterinária da prefeitura, Cátia Dal'Bello, permite ao produtor familiar oferecer ao consumidor um produto regularizado e dentro das normas sanitárias legais.
— Demorou para os produtores entenderem que o produto deles não pode ser vendido em casa, ele tem que ser exposto. A inspeção só chega para arrumar o que é errado e, a partir daí, eles podem vender. É uma realidade que até então eles não entendiam — explicou.
A regularização foi além e permitiu que o queijo artesanal serrano fosse reconhecido como um produto genuinamente gaúcho. O fabricado pela Queijaria Chácara dos Padres, por exemplo, voltou de Minas Gerais no ano passado com a medalha de ouro em um concurso internacional realizado em Araxá.
— No mundo inteiro se sabe que nos Campos de Cima da Serra se produz um produto que é exclusivo e característico dessa região — explica o cirurgião Alexsander Ribeiro, que deixou a medicina de lado para se dedicar a produção e valorização do derivado em Bom Jesus.
Para ele, a receita centenária do queijo, produzido com leite cru, logo após a ordenha, é motivo de orgulho:
— Passou de mão em mão (a receita) sem nunca ser mudada, com leite de gado de corte, alimentado com pastagem nativa e que produz no máximo 12 litros de leite por dia. Isso faz toda a diferença.
Confira a programação:
Sexta-feira (15)
:: 19h: Palestra sobre pastagens (Escola Irmãs Ramos )
:: 20h: Show de Ana Becker
:: 21h: Show de Mateus Lemos
:: 22h: Show nacional de Simone Simaria
:: 24h: DJs locais
Sábado (16)
:: 9h: Oficina de fabricação de queijo serrano
:: 10h30min: Orquestra Sinfônica da UCS
:: 11h: Abertura oficial
:: 13h30min: Show Grupo Cuerdas Y Sonidos
:: 14h30min: Inauguração do Monumento em homenagem ao Tropeiro
:: 15h: Oficina de rosca de coalhada
:: 15h30min: Ballet Mens Sano in Corpore Sano
:: 16h30min: Alunos do Grupo Alegria de Viver
:: 17h: Show de Ariel e Banda
:: 18h: Show de Poetas e Boêmios
:: 20h: Show de Léo Pain
:: 22h: Show de Ana Castela
:: 23h59min: Show da dupla Maike e Dionathan, seguida de DJs
Domingo (17)
:: 9h: Corrida de Caminhada Amor por Bom Jesus
:: 10h: Banda Marcial de Ipê
:: 11h: Banda Marcial Frei Casimiro Zaffonato
:: 14h às 15h30min: Apresentações de CTGs
:: 15h30min: Show Os Piás do Fandango
:: 16h: Show de pagode Swing Sem Razão
:: 18h: Show de Paulinho Mocelin
:: 20h: DJs