Moradora do bairro Bom Pastor, em Caxias do Sul, Adelina Fink Blau completa 105 anos de vida nesta terça-feira (28). De presente, seguindo um desejo anual da família em festejar a chegada de uma idade tão rara, ela ganhou uma festa de aniversário no último final de semana para celebrar mais um ano de vida e ter a chance de reunir filhos, netos, bisnetos e tataranetos. A senhora centenária, que é descendente de alemães que colonizaram a cidade gaúcha de Lajeado e moradora de Caxias há 24 anos, também tem um irmão que completou um século de vida neste ano e, lúcida e saudável, gosta de relembrar e contar histórias de vida.
Agricultora e mãe de oito filhos, Adelina mora com outras três gerações da família. Ela é cuidada pela filha, Sebila Blau Capeletti, 79, e pela neta, Suzana Capeletti, 47, que também são auxiliadas pelo bisneto de Adelina, Augusto, 24. Nascida em Três Passos, onde a família viveu a maior parte do tempo, Suzana chegou a Caxias aos 13 anos em busca de trabalho e não deixou mais a cidade da Serra.
Com a morte do avô e marido de Adelina, em 1998, ela convenceu a mãe e a avó a se mudarem para Caxias e receberem os cuidados dela e dos outros familiares, que também se mudaram para a Serra em busca de oportunidades. Atualmente, Suzana e o filho residem no andar de cima da casa e a mãe e a avó na parte inferior da residência.
— Elas moravam na roça, longe de tudo e eu vi que não poderia deixá-las sozinha. Consegui trazer elas para cá e, desde então, sempre moraram perto ou junto comigo para eu poder dar essa assistência. Minha mãe cuida da avó há 40 anos e agora eu retribuo cuidando das duas porque, apesar de lúcidas e ativas, precisam de alguém muito próximo — conta Suzana.
Aos 105 anos, a vó Adelina gosta de conversar e não deixa de rezar um único dia para Nossa Senhora Aparecida. É independente para se alimentar, mas tem a mobilidade reduzida depois de uma queda, em 2016, que resultou em uma lesão no fêmur. Por isso, passa os dias sentada, seja em cadeira de rodas ou poltrona, mas consegue se movimentar com a ajuda de familiares em um andador.
Ela e a filha Sebila costumam se comunicar em alemão, já que Adelina foi alfabetizada no idioma de origem da família. Questionada sobre o segredo da longevidade, Adelina revela que sempre teve muita saúde, mas confidenciou uma característica.
— O segredo é nunca se estressar. Se preocupando ou não, as coisas na vida vão acontecer do mesmo jeito — revelou.
Sebila recorda que a mãe não costuma rejeitar nenhum tipo de alimento e ouve e enxerga sem dificuldades.
— Dois ou três anos atrás, por exemplo, ela ainda conseguia enfiar uma linha na agulha. Eu uso óculos e ela nunca precisou. Ela sempre foi muito calma e acho que isso ajudou muito a ela chegar a essa idade e estar aqui, saudável, junto com a gente — conta a filha.
As raízes alemãs nunca foram esquecidas por Adelina. Um dos relatos que ela conta é que, durante a Segunda Guerra Mundial, a família recebia cartas dos familiares na Alemanha. Nos textos, eles eram informados de forma positivista do conflito e do governo de Adolf Hitler. O marido dela, influenciado pelos relatos das cartas, tinha o costume de visitar os familiares e fazer saudação ao regime.
— Anos mais tarde que descobrimos que não era verdade, que era algo muito ruim — recordou ela.
No total, Adelina tem 28 netos, 35 bisnetos e 25 tataranetos. Boa parte da família mora em Caxias do Sul, mas também tem familiares em Três Passos e Novo Hamburgo.
Pandemia exigiu cuidados
Suzana é técnica de enfermagem e trabalhou durante 15 anos no Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) em Caxias. Esteve na linha de frente da pandemia e, como consequência, precisou adaptar a rotina em casa para proteger a mãe e a avó.
— Nos piores meses da pandemia, que foram fevereiro e março do ano passado, onde teve o pico mais forte do vírus, isolamos elas totalmente. Não saiam de casa e não recebiam ninguém. Os filhos tinham contato, mas sempre de máscara e pela janela. Deixamos a comida e a farmácia na porta. Se eu precisava entrar na casa delas, elas ficavam no quarto e só saiam depois que eu finalizava o serviço — relata ela, que, conta nunca ter sido diagnosticada com a covid-19, assim como a mãe e a avó.
Por isso, a festa de aniversário realizada no final de semana, em um espaço aberto, marcou o reencontro da família com a matriarca. Aos familiares que questionavam se ela gostaria de se deitar, para descansar, ela se divertia e respondia que era feio a aniversariante deixar a festa antes dos convidados.
Uma ausência na celebração foi o irmão de Adelina, Lauro, que completou 100 anos em fevereiro deste ano. Ele é veterano da Força Expedicionária Brasileira, lutou na Segunda Guerra Mundial, e celebrou o centenário em uma festa na cidade gaúcha.
O desejo dos Blau é viabilizar que os dois possam se reencontrar em breve para que possam ser registrados em uma fotografia para eternizar os irmãos que superaram um século de existência.