Estudantes vinculados à Educação de Jovens e Adultos (EJA) na Serra têm tido a oportunidade de buscar uma formação mais completa. Isso ocorre devido à oferta de uma série de cursos profissionalizantes voltados para este público no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia (IFRS) em parceria com coordenadorias e secretarias da Educação.
Esse é o caso do estudante Rafael Masetti, 19 anos, que começou em março um curso de eletricista industrial no campus de Farroupilha do IFRS. Depois de reprovar por duas vezes, no 1º ano do Ensino Médio, ele decidiu partir para a EJA. Cursa os primeiros seis meses, em que terá acesso ao conteúdo que no ensino regular demoraria um ano para ser repassado:
— Eu acho um pouco mais difícil, porque é mais matéria. São seis meses para terminar um ano. Tem que prestar bastante atenção — conta o estudante, que mora no bairro Industrial, em Farroupilha.
Na turma dele no Colégio Estadual Farroupilha, são cerca de 10 alunos com idades aproximadas entre 19 e 30 anos. Masetti conta que optou por esta modalidade de ensino já pensando que teria de se inserir no mercado de trabalho. Ainda com esse foco, acabou se interessando quando houve a divulgação de cursos do IFRS na escola dele:
— Eu fiquei interessado porque é algo diferente e é totalmente grátis. É uma ótima oportunidade. É uma coisa boa para o currículo também.
Assim, toda a segunda-feira à noite, ao invés de ir para a aula no Estadual Farroupilha, ele se dirige ao IFRS. No total, o instituto ofereceu mais de 600 vagas em cursos profissionalizantes relacionados a EJA. O pró-reitor de Ensino do IFRS, Lucas Coradini, conta que está no planejamento a abertura de outras 300 vagas, inclusive em municípios não contemplados ainda.
Oportunidades
O professor destaca que esses cursos têm o potencial de atingir estudantes que ficam muitas vezes excluídos do sistema de ensino. Pontua também o papel importante neste momento em que a pandemia provocou uma crise econômica, exigindo a readequação profissional de muitos trabalhadores.
— Nesse sentido, os cursos de formação inicial continuada são importantíssimos. Atingem um público que precisa de qualificação, precisa se inserir no mercado de trabalho e que não tem o requisito de escolaridade para entrar nos cursos regulares técnicos subsequentes ou tecnólogos. Então, esse direcionamento para a Educação de Jovens e Adultos é muito importante porque atinge uma população que é mais vulnerável e, em regra, está afastada, excluída dos bancos escolares.
Outro aspecto importante é que esses cursos colocam os estudantes em contato com uma estrutura de ensino que, em muitos casos, parecia distante deles com o afastamento da escola. Acabam tendo contato com laboratórios bem estruturados, professores altamente qualificados e com uma ideia de formação que transpassa a tecnicidade e inclui a formação de cidadãos. Diante disso, podem também compreender a importância de dar sequência aos estudos:
— A gente aposta muito que esses cursos são uma porta de entrada para esse estudante dar continuidade ao seu itinerário formativo, justamente avançando para outros níveis, fazendo um curso técnico regular, avançando depois para um tecnólogo, um curso superior, até a pós-graduação. Então, é só um passo inicial para um itinerário formativo que a gente espera que esses estudantes sejam incluídos — comenta Coradini.
“Uma das modalidades mais afetadas pela pandemia”, diz titular da 4ª CRE
Em Caxias do Sul, são oito escolas com EJA, incluindo Ensino Fundamental e Médio. Seis delas são mantidas pelo governo do Estado e outras duas pelo município. Conforme a 4ª Coordenadoria Regional de Educação, o Ensino Médio é o mais procurado.
A titular da CRE, Viviani Devalle, explica ainda que o perfil dos estudantes mudou em relação ao passado. Hoje, há uma grande quantidade de jovens que optam pelo EJA, enquanto no início eram principalmente pessoas mais velhas que tinham abandonado os estudos e precisavam retomar por exigências do mercado de trabalho.
Viviani explica, no entanto, que a pandemia trouxe problemas para essa modalidade de ensino:
— Depois de tanto tempo fora da escola por conta da pandemia, muitos estudantes deixaram de estudar, e a EJA foi uma das modalidades mais afetadas pelo abandono durante a pandemia. Então, as escolas que têm essa etapa de ensino estão divulgando, mas a procura está como nos demais anos.
Programa federal voltado à profissionalização
Os cursos oferecidos no IFRS, divulgados nas escolas para os estudantes interessados, fazem parte do Programa EJA Integrada, lançada em dezembro de 2021 pelo governo federal. A iniciativa tem o objetivo de contribuir para o cumprimento do Plano Nacional de Educação, que ao menos 25% das matriculas do EJA estejam integradas à Educação Profissional.
Quem pode fazer EJA
- A etapa um do EJA é destinada para quem não concluiu o Ensino Fundamental. Com ela, é possível concluir, em menos de dois anos, do 1º ao 9º ano. Podem se inscrever pessoas a partir dos 15 anos.
- A etapa dois se refere ao Ensino Médio. Com duração média de 18 meses, é oferecida para quem tem mais de 18 anos.
Escolas públicas com EJA em Caxias
- Escola Professor Clauri Alves Flores
- Escola Érico Veríssimo
- Escola Evaristo de Antoni
- Escola Melvin Jones
- Escola Paulo Freire -Case
- Escola Presidente Vargas
- Escola Caldas Júnior
- Escola Caic