Apesar de o Estado ter anunciado a obrigatoriedade de aulas presenciais em todo o ensino básico a partir da próxima quarta-feira (3), a rede municipal de Caxias do Sul manterá o formato híbrido. A Secretaria Municipal da Educação (Smed) diz que nem todas as escolas têm capacidade para receber a integralidade dos alunos mantendo o distanciamento de um metro, exigência para reduzir as chances de contágio pelo coronavírus.
— Preparado, o município sempre esteve em relação aos protocolos até então. O que a gente está estudando é que algumas escolas não têm condições de receber 100% seguindo todos os protocolos — explica a secretária da Educação, Sandra Negrini.
Segundo ela, a apuração das condições de cada prédio e a organização desse retorno presencial serão feitas junto às direções. De acordo com ela, a média geral de presença às escolas municipais é de 90%. No total, são 31 mil alunos no Ensino Fundamental, além de 12 mil que frequentam a Educação Infantil — neste número, estão incluídos aqueles que estão alocados em escolas particulares com vagas compradas pelo município, nas instituições conveniadas do município com entidades que as administram e alunos de 4 e 5 anos com turmas de Educação Infantil em escolas de Ensino Fundamental. A Secretaria Estadual da Educação disse, por meio da assessoria de imprensa, que as escolas que não tiverem capacidade de receberem todos os alunos poderão fazer revesamento de turmas, mas que nenhum aluno poderá mais ficar em formato totalmente remoto. Ainda assim, a secretária municipal da Educação diz que, na quarta, isso não será cumprido, porque o decreto do Estado será avaliado dentro da realidade local e junto às direções das escolas.
Já na rede estadual de ensino, a volta de todos os estudantes está confirmada para a próxima semana. A titular da 4ª Coordenadoria Regional de Educação, Viviani Devalle, não tem o dado de como tem sido a frequência dos estudantes até agora, mas diz que todas as escolas estão preparadas para cumprir todos os protocolos e dispõem de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs).
— Nos nossos alunos que ainda não retornaram à presencialidade, a gente percebe que existe uma defasagem na aprendizagem, pouca entrega de atividades. Muitos alunos se evadiram. Embora seja final de ano, ainda é possível fazer uma recuperação.
Escolas particulares dizem ter capacidade para a retomada integral
Ainda à espera do decreto estadual que deve trazer os protocolos sanitários a serem seguidos, quatro das principais escolas privadas de Caxias sinalizam que, se mantidas as regras atuais, como o distanciamento mínimo de um metro, têm espaço para acomodar todos os estudantes. Porém, todas destacam que ainda precisam verificar os detalhes a serem determinados pelo Piratini.
No Colégio La Salle, a supervisora administrativa, Patricia Dall'Oglio, diz que cerca de 90% dos mil alunos já estão frequentando as salas de aula. Em outra escola da rede, o La Salle Carmo, a estimativa é que de esse número gire em torno de 80% dos 1,8 mil matriculados. A percepção, no entanto, é de que esse número vem aumentando:
— Não é só a questão conteudista. Tem toda a questão social. Essa socialização com os colegas acabou agregando para o próprio aluno — destaca a supervisora educativa, Adriana Steinmetz.
O diretor, irmão Roberto Carlos Ramos, acrescenta que o maior problema verificado com o isolamento entre os alunos foi a saúde mental, o que reforça a importância da escola. Mas afirma que o processo de ensino-aprendizagem também se beneficia do contato direto:
— Também é uma percepção nossa é que os alunos que vêm para a escola, com o professor, com aquela interação, a aprendizagem é maior.
A percepção do diretor do Colégio São José, Jorge Godoy, é semelhante:
— O olho do professor no olho do aluno faz toda a diferença no processo de ensino-aprendizagem.
Na escola que tem 1,9 mil alunos, a participação dos estudantes presencialmente varia conforme o nível de ensino. Na Educação Infantil e Fundamental 1 (até o quinto ano), está em torno de 95%; no Fundamental 2 (do quinto ao nono ano), 85%; e no Ensino Médio, 80%.
Essa diferença se repete no Murialdo. Com 1,3 mil estudantes, a escola tem cerca de 100 dos alunos da Educação Infantil e do Ensino Fundamental 1 frequentando as salas de aula. Entre Fundamental 2 e o Médio, essa taxa cai para em torno de 80%.
— A estrutura acolhe a demanda de todos os alunos. Reorganizamos ainda no decreto anterior que definia um metro de distância - garante o vice-diretor, Edmundo Marcon.
Em casa desde o início da pandemia
O retorno para a escola ainda é incerto para Mikael do Nascimento, 10 anos, e Felipe Ribeiro, 13. Os dois irmãos, por parte de pai, estudam em casa desde o início da pandemia, embora o mais novo esteja matriculado na rede particular e o mais velho na rede estadual.
Mikael chegou a ir para a escola na semana do Dia das Crianças, mas depois retornou para o modelo remoto. A mãe dele, a pedagoga Janaina Menegassi do Nascimento, diz tem clareza de que a escola toma os protocolos devidos, mas teme pelo fato de que grande parte das famílias não adota os mesmos cuidados que a dela:
— A nossa família tem todo um cuidado. A gente não coloca os nossos filhos no público. Então, a gente buscou seguir as orientações. A gente não vai para shopping, para o mercado com eles. Eu vejo a necessidade da criança estar com outras crianças, mas infelizmente a sociedade não teve esse entendimento (a respeito dos protocolos de segurança sanitária).
Sobre a obrigatoriedade a partir da próxima quarta-feira, ela analisa que podem existir brechas a serem verificadas. Coordenadora do Instituto Rosa Del Este, que trabalha com mulheres vítimas de violência, Janaina conta que tem acompanhado casos de alunos da rede pública que não têm frequentado a escola e nem retirado as atividades para as aulas a distância e, mesmo assim, não foram acionadas por meio do Conselho Tutelar. Portanto, questiona o comportamento do poder público de exigir o retorno.
Além disso, pondera que em alguns casos, a volta à escola proporcionaria um ambiente mais seguro do ponto de vista socioeconômico e também emocionalmente, como nas situações de mulheres vítimas de violência.
— Seria mais saudável estar na escola do que em casa sendo agredidos ou vendo as mães sendo agredidas.