O mês de setembro fechou com um percentual de 66% referente à efetivação de doação de órgãos na Serra. Segundo o coordenador da Organização de Procura de Órgãos (OPO) Caxias do Sul, o médico Thiago Luciano Passarin, mesmo sob uma desestruturação ocasionada pela pandemia, o índice regional manteve-se acima da média estadual, que, de acordo com o médico, foi de 32%. Apesar de uma efetivação bem sucedida quando comparada a outras regiões, ele afirma que o maior desafio ainda está na conscientização dos familiares em relação à importância da doação.
— A pandemia realmente desestruturou o sistema de transplante de órgãos porque os leitos de UTI foram ocupados por pacientes da covid-19, que não são doadores de órgãos. Em todo o Rio Grande do Sul houve uma redução importante de transplantes realizados nos últimos 19 meses. Tudo acabou ficando mais engessado, especialmente quando ainda se tinha pouca informação sobre a doença. Apesar disso tudo, regionalmente conseguimos manter uma boa efetivação de doação, que há anos se mantém acima de 40%. Buscamos dar um acolhimento às famílias, conduzindo a situação, mas o principal fator ainda é a negativa familiar — relata o médico.
A OPO Caxias do Sul funciona no Hospital Pompéia, sendo responsável pela organização da logística da procura de doadores de órgãos e tecidos nos hospitais localizados na sua área de atuação. Na região, são capacitados para diagnóstico e retirada de órgãos somente os hospitais Tacchini, de Bento Gonçalves; São Carlos, de Farroupilha; Arcanjo São Miguel, de Gramado; e o próprio Pompéia, onde são também realizados os transplantes de rins e córneas, quando há compatibilidade. Os demais órgãos são destinados a Porto Alegre.
A redução de mortes por acidentes de trânsito, em um reflexo da diminuição do tráfego em alguns períodos, segundo Passarin, também impactou na queda de doadores. O médico relata, ainda, que os transplantes foram prejudicados em períodos críticos da ocupação hospitalar, nos meses de agosto e setembro de 2020, e março e abril de 2021, quando algumas UTIs transplantadoras foram ocupadas por pacientes com covid-19.
Destinação dos órgãos
O sistema regional atua sob gerência da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul e do Sistema Nacional de Transplantes, que determinam a destinação de cada órgão disponível no banco. De acordo com Passarin, hoje, 22 pessoas aguardam por transplante de rim na região, em uma fila estadual que chega a 500 pacientes. Ele não soube informar quantos pacientes aguardam por córneas na Serra, mas afirmou que em nível estadual são cerca de 360 pessoas esperando pelo órgão.
— Quando a espera é por rim, o paciente está em diálise. No caso da córnea, dificilmente a demanda é bilateral, mas em casos de fígado ou coração, por exemplo, vira uma corrida contra o tempo. Conseguimos uma efetivação maior de doações em relação ao restante do estado porque temos uma OPO com expertise no sistema que envolve diagnóstico, coleta de exames, verificação de compatibilidade e a conscientização da família — afirma Passarin.
Em alusão ao Dia Nacional de Doação de Órgãos, que ocorreu no dia 27 de setembro, a SES reforçou a importância do aviso à família no caso de quem tem vontade de ser um doador de órgãos. Conforme dados divulgados pela pasta, a redução de transplantes durante a pandemia foi de 28% e o número de doações de órgãos também reduziu gradativamente: em 2019, foram 243, em 2020, 182, e, até agosto de 2021, 96 doadores.
— Um doador pode salvar até oito vidas. A conscientização é muito importante e, mais do que questionar se a pessoa é doadora, costumo perguntar se ela e seus familiares são receptores de órgãos, porque quando a gente se coloca no lugar do outro fica mais fácil. Se eu sou receptor de órgãos e quero receber este benefício caso precise, também tenho que doar. É um gesto bonito que salva muita gente e só quem lida com isso de perto sabe do sofrimento que vive quem espera — completa.