Os primeiros dias da nova operação de transporte entre os distritos de Caxias do Sul e a área central ainda geram dúvidas e surpresas nos passageiros, embora a impressão geral seja positiva. Desde segunda-feira (4), o chamado transporte intramunicipal passou a ser oferecido pela Visate, também responsável pelas linhas urbanas, em um modelo inédito adotado na cidade. O atendimento das comunidades do interior é uma das exigências do novo contrato da concessionária com o município, assinado neste ano.
A reportagem acompanhou, na manhã desta terça-feira (5), o segundo dia de atendimento na linha Fazenda Souza, no horário das 8h. O embarque ocorreu na Avenida Dante Marcucci, a principal do distrito, e a viagem seguiu até a rodoviária de Caxias do Sul, onde o ônibus estacionou às 8h54min.
O coletivo chegou ao ponto de ônibus precisamente às 8h02min. Entre o primeiro grupo de passageiros a entrar estava a comerciante Jucerlei de Oliveira, 65 anos. O estabelecimento que ela mantém fica no próprio distrito e ela se desloca ao centro quando é necessário. Na manhã desta terça, por exemplo, o objetivo era pagar contas.
— Está tudo de bom. Até o fato de sentar nesses bancos, a limpeza. Não que antes não fosse limpo — aprovou a comerciante, acrescentando que o aumento na quantidade de horários também trouxe benefício.
O ônibus, que tem capacidade para 36 pessoas sentadas e 40 em pé, ingressou na Rota do Sol às 8h16min com 19 passageiros. Entre eles, estava Adriana Casagrande Campanharo, 50, que embarcou no mesmo ponto de Jucerlei. A auxiliar se desloca diariamente à área central da cidade para trabalhar no restaurante do filho. O retorno ocorre às 17h30min.
— Antes eram ônibus mais antigos e por último micro-ônibus mais novos, mas agora está ótimo, de primeiro mundo. Sabemos que não adianta colocar muitos horários porque não vale a pena rodar com ele vazio.
Adriana não esconde, porém, o peso da tarifa, cada vez maior sobre as pessoas que dependem de ônibus. Ela também aponta a necessidade de ajustes no trajeto em relação ao primeiro dia, quando a linha seguiu até a Rua Alfredo Chaves e não em direção à Praça da Bandeira, como era costume.
— R$ 9,50 duas vezes por dia é muita coisa. Também estão parando antes do que a gente costumava parar, que era mais próximo do Centro, mas o funcionário ontem mesmo entrou em contato com a Visate e disse que estão avaliando essa questão — afirma.
O trajeto, inclusive, pegou de surpresa parte dos passageiros que utilizaram a linha na manhã desta terça. Às 8h37min, o ônibus saiu da BR-116 e acessou a Avenida Júlio de Castilhos, o que levou a secretária Paula Roberta Troian Lorandi, 45, a levantar e pedir ao motorista se o coletivo não iria pela Rua Os Dezoito do Forte. A resposta foi que o trajeto havia mudado na segunda-feira como teste.
— Não foi isso que tinham nos dito. Agora são mais uns minutos de atraso — reclamou Paula, que deveria ter começado a trabalhar às 8h30min e, com a mudança de trajeto, precisaria se deslocar a pé até a Dezoito do Forte. Ela desembarcou às 8h44min.
— Entendo que nesta semana está todo mundo meio perdido, mas não pode ser todo dia — afirmou a secretária minutos antes, frisando a pontualidade ao relatar que o veículo chegou atrasado para o embarque.
Secretaria promete ajustes
Conforme o secretário de Trânsito de Caxias, Alfonso Willembring, uma nova reunião com a comunidade irá ocorrer daqui a 30 dias para avaliar o primeiro mês do serviço. Até lá, e mesmo após o encontro, novos ajustes podem ocorrer, inclusive para a realização de testes.
— Estamos fazendo todo o possível para melhorar para eles. Essa alteração de trajeto (passando pela Pinheiro Machado) foram moradores que pediram. Quero provocá-los à reflexão para que justamente eles definam qual é o melhor trajeto. Sempre será possível ter ajuste — observa.
Willembring considerou excessivo o tempo total de deslocamento de Paula Lorandi, já que ela desembarcou com 14 minutos de atraso e ainda teria que se andar a pé. No entanto, considerou dentro dos parâmetros os índices de pontualidade.
— Hoje é o segundo deslocamento. Se deu dois minutos, já fico satisfeito. Isso vai melhorar — afirma.
Já com relação à tarifa, o secretário destaca o aumento do preço dos insumos, especialmente o diesel, que pressiona o valor para cima. Ele garante que o município não desistiu da ideia, mas que está cada vez mais difícil, de manter ou reduzir o preço na próxima revisão tarifária, mesmo com medidas compensatórias.
— Todo o sistema intramunicipal teve ajustes irregulares ao longo dos últimos 10 anos. Agora está se recuperando o que deveria ser antes. O custo do diesel, no mínimo, dobrou nesse período. E ainda, nesse contexto, conseguimos ampliar as linhas, incluindo à noite e vespertino para atender a estudantes o que é inédito — observa.