Quem acompanha as questões regionais tem percebido, nos últimos tempos, um movimento de aproximação de Caxias do Sul com outros municípios da Serra. Seja para conhecer experiências que podem ser implementadas por aqui, tratar de temas de interesse comum ou convidar as cidades para participarem da Festa da Uva, seguidamente, o prefeito Adiló Didomenico tem promovido a política da boa vizinhança. Além disso, duas ações recentes são significativas nesse contexto: Caxias ingressou na Região Metropolitana da Serra, em 2020, e, neste ano, entra no Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha (Cisga). Esse último, depende da aprovação da Câmara de Vereadores. O projeto deve ser encaminhado nos próximos dias. Essa mudança de postura em relação ao que vinha sendo praticado anos atrás é vista com bons olhos já que tira Caxias de uma condição de isolamento e a coloca no caminho para recuperar o protagonismo regional.
— O objetivo é retomar essa aproximação e esse intercâmbio que Caxias tradicionalmente tinha e que, por determinado período, foi esfriada essa relação. Buscamos isso porque temos muitas questões em comum. Nenhum é mais importante do que o outro. A união é que vai nos dar capacidade de encontrar soluções adequadas — declara Adiló.
Na mesma linha, avalia a vice-prefeita, Paula Ioris:
— Temos a convicção dessa aproximação, dessa união, para sermos mais fortes, entendendo que a Serra Gaúcha pode ficar muito mais valorizada se tivermos atuando de forma integrada.
Responsável pelo diálogo com o Legislativo, a secretária de Governo, Gregora dos Passos, diz que o afastamento passado de Caxias prejudicou a cidade.
— O que se viu é que não dá certo Caxias tentar seguir sozinha. As cidades têm que se mobilizar para efetivamente implantar projetos que beneficiem a região como um todo. Já tivemos essa experiência de não nos relacionarmos com os municípios vizinhos e isso prejudicou muito a nossa evolução. Quem perdeu foi Caxias — pondera Gregora.
O resultado esperado com a reaproximação é desenvolvimento regional nas áreas de infraestrutura, ambiental e do turismo. Depois de uma reunião da Associação dos Municípios da Encosta Superior Nordeste (Amesne), ocorrida no final de semana passado, e considerado marco nesse processo de aproximação, a Festa da Uva de 2022 deve ser a consolidação dessa integração. É o que espera o prefeito Adiló Didomenico.
O convite é para que os municípios participem não apenas como visitantes, mas com estandes nos Pavilhões para mostrar potencialidades, seja no turismo ou na indústria. Para isso, o espaço será disponibilizado sem custo. A cada prefeitura caberá a montagem do box e a disponibilização de atendentes.
— É uma maneira de buscarmos essa retomada em conjunto. Juntos teremos muito mais força do que cada município lutando individualmente, seja no aspecto político ou econômico — afirmou Adiló.
Para o presidente da Amesne, Fabiano Feltrin, a participação de Caxias nas questões regionais é fundamental. Ele diz que foi dele que partiu o convite ao prefeito Adiló para integrar o Cisga.
— Quanto maior o consórcio, conseguimos melhores resultados para toda a região. Esse relacionamento que estamos tendo entre os prefeitos, o resultado é para todos. As pessoas que vêm de fora, elas não vêm na cidade A, B ou C, eles vêm para a Serra gaúcha e nós precisamos estar unidos com os mesmos propósitos. Fico muito feliz de estarmos conseguindo isso logo no início das nossas gestões — analisou Feltrin.
Turismo
A grande aposta do prefeito Adiló Didomenico para Caxias é o turismo como nova matriz econômica impulsionada no pós-pandemia. Nesse sentido, a ideia é aprender com a experiência dos vizinhos. O prefeito e a vice-prefeita, Paula Ioris, visitaram Farroupilha, Flores da Cunha, Nova Petrópolis, Nova Roma do Sul, Monte Belo do Sul, Santa Tereza e São Marcos, onde tiveram demonstrações da importância do segmento, algo que Caxias já experimentou e que a gestão municipal quer retomar. Na agenda, estão Bento Gonçalves, Carlos Barbosa e Garibaldi, entre outras.
Ambiente
Outra questão regional comum é a discussão sobre a destinação de resíduos. Atualmente, a maioria das cidades encaminha os restos sólidos ou orgânicos para aterros em outras cidades. A ideia é, com ajuda da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e da Fundação Estadual de Proteção Ambiental (Fepam), dar melhor destinação, se possível, transformando o que hoje é um passivo em um ativo, com aproveitamento do orgânico e do reciclável e ainda reduzindo custos. O que se pretende é a implantação de uma usina de reciclagem, que pode ser em Caxias ou outra cidade.
— Chegou o momento de nos juntarmos com a academia e com a Fepam. Acredito que esse é o melhor caminho para avançarmos em uma solução regional ambientalmente adequada e economicamente sustentável. Esse é o grande desafio — projetou o prefeito Adiló.
Nessa mesma linha, Caxias estuda a possibilidade de instalação de uma usina para transformar os resíduos da construção civil em matéria-prima para outras obras, o que também beneficiaria a região, proporcionando reaproveitamento e redução de custos com a destinação. No âmbito local, o projeto de um biodigestor, que transforma sobras de alimentos em gás de cozinha e fertilizante, adotado por Nova Roma do Sul, deve ser implementado nas escolas de Caxias.
Saúde
A saúde é outra área que tem sido pauta dos encontros com prefeitos dos arredores. Como ponto central está a possibilidade de destinação de recursos ao Hospital Geral, sediado em Caxias, mas que atende pelo Sistema Único de Saúde (SUS) pacientes de 49 municípios. Com verbas garantidas para o término da ampliação, o foco é a manutenção futura dos 355 leitos.
Infraestrutura
Considerada gargalo para o desenvolvimento regional a infraestrutura da malha viária é um tema que ganhou força entre os prefeitos com o processo de concessão das rodovias. Para Adiló, é preciso ter um pensamento unificado. Além disso, as tratativas com Gramado para construção de uma rota que ligue as duas cidades, em função do Aeroporto Regional de Vila Oliva, vai beneficiar outros municípios que farão parte desse corredor turístico.
Caxias na Região Metropolitana da Serra Gaúcha
Depois da inclusão de Caxias do Sul na Região Metropolitana da Serra Gaúcha, cujo ato oficial ocorreu em 10 de janeiro de 2020, houve uma pausa no tratamento da questão por causa da pandemia. Um encontro com a Fundação Estadual de Planejamento Metropolitano e Regional (Metroplan) chegou a ser marcado para março deste ano, mas de novo em função de um pico da doença, foi adiado. Uma outra data foi marcada para 17 de setembro, porém, por problema de agenda de um dos participantes precisará ser em dia diferente. A expectativa é que ocorra ainda em setembro.
De acordo com a vice-prefeita, Paula Ioris, que está à frente do assunto em Caxias, esse encontro servirá para esclarecer os envolvidos sobre a formação de uma governança da região, passo necessário no processo. Ela implica na constituição de uma diretoria e criação de um CNPJ.
— Tem muitas possibilidades de projetos junto ao governo federal, quando se trata de regiões metropolitanas. Existem recursos da União direcionados para isso. Nós que vamos definir que projetos teremos conjuntamente — explica Paula, referindo que um deles pode ser o de cercamento eletrônico das cidades e o de administração de toda a cadeira de resíduos.
Os projetos são escalonados conforme as faixas populacionais, uma delas é para regiões acima de 1 milhão de habitantes, na qual a da Serra deve se encaixar com a adesão de Caxias. Integram a Região Metropolitana da Serra Gaúcha: Antônio Prado, Bento Gonçalves, Carlos Barbosa, Caxias do Sul, Farroupilha, Flores da Cunha, Garibaldi, Ipê, Monte Belo do Sul, Nova Pádua, Nova Roma do Sul, Pinto Bandeira, São Marcos e Santa Tereza.
Caxias no Cisga
A secretária de Governo, Gregora dos Passos, diz que enviará o projeto de lei para o ingresso de Caxias do Sul no Consórcio Intermunicipal de Desenvolvimento Sustentável da Serra Gaúcha (Cisga) ao Legislativo nos próximos dias. O texto estava pronto, mas houve uma mudança no estatuto do consórcio e foi preciso adequar.
A entrada de Caxias no Cisga permitirá facilitação e menor custo nas compras de insumos, equipamentos e materiais, algo com o qual as 18 prefeituras que fazem parte do consórcio já se beneficiam. Isso ocorreu no caso da aquisição de testes para covid-19 e deve se repetir na projetada compra de vacinas, quando a medida for permitida. Em um dos pregões deste ano, o valor dos testes rápidos de antígeno chegou a ser 54,5% menor do que o praticado pelo mercado em função do volume da compra. A economia de recursos, por consequência, gera benefícios sociais para a população, conforme a secretária de Governo de Caxias, Gregora dos Passos. Outro impacto, segundo ela, é a redução no volume de processos. E, para o prefeito Adiló Didomenico, possibilitará a concretização de projetos macro, como a viabilização do trem regional.
— A entrada de Caxias nesse bloco eleva muito o poder de compra. Eram em torno de 380 mil habitantes. Com a nossa entrada, vamos para 900 mil. Com mais municípios que venham a aderir, estaremos falando de uma região com um milhão de habitantes — pondera o prefeito.
Na última quinta-feira (26), foi realizada uma reunião em que o Cisga apresentou aos secretários municipais de Caxias as possibilidades de atuação.
— É uma responsabilidade nossa. Não no sentido de ter arrogância, mas somos a maior cidade e a região espera isso de nós, que assumamos esse protagonismo e possamos construir coisas juntos — ponderou a vice-prefeita, Paula Ioris.