A próxima segunda-feira (26) será diferente para Júlia Brambatti Pereira, 18 anos. A estudante do 2º ano do Ensino Médio da Escola Irmão Guerini, em Ana Rech, dará a largada para o início de um sonho. Apaixonada por assuntos que envolvem administração, ela participará do projeto-piloto promovido pela prefeitura de Caxias do Sul, com execução da Fundação de Assistência Social (FAS) e apoio da Superintendência Regional do Trabalho do RS e mais de uma dezena de entidades. Júlia poderá iniciar a vivência em práticas da futura profissão que deseja seguir.
A proposta do município é integrar 30 jovens matriculados em um curso do Senac a realizar as aulas práticas nas secretarias municipais e FAS. Júlia saberá para qual pasta será encaminhada na sexta-feira (23).
— Estou bem ansiosa! Vou trabalhar e fazer o curso ao mesmo tempo e seguir estudando à noite. Eu sempre pensei em trabalhar com administração e até em bancos — revela.
Assim como Júlia, outros 29 jovens entre 14 e 18 anos irão começar um novo ciclo no aprendizado de capacitação profissional. Eles foram indicados pelos Centro de Referência em Assistência Social (CRAS) para o programa intitulado Ser Jovem Cidadão. De acordo com Júlia, a mãe dela está inscrita no Cadastro Único, programa social de famílias em vulnerabilidade social.
A adolescente lembra que já havia comentado com uma das assistentes do CRAS Leste, do interesse em trabalhar . Ela e os 29 colegas começarão o curso ofertado pelo Senac de Comércio de bens, Serviços e Turismo na próxima segunda-feira (26) e seguirão até 3 março de 2023. Os jovens receberão um auxílio de meio salário mínimo e vale-transporte, além de 13º e parte do Fundo de Garantia.
A presidente da FAS, Katiane Boschetti, explica que a iniciativa é pioneira, mas faz parte da lei federal nº 10.097, que regulamenta a aprendizagem profissional.
— Vamos oportunizar que façam o curso e as horas práticas nos espaços da prefeitura. Muitas das empresas que precisam cumprir a lei da aprendizagem não conseguem receber os jovens no locais por ser insalubre para eles. São postos de combustíveis e empresas que têm essa realidade. Então, a prefeitura abrirá os espaços para recebê-los. É um olhar a mais para esse jovem, buscando que eles tenham mais perspectivas — defende Katiane.
Na prefeitura, eles irão realizar tarefas de serviços administrativos, atendimento telefônico, envio de correspondências, arquivamento e lançamento de dados. Para isso, dividirão o horário do curso — sempre contrário ao da escola — entre as aulas teóricas e o trabalho. Desta forma, serão quatro horas diárias dedicadas à experiência.
Mais de mil jovens ainda não ingressaram no programa
A auditora-fiscal da Superintendência Regional do Trabalho do RS, Denise Brambilla González, explica que toda empresa de médio e grande porte é obrigada a contratar no mínimo 5% de jovens na modalidade de aprendiz . Denise, que realiza a fiscalização do cumprimento da legislação, diz que o Estado precisa de cerca de 57 mil jovens neste formato, mas faltam 22,6 mil serem contratados. Em Caxias do Sul, os cálculos apontam que 1.250 ainda não ingressaram no programa.
—Por isso ainda temos muito trabalho a ser feito. A lei surgiu quando o Brasil era especialmente agropecuário e o movimento industrial começou a tomar força. Com a implantação do Sistema S, a ideia era a de que a juventude brasileira fosse formada para o trabalho na indústria. Toda empresa recolhe 1% da folha de pagamento em favor do Sistema, então, a empresa já paga para que aconteça o curso de aprendizagem (neste caso, o Senac). O estudante terá todos os direitos como de um funcionário — explica, ao citar que a principal vantagem para a organização é ter um trabalhador já capacitado para ser contratado ao final do período de aprendizagem.