Dos municípios que fazem parte da macrorregião da Serra, Nova Roma do Sul é o que está com a vacinação contra a covid-19 mais adiantada. Todos os integrantes dos grupos prioritários e os trabalhadores da educação já receberam a primeira dose. Na manhã desta terça-feira (8), começaram a ser imunizadas as pessoas com 54 anos, uma sequência que iniciou com os de 59.
A prefeitura já havia anunciado que aplicaria, em pessoas com 55 anos, nesta terça, as 108 doses (18 da Pfizer e 90 da AstraZeneca) recebidas na última remessa e retiradas na segunda, na sede da 5ª Coordenadoria Regional de Saúde, em Caxias. Mas nesta manhã, por volta das 10h, quando percebeu que a procura cessou na Unidade Básica de saúde (UBS) do município, onde ocorre a imunização, e havia 30 doses sobrando, a prefeitura fez um chamamento para a faixa etária inferior pelas redes sociais e por telefone, informando que havia imunizante disponível e, quem quisesse, poderia procurar a UBS.
O agricultor Dorvalino Zatti, 54 anos, foi um dos beneficiados com a ampliação do público. Ele já tinha tentado se vacinar em função de uma hipertensão, mas o caso não atendia ao critério de doença pré-existente e ele teve que esperar um pouco mais. Mesmo assim, é só elogios ao atendimento de saúde da cidade.
— A gente vê que eles (prefeitura) se esforçam na área da saúde. Como sobrou vacinas, eles já vão adiantando e imunizando o pessoal. Estou muito feliz e espero que outras pessoas também consigam o quanto antes a vacina — contou o agricultor, que se emocionou ao receber a dose da AstraZeneca.
Felicidade compartilhada pela agricultora Arnilde Sosnoski Kriger, 55, que garantiu o imunizante nesta manhã. Ela conta que estava ansiosa:
— Porque é a esperança de poder vencer essa doença. Sei da importância de ter a saúde da população em primeiro lugar.
A dona de casa Elaine Maria Salvati, 55, acordou cedo para não perder a chance.
— Eu estava esperando. Queria mesmo me vacinar porque ajuda. Fiquei surpresa e liguei no posto ontem (segunda) perguntando se era verdade que já estavam nos 55 anos. Elas me falaram que sim. Aí, hoje de manhã, levantei cedo e fui. Fiquei bem contente porque estamos adiantados aqui — declarou, sorridente.
Os três, Arnilde, Elaine e Dorvalino, terão que retornar à unidade de saúde para a segunda aplicação em 31 de agosto. Lembrando que, mesmo depois da segunda dose, especialistas orientam as pessoas a manterem os cuidados do uso de máscara, higienização das mãos e o distanciamento.
Nesta terça, completa exato um ano do primeiro caso de infecção pelo coronavírus em Nova Roma do Sul. Em todo 2020, foram 98 casos positivos de covid-19. Em janeiro deste ano, foram pouquíssimos registros; em fevereiro não chegaram a 10. Mas, em março, houve um salto para 50 novos casos. Em abril foram 70 e, em maio, 120. Mesmo com a vacinação adiantada, a situação preocupa as autoridades locais de saúde.
— O que percebemos, agora, é que se uma pessoa pega o vírus, toda a família dela pega. A transmissão parece mais fácil. Não sei se as pessoas estão se cuidando menos ou se isso decorre das novas variantes do vírus com transmissão maior mesmo — considerou o secretário de Saúde do município, Roberto Panazzolo.
Até o momento foram registrados quatro óbitos (dois no ano passado e dois em maio de 2021) e uma pessoa está internada na UTI, em Farroupilha.
Grupos prioritários já receberam primeira dose
Nova Roma do Sul também largou na frente na região na vacinação dos trabalhadores da educação, em 12 de maio. Foram 61 imunizados, o que representa o total de professores, transportadores escolares, auxiliares administrativos, de cozinha e de limpeza. Outros cerca de 20 tinham entrado nos grupos anteriores, como os de doenças pré-existentes e dos profissionais da saúde, como a fonoaudióloga Giovana Furlin Rizzon, 38, que atua na UBS da cidade e na Escola Municipal de Ensino Fundamental Barão do Rio Branco. Ela já recebeu as duas doses.
— Dependendo da quantidade de profissionais, alguns governantes acabaram reorganizando melhor a distribuição das doses. Aqui, conseguiram beneficiar os professores antes de outras cidades — ponderou.
A professora Michele Boff Moreira, 32, dá aulas para o 2º ano, à tarde, e, pela manhã, assiste a um aluno com espectro autista na mesma instituição. Para ela, a primeira dose foi importante tanto no cuidado com a própria saúde quanto para a preservação da saúde dos alunos.
— Entendemos, tanto nós, professores, quanto o município, a importância de as crianças estarem em sala de aula. A interação com o professor faz muita diferença no ensino — argumentou Michele, em defesa das aulas presenciais.
No dia seguinte à vacinação da área da educação, o município deu início à imunização do público em geral, como são chamadas as pessoas que não se encaixam em nenhum grupo prioritário. A comerciante Inês Santi Lodi estava a dois dias de completar 60 anos, quando ficou sabendo que poderia receber a dose ainda aos 59 e não hesitou:
— Fui correndo, porque trabalho com público e tenho medo também. Meu marido é obeso, tem problema no coração e eu queria fazer a vacina. Ele estava vacinado e eu não. Agora, me sinto mais tranquila, como se tivesse a metade da imunidade já. Estou muito feliz — conta, com a data da segunda dose na ponta língua, 5 de agosto.
Todos os 56 profissionais da saúde, os seis agentes da segurança e as 172 pessoas com doenças pré-existentes já foram vacinados. Da mesma forma, a maioria dos idosos (881), porque cerca de 20 optaram por não fazer, e apenas sete mulheres grávidas ou que tiveram filhos nos últimos 45 dias, pois parte (em torno de 13) também abdicou de se imunizar.
Antes de saber que a idade seria reduzida na campanha do município, a reportagem encontrou diversas pessoas ansiosas pelo dia em que poderiam se vacinar, como o agricultor Natal Tosetto, 54. Contudo, a cidade também tem uma parcela de moradores que são resistentes à imunização, mesmo nos grupos prioritários.
— Eu vou fazer. Mal não faz. Mas tenho que esperar a minha hora. Mas tem gente que não quer fazer. Nem se vai a polícia — relatou Tosetto.
Avanço da vacinação na cidade decorre de realidade local, acredita prefeitura
Desde a primeira remessa, em 19 de janeiro deste ano, Nova Roma do Sul recebeu 2.058 doses de vacinas contra a covid-19, entre CoronaVac, AstraZeneca e Pfizer, em 22 lotes. Deste total, aplicou 1.406 primeiras doses e 651 segundas. A prefeitura estima cerca de 80 habitantes em cada faixa etária do público em geral, abaixo dos 59 anos, que faltam ser vacinados. Isso, para além das segundas doses dos grupos prioritários, já que apenas parte dos profissionais da saúde e dos idosos receberam. Com isso, mesmo tendo avançado antes do que outras cidades nos públicos, a prefeitura projeta que Nova Roma vai alcançar os 80% de imunização da população, a considerada taxa de imunização coletiva, em setembro, na mesma projeção feita pelo Estado.
O secretário de Saúde do município, Roberto Panazzolo, diz que chegou a receber críticas de outros municípios por ter iniciado antes a etapa da educação. Mas ele acredita que o avanço ocorre conforme a realidade de cada município que, muitas vezes, têm mais ou menos pessoas nos grupos em relação ao que estava previsto.
— Acho que o que fez com que antecipássemos um pouco as idades é a realidade local. Não vejo outro motivo. As doses são encaminhadas de forma proporcional, conforme a população. Se temos as vacinas aqui, não podemos deixar paradas. Seguimos os grupos prioritários, mas quando tinha saldo de doses, acabamos avançando — pondera o gestor, referindo que Nova Roma não recebeu mais doses do que municípios vizinhos nem está segurando a aplicação da segunda dose para avançar com a primeira e também não teve pouca adesão, o que justificaria uma sobra maior de imunizantes em cada etapa.
A cidade chegou a ter atraso na entrega de CoronaVac por um período de 20 dias, mas as remessas foram normalizadas. Em março, também houve reclamação por parte de moradores de que a cidade demorava alguns dias para começar a vacinar após receber as doses do Estado, principalmente em vésperas de finais de semana. O secretário disse que isso ocorreu pontualmente e porque as equipes estavam se organizando. Sobre a imunização aos sábados e domingos, ela não ocorre em função da necessidade de pagamento de horas extras aos servidores.
Atualmente, o secretário garante que não há nenhum morador que esteja com a segunda dose atrasada. Eles estão respeitando o intervalo de aplicação.
Para se comunicar com os cerca de 3,7 mil habitantes (população estimada pelo IBGE em 2020), a prefeitura de Nova Roma do Sul utiliza métodos que têm dado muito certo por lá: publicações nas redes sociais (Facebook, Instagram e WhatsApp). Foi assim que a maioria das pessoas com as quais a reportagem conversou disse ter ficado sabendo das datas e horários da vacinação. Depois, foi só dar uma ligadinha para a UBS e confirmar. Aliás, essa é outra prática comum entre os moradores.
— Fiquei sabendo através da divulgação nos meios de comunicação do município na internet, onde todos os munícipes conseguem acompanhar a campanha de vacinação como data, horário e idade das pessoas a serem vacinadas — relatou a agricultora Arnilde.
O posto de saúde também fez busca ativa por telefone do público-alvo acima de 60 anos. Os agentes comunitários de saúde ajudaram. Apenas acamados e idosos com idades muito avançadas ou doentes foram imunizados em casa. A maioria acompanhou o calendário e foi à UBS espontaneamente.