Há pouco mais de um mês, o Hospital Virvi Ramos de Caxias do Sul começou a utilizar um novo equipamento que possibilita uma nova maneira de utilização de ventilação não invasiva no tratamento de pacientes com covid-19. Chamado de "tenda", o equipamento foi desenvolvido com o intuito de possibilitar que alguns pacientes melhorem seus parâmetros de ventilação sem a necessidade de intubação e, consequentemente, auxilia na diminuição do risco de contaminação por aerodispersóides, que são partículas que estão no ar. No aparelho é utilizada a pressão negativa, que elimina vírus, bactérias, fungos e outros patógenos presentes no ambiente.
Foi no início da pandemia, em 2020, a partir da observação de um projeto desenvolvido no norte do Brasil, que o hospital começou a trabalhar na ideia. Foram diversos meses de testes até que o aparelho ficasse totalmente pronto para ser utilizado no ambiente hospitalar.
—A nossa preocupação iniciou quando montamos o hospital de campanha, do risco que teríamos em ter pacientes tossindo, espirrando e assim eliminando o vírus. Vimos que no norte do país tinha tido o projeto de uma tenda, e a partir daí começamos a trabalhar na possibilidade de criá-lo aqui. Inicialmente pensávamos em usar no hospital de campanha, mas evoluímos de maneira que pode ser usado em pacientes com covid-19 que não estão em UTI ou dentro da UTI, principalmente para tentar uma ventilação não invasiva - destaca a diretora executiva do Hospital Virvi Ramos, Cleciane Doncatto Simsen.
O equipamento foi desenvolvido por uma empresa de São Paulo, a Linter Filtros. Eles trabalharam na adaptação e desenvolvimento do equipamento que é responsável pela filtragem de ar, retenção e inativação de vírus, através de lâmpada UVC e filtro HEPA, que faz com que o ar vindo da tenda, que envolve o paciente, ajude na manutenção da vida do mesmo e na melhor qualidade do ar das UTI’s e quartos.
O projeto foi realizado por várias mãos, contando inclusive com o auxílio de voluntários, tais como o consultor técnico, Adelfo Pinto Neto e o engenheiro Alan Castellani Pimentel. O Grupo Uniftec, através do Centro Universitário Uniftec, foi outro parceiro voluntário que emitiu um parecer técnico efetuando medições referentes ao funcionamento do equipamento, a fim de quantificar grandezas como pressão interna, vazão de ar, características dimensionais e outras informações pertinentes para que a equipe do hospital pudesse avaliar e decidir sobre a aplicação da tenda.
Os plásticos que envolvem a tenda foram confeccionados e doados por uma empresa local, assim como os canos de PVC . O único custo foi do equipamento para fazer a pressão negativa, que foi desenvolvido especificamente para esse caso.
A diretora Cleciane salienta que o maior benefício desse projeto é que é mais uma alternativa de usar ventilação não invasiva em pacientes com covid-19 para evitar uma ventilação mecânica, mas ela ressalta que não são todos pacientes que têm a opção, pois alguns já chegam no hospital sem poder usar esse equipamento.
Resultados positivos
Foram confeccionadas três tendas, que já estão sendo utilizadas. De acordo com a coordenadora da Unidade de Terapia Intensiva do Virvi Ramos, Dra. Eveline Gremelmaier, elas apresentam excelentes resultados, pois permitem utilizar a ventilação não invasiva em alguns pacientes com covid-19, principalmente obesos, fazendo com que a intubação, que é a ventilação invasiva, seja evitada.
Ela explica que a ventilação não invasiva minimiza uma série de riscos, pois numa intubação existe o risco do procedimento e o risco de uma intubação prolongada, que pode gerar infecções. A ventilação não invasiva é um aparelho de ventilação só que acoplado a uma máscara e que dá uma pressão maior de oxigênio no paciente que está fazendo o uso.
O soldador Francisco Mendes Rosa, 34 anos, contraiu covid-19 e se recuperou bem ao utilizar a tenda.
— Eu sou obeso e hipertenso. Quando internei, estava com a saturação muito ruim. Era praticamente certo que eu seria intubado quando fui pra UTI. Então, a médica que me atendeu, disse que tinha a possibilidade de usar essa tenda. Eu aceitei e foi ótimo. Usei por três dias consecutivos e foi o suficiente pra eu sair da UTI e me recuperar sem precisar da intubação — explica Mendes Rosa.
Ele usou a tenda por três dias, e no quarto dia teve alta da UTI. Segundo Rosa, com o uso da tenda, a saturação melhorou muito, o que o deixava mais disposto depois de usá-la. Eveline reforça que a utilização dessa estratégia, além da redução da possibilidade de intubação, diminui a contaminação no ambiente.
— A ventilação não invasiva deve ser evitada em locais sem pressão negativa. Então, o uso da tenda nos permitiu utilizar esse método, muito indicado também para casos de doenças pulmonares, obesos ou pacientes com edema pulmonar de origem cardiogênica, como forma de evitar a intubação. Em casos de covid-19, não estávamos utilizando a ventilação não invasiva antes da tenda devido à dispersão de aerossóis no ambiente, em função do alto risco de contágio dos profissionais envolvidos no atendimento — destaca Eveline.