Aos 55 anos, 36 deles dedicados ao serviço público municipal de Caxias do Sul, a professora Sandra Mariz Negrini assume uma das principais secretarias da cidade: a de Educação, e em meio à uma pandemia. Natural de Criúva, distrito caxiense, ela começou a trabalhar aos 14 anos. Mãe de Sofia, 17, Sandra cursou Magistério, e tem formação em Licenciatura em Filosofia pela Universidade de Caxias do Sul com especialização em Psicopedagogia e em atendimento educacional especializado em Neuropsicopedagogia Clínica.
Ela também cursou aperfeiçoamento em Gestão Pública Estratégica (FDRH- Escola de Governo) e tem mestrado em Gestão e Avaliação da Educação Pública pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) em Minas Gerais (MG). A nova secretária é professora da rede municipal de ensino desde 1985. Ao longo da carreira atuou em diversos setores da Secretaria Municipal de Educação (Smed), e também trabalhou na Assessoria técnica do Gabinete da Secretaria de Estado da Educação e na coordenação do Programa Estruturante Saers, o Sistema de Avaliação do Rendimento Educacional do RS. Antes de assumir a função estava na Escola Municipal de Ensino Fundamental Caldas Júnior.
Experiente, ela considera que um dos principais desafios a frente da pasta é administrar a rede municipal de Caxias, com 83 escolas e 43 mil estudantes:
— Sempre me dediquei a estudar sobre políticas públicas e vamos buscar cada vez mais um trabalho com maior qualidade. Temos a missão de fazer sempre cada vez melhor e às vezes com menos recursos. É a maior rede municipal de ensino do RS, e vamos trabalhar a educação com equidade, que é o primeiro desafio posto para a área.
A equidade significa senso de justiça, imparcialidade, respeito à igualdade de direitos. Para Sandra é preciso garantir atenção a quem mais precisa porque o aprendizado tem que chegar a todos da melhor maneira possível. A secretária afirma que a pandemia de coronavírus acentuou as diferenças e todos os alunos têm o direito as mesmas oportunidades de aprender. Para garantir aprendizagem entre os estudantes, independente da situação socioeconômica das famílias, é preciso diagnosticar os problemas.
— As crianças têm o direito de aprender com maior qualidade e quem precisa mais tem que ter maior atenção, mais possibilidade. Com a pandemia sabemos que muitas crianças ficavam sozinhas em casa, sem um adulto para ajudar nas atividades, e isso acirrou as diferenças de aprendizagem. Temos que identificar e diagnosticar essas diferenças para trabalhar com amortecedores e garantir melhores oportunidades de acesso a todos os estudantes — afirma a nova gestora.
Projetos em andamento serão mantidos
Projetos como o Sala de Aula Conectada e a aproximação com as famílias que foram desenvolvidos na gestão de Flávio Cassina (PTB) serão mantidos e fortalecidos na nova administração. O Sala de Aula Conectada prevê a compra de pacotes de internet para os alunos da rede municipal. O programa foi anunciado na gestão anterior como uma alternativa para que os cerca de 6 mil estudantes que têm dificuldade em acessar os conteúdos possam acompanhar as aulas online. O número partiu de um levantamento realizado pela Smed. O município está com licitação em andamento para garantir 50 mil acessos à internet para professores e alunos para ensino remoto. O investimento é de R$ 600 mil.
— Esse programa veio para ficar. Vamos manter porque com essa ferramenta teremos condições de atender com qualidade os alunos. Precisamos diagnosticar quantos deles precisam dos equipamentos também porque tem que ter como acessar a internet e se conectar as aulas. Muitos alunos tem apenas o celular, outros nem tem como acessar nem com o telefone — explica.
Na primeira semana de dezembro, os estudantes que já possuem acesso à rede tiveram encontros virtuais em forma de preparação para o próximo ano letivo.
Volta às aulas
A retomada das aulas pelo calendário escolar está prevista para 18 de fevereiro. No entanto, nesta data os professores devem retornar e então será estudado uma alternativa para a volta dos alunos.
— Na realidade temos o decreto municipal que era vigente até o dia 31 de dezembro, e nossa primeira reunião de secretariado ocorreu nesta segunda-feira (4). Agora teremos as orientações gerais e vamos poder alinhar as definições considerando a pandemia. Vamos estudar as alternativas sempre pensando na saúde em primeiro lugar e na segurança com respeito às normas sanitárias para proteger nossos alunos, professores e funcionários das escolas — aponta a secretária.
A questão deverá ser tratada na reunião com o Gabinete de Crise a partir das 15h desta segunda-feira. No encontro, serão definidas estratégias de combate à pandemia. As escolas estão na fase de elaboração de planos de contingência, que serão enviados à prefeitura, onde passará por etapas até a aprovação para retorno presencial.
Desafios
Administrar a pasta, sendo que a rede de ensino de Caxias do Sul é a maior rede municipal do Estado. São cerca de 3 mil professores em 83 escolas e 43 mil estudantes:
"Temos a missão de sempre fazer mais e melhor, com menos recursos, mas pensando sempre na qualidade do ensino, nessa que é a maior rede do Estado."
Garantir equidade e qualidade educacional para vencer as desigualdades ainda mais acentuadas pela pandemia:
"A pandemia acentuou as diferenças e temos que recuperar o déficit no aprendizado com oportunidade iguais para os estudantes."
Educação Infantil: garantir não apenas o acesso à vaga, mas buscar de forma intersetorial as famílias que mais precisam, que são aquelas que vivem em situação de risco e de vulnerabilidade social.
"Vamos apostar no trabalho intersetorial junto com outras áreas, como a Assistência Social e a Saúde para um busca ativa de crianças de zero a 3 anos que pertencem a famílias inseridas no Cadastro Único e que não estão em creches ou escolinhas. São essas crianças que mais precisam de acesso a esses espaços. Elas têm que estar matriculadas e em atendimento. Sabemos que quem investe na primeira infância qualifica o ensino e oportuniza melhores condições para que essas crianças tenham uma trajetória de sucesso com ensino de qualidade. "
Oportunizar o uso da tecnologia
"O Sala de Aula Conectada irá ajudar a recuperar os prejuízos deixados pela suspensão das aulas presenciais e pela dificuldade dos alunos em acessar o conteúdo ou conseguir realizar as atividades. Com essa ferramenta irá aumentar o período de estudo deles, e assim vamos tentar recuperar o ano de 2020, que segundo alguns especialistas levará cerca de quatro anos para que o aprendizado seja recuperado. A ideia é atender as crianças da melhor maneira possível e fazer com que os professores tenham condições de levar até eles esse aprendizado. Temos que nos valer do mundo tecnológico para qualificar os processos de aprendizagem e desenvolvimento das crianças e adolescentes"
Migração de alunos da rede privada para o município
"Notamos a migração de alunos de escolas da rede privada a partir de maio de 2020 para as escolas da rede pública. Não há números de quantos alunos migraram, mas há expectativa que essa migração continue devido aos efeitos perversos da pandemia que impactaram a economia, emprego e renda. Provavelmente neste ano siga essa migração. Vamos atender essa demanda na medida da capacidade das nossas escolas. Ainda estamos nos inteirando sobre o número de vagas e temos também a parceria com a rede estadual que pode receber alunos do ensino fundamental."