A chegada de dezembro — e do veraneio — será marcada por praias fechadas no Litoral Norte pelos próximos 14 dias. Com a bandeira vermelha fica proibida a permanência de pessoas em locais públicos sem controle de acesso: isso significa que os veranistas não podem ficar em grupos de amigos ou familiares na beira mar. A interdição da faixa de areia é necessária, segundo o governo do Estado, para evitar aglomerações e o coronavírus.
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Em entrevista ao Gaúcha Atualidade na manhã desta terça-feira (1º), o governador Eduardo Leite (PSDB) foi questionado sobre por que é permitido a permanência em locais fechados, como shoppings, e não em públicos. Leite alegou que nas praias, por exemplo, não há controle do número de pessoas que frequentam o espaço:
— É preciso reduzir os contatos e interações e, por isso, estamos buscando desestimular a reunião de grandes grupos. Nos locais como restaurantes e praças de alimentação nos shoppings há um controle de público estabelecido nas normas de horários de funcionamento.
Nas praias, o calçadão será liberado para a prática de atividades físicas, mas a permanência na areia será coibida. A Brigada Militar (BM) está sendo orientada e irá trabalhar para combater aglomerações à beira mar.
— Quando a pessoa para na areia, na praia, geralmente tem comida, bebida, reúne-se gente, tem pessoas sem máscara interagindo, e isso significa contatos e maior exposição e risco de contágio ao vírus — afirmou Leite.
O governador ressalta que a faixa de areia estará interditada por 14 dias e pede compreensão ao veranistas:
— Temos um limite da capacidade de controle do efetivo policial e da fiscalização do nossos municípios. O que pedimos é que por 14 dias a faixa de areia seja interditada para que tenhamos maior capacidade de controle da contaminação. Não estou pedindo que fiquem trancados dentro de casa, mas que não façam aglomerações, não se reúnam em grandes grupos.
Praias interditadas devem impactar na economia e no turismo
A medida preocupa o Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Litoral Norte (Shrbs-LN) e as prefeituras de Torres e Arroio do Sal, destinos muito procurados por moradores da Serra.
Tanto na rede hoteleira quanto no comércio, e também entre os moradores dessas praias, até semana passada havia o sentimento de alegria pelo movimento que aumenta no verão e de apreensão pelo risco de aumento do contágio. Com o novo anúncio do governador, segue a apreensão pela saúde, mas também pelo impacto econômico durante o veraneio. O prefeito de Arroio do Sal, Affonso Flávio Angst, Bolão (MDB), afirma que, perante o aumento do número de casos, as medidas são necessárias. No entanto, ele admite que o impacto na economia será grande:
— Algo precisa ser feito porque os casos estão aumentando. Não será proibido usar a areia, mas não pode ter aglomerações na praia, reunião de pessoas na areia, de amigos ou familiares. O impacto dessa medida será grande porque o comércio e os hotéis já estavam se preparando para o veraneio. Fizeram compras e contratações e será bem complicado economicamente.
Ele ressalta ainda que o município irá cumprir as determinações, mas precisará de apoio da BM e do governo do Estado para fiscalizar as praias.
— Temos 27 quilômetros de faixa de areia, são 27 quilômetros de beira mar. Estamos com cerca de 30 a 40% dos nossos funcionários afastados por estarem contaminados ou com suspeita de covid-19. A preocupação é enorme — aponta.
O prefeito irá se reunir na tarde desta terça com o gabinete de crise para articular ações para os próximos dias.
Em Torres, a situação é a mesma. Com o fechamento da orla de praia, os hotéis da cidade já começaram a receber ligações de pessoas que se hospedariam nos próximos dias. O secretário de Turismo, Cultura e Esporte de Torres, Fernando Néry, afirma que não concorda com o fechamento da faixa de areia. Ele questiona ainda quem irá fiscalizar a circulação à beira mar, uma vez que os fiscais da prefeitura e a Brigada Militar já estão sobrecarregados e sem efetivo para atuar em diversas frentes.
— Pedimos que as pessoas frequentem locais abertos e agora as praias estarão fechadas? Acredito que essa segunda onda veio nos alertar que nos infectamos por descuido, então precisamos sim usar a máscara e manter os cuidados e evitar aglomerações, mas penso que fechar a beira mar não é a melhor decisão. Ficamos de mãos atadas porque não concordo, mas precisamos cumprir as medidas. Fechar o litoral é um desaforo, até porque não se cogita fechar a Serra — afirma.
Neri ressalta ainda que o impacto será sentido nos próximos dias:
— Precisamos de um pouco de tempo para ver de que forma isso vai impactar no veranista para saber se as pessoas vão deixar de vir para Torres em virtude da praia estar interditada ou não. Com certeza o fechamento da orla vai acabar com o nosso principal atrativo.
Os casos em Torres têm crescido nas últimas semanas, sendo que o próprio secretário e o prefeito de Torres, Carlos Souza (PP), foram contaminados com o vírus. Segundo o secretário, o prefeito que está internado em Porto Alegre. Ele se recuperou da pneumonia e do quadro infeccioso de covid-19 e deve receber alta nesta terça para seguir o tratamento em casa.
Shrbs questiona decreto do governo do estado
Cerca de 2,5 milhões de turistas ocuparam o litoral durante o verão de 2019/2020. A expectativa do Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Litoral Norte (Shrbs-LN) para este veraneio era chegar a 3 milhões. Diante do decreto, a presidente do Shrbs-LN, Ivone Ferraz, afirma que não vão fechar as portas.
— Nos preparamos com treinamentos online com a questão de segurança alimentar, atendimento aos hóspedes, novos equipamentos e estruturas de limpeza para receber os turistas na temporada — argumenta.
Ela faz um apelo em nome das entidades ao governo do Estado:
— Em nome de toda nossa classe, eu faço um apelo aos nossos governantes: não nos peçam para fechar as nossas portas porque nós não vamos fechar. Nós ficamos fechados por quatro meses e vocês tinham que fazer a parte de vocês e cuidar da saúde do povo. Agora nós não vamos fechar, vamos paras as ruas, vamos gritar e vamos fazer uma revolução.
A presidente frisa que o setor está preocupado.
— Já teve um freada na questão de reservas e de movimento porque as pessoas estão com medo. Claro que nos preocupamos com a saúde das pessoas, mas também com a economia, que deve continuar, claro que com todos os cuidados necessários e cumprindo os protocolos — diz ela.