Após aparições em diferentes pontos da área urbana de Carlos Barbosa, um bugio-ruivo foi capturado na tarde desta quinta-feira (12), sendo solto em uma mata, no interior do município. O desfecho se deu no bairro Vila Nova, nas proximidades de onde o animal silvestre estava desde a manhã.
O Corpo de Bombeiros Voluntários de Carlos Barbosa chegou a ser acionado. Os primeiros relatos foram recebidos ainda na quarta-feira (11), quando o macaco foi visto por moradores circulando pelo bairro Planalto. Mais tarde, o animal teria trafegado pela área central da cidade, deslocando-se, por fim, para uma área de vegetação próxima ao Centro de Convivência de Idosos, na Rua Nova Bréscia, bairro Vitória (que faz limite com o bairro onde o macaco acabou sendo capturado).
Segundo os bombeiros, agentes acompanharam a movimentação pela manhã, quando o animal estava em cima de uma árvore, a uma altura de 10 a 12 metros, sendo observado por cerca de 15 pessoas. A corporação informa que seguiu as orientações recebidas pela 2° Cia Ambiental de Caxias do Sul (PATRAM), que seriam de efetivar a captura somente se o animal estivesse ferido ou apresentando algum risco à população.
Conforme informações da Secretaria Municipal de Meio Ambiente de Carlos Barbosa, foram populares que acabaram capturando o bugio e o colocaram em uma caixa de transporte. Agentes da prefeitura conduziram o animal até uma localidade da região de Desvio Machado, extremo oposto de onde o animal teria sido visto pela primeira vez.
— Entramos em contato com a Secretaria Estadual do Meio Ambiente para obtermos orientações. Ele não estava ferido, mas permanecer na área urbana realmente representava riscos para ele, que poderia ser atropelado ou mesmo entrar em confronto com algum cachorro... Ele estava bem, sem ferimentos, não estava agitado, foi muito tranquila a soltura dele. Levamos para um local mais afastado, longe de rodovias e que não fica próximo de onde estava, até porque ele poderia acabar voltando — afirmou Ana Leticia Giacomelli, supervisora de Meio Ambiente da prefeitura de Carlos Barbosa.
"Vamos torcer pra que ele se adapte", diz soldado da Patram
A troca de habitat é uma preocupação da Patram, após saber por meio da reportagem que o macaco foi capturado em Carlos Barbosa. O soldado Jonecir Momolli, que atua na 2ª Cia Ambiental de Caxias do Sul, reforçou que, ao ser procurado pelos bombeiros e pela própria secretaria municipal, a orientação era de não capturar o animal se ele não estivesse ferido ou apresentando riscos à população.
— Não sabemos qual a situação pela qual passava este animal, poderia estar somente passando pela região, fugindo de algum predador e, até mesmo, estar buscando alimentos em alguma árvore frutífera. Eles costumam andar em bandos ou, quando machos, podem separar-se para que deem início a um novo bando. Além disso, estes animais têm território e trocá-los de lugar pode significar risco para a sobrevivência deles. Agora é torcer para que este macaco se adapte onde estiver — afirma o agente.
O soldado lembra que esta espécie de macacos faz parte do bioma regional e que, assim como outros animais silvestres, eles costumam migrar mais durante o período de reprodução.
— A orientação que temos é de evitar a captura ou, quando ela for necessária, que a soltura seja nas proximidades de onde foi encontrado, para não tirar o animal de seu convívio natural. Não sabemos a situação do animal quando ele surge no meio urbano e podemos criar um problema ao invés de resolver a situação. As pessoas enxergam animais e querem capturar, querem dar um destino, mas destinar para onde se nós é que estamos no habitat deles? — completa o soldado.
Biólogo diz que encontros como este serão mais frequentes
A aparição de animais silvestres em regiões urbanizadas não é novidade — nem mesmo aparição do bugio, que também já foi registrada em Caxias do Sul. A situação que ainda gera estranhamento tende a se tornar cada vez mais recorrente, conforme explica o biólogo e ecólogo Ricardo José Stein, professor e diretor da Faculdade Murialdo.
— O crescimento urbano acaba reduzindo o habitat nativo de destas espécies e, por isso, o encontro com animais vai ser cada vez mais frequente. Infelizmente, muitos acabam morrendo por atropelamento ou por ataque de animais domésticos — comenta o especialista, que é doutor em Biologia e coordena o Famur Selvagem, grupo de estudos da faculdade que pesquisa mamíferos.
Analisando as imagens do macaco que circulou pelas ruas de Carlos Barbosa, Stein confirmou que trata-se de um bugio-ruivo — cientificamente classificado como "Alouatta guariba" —, adulto, provavelmente macho. Ele explica que o bugio-ruivo é um animal gregário (que vive em bandos ou em grupos), sendo que o deslocamento para fora de seu convívio pode representar riscos à sua sobrevivência.
— A reintrodução não é apenas recolocar o animal em qualquer outro lugar, porque pode ser que o espaço não tenha o que aquele animal precise para sobreviver. Com o aumento da urbanização, eles vão aparecer cada vez mais e os municípios precisam se preparar para atuarem nessa reintrodução de forma adequada — conclui o professor.