Já pensou em chamar uma corrida por aplicativo e ao entrar no carro ter a sensação de estar em uma balada? Em Caxias do Sul, isso é possível. Em 2017, Guilherme da Silva Camello, 28 anos, decidiu deixar seu emprego como metalúrgico e investir no setor, que ainda era uma novidade na região. Ele comprou o veículo, um Voyage da cor chumbo, que acabou transformando no Uber da Balada.
—Sempre fui muito curioso, pesquiso muito. E logo quando comecei, uma passageira que busquei no aeroporto me contou que na Alemanha tinha pego um Uber diferente, que tinha uma balada dentro do veículo. Então, decidi me engajar nessa ideia – conta Guilherme.
Aos poucos, ele foi investindo. Começou com um globo de luzes no teto do carro e hoje soma cerca de R$ 10 mil em equipamentos. Dentre os acessórios estão três telas de DVD e TV digital, dois strobos de luzes piscantes, Wi-Fi, Bluetooth, Spotify, uma bomboniere recheada de chocolates e balas e até gelo seco.
— A máquina de gelo seco é a última e principal aquisição. Foi nesse ano que eu consegui fazer tudo o que eu sempre quis. Hoje o meu carro está completo, já nem cabem mais acessórios — afirma.
Para equipar o veículo, foi necessário muito estudo e planejamento, já que não existem aparelhos específicos para balada veicular no Brasil.
— Existe todo um trabalho por trás do Uber da Balada. Contratei um engenheiro para fazer o projeto, adaptar o carro para 220 watts, colocar um gerador. Foi tudo muito calculado para garantir a segurança e qualidade dos equipamentos – explica.
Ele soma mais de 10 mil corridas e, para sua alegria, mais de 80% receberam avaliação de cinco estrelas. Com uma carta fixa de 400 clientes, Guilherme trabalha todos os dias e fez desse o seu principal e único negócio, que além de lhe garantir renda, proporciona muita alegria. Guilherme também participa da Associação Liga dos Motoristas de Aplicativos (Alma), subseção Serra, que luta pelos direitos do setor.
Uber chama a atenção dos passageiros
O primeiro impacto dos que ainda não conhecem o Uber da Balada é a dúvida, já que é algo inusitado e único na cidade. E, segundo Guilherme, a reação depende muito da situação em que o passageiro se encontra no momento.
— Normalmente quando eles entram, ficam muito curiosos e surpreendidos. Pensa, dia de semana, a pessoa indo trabalhar, e se depara com todo esse aparato. Acaba mudando o dia de muita gente.
Apaixonado pelo trabalho, Guilherme coleciona muitas histórias. Mas, um dos casos mais marcantes, ocorreu há poucos dias e envolveu uma senhora de 89 anos.
— Ela entrou, viu as luzes e perguntou o que era. Então eu expliquei tudo o que o carro oferecia. Ela pediu se eu tinha todas as músicas e me deu o nome de uma. Quando eu coloquei, ela começou a chorar e disse: “nos meus 89 anos eu nunca mais tinha ouvido essa música e nunca mais tinha colocado meus pés numa festa. Isso mudou meu dia” —relembra, emocionado.
Por mais que os clientes “carro-chefe” sejam os jovens, principalmente durante a noite e madrugada, Guilherme não deixa de levar pessoas para o trabalho ou até mesmo crianças para a escola. Cada um escolhe a sua playlist e curte o trajeto.
— Criei o Uber da Balada para os adultos, mas as crianças são as que mais gostam. Os jovens se identificam muito. Quando entram, não querem mais sair, se sentem em casa. Ainda mais agora com a pandemia, que impede a realização de festas, eles podem durante a corrida participar de uma balada.
Os dias de mais trabalho na madrugada são nos finais de semana, de quinta-feira a domingo. Antes da pandemia do coronavírus, as viagens eram principalmente para deixar as pessoas em festas e um dos diferenciais é que Guilherme disponibiliza até uma chopeira. Para os dias de frio, também instalou uma máquina de café para os clientes enfrentarem o clima da Serra.
Da sua carta de cerca de 400 clientes, muitos tornaram-se grandes amigos. E, na maioria das vezes, a proximidade aconteceu por causa dos diferenciais do veículo.
Solidariedade no Natal
Além de ser um veículo inusitado por causa dos acessórios de balada, em uma das épocas do ano mais esperadas, o Natal, o carro recebe uma decoração especial, além de abraçar uma importante causa. Guilherme coloca cartas de crianças carentes em uma espécie de “varal”, para que os passageiros possam realizar o sonho das crianças. No ano passado foram cerca de 400 pedidos atendidos. A meta deste ano é de 500. Ele já tem uma lista de crianças que ajudou através das associações dos bairros e demais entidades engajadas na causa.
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