O Dia dos Pais — celebrado neste domingo (9) — provavelmente será diferente para muitas famílias de Caxias do Sul neste ano em função do distanciamento social recomendado como forma de prevenção à covid-19. O cuidado indicado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) desde o início da pandemia do novo coronavírus segue valendo mesmo na data comemorativa, com alerta ainda maior para os filhos que não moram junto de seus pais e que, eventualmente, estejam planejando visitá-los.
— A gente identifica que a maioria dos idosos que chegam ao atendimento nas UTIs contraíram a doença após o contato com algum familiar. Geralmente são pessoas que estavam em casa, tomando todos os cuidados, mas que receberam visita de parentes que não estavam se cuidando da mesma forma — relata a médica infectologista Andréia Dal Bó, diretora da Vigilância Sanitária de Caxias do Sul.
Ela explica que, pelo fato de muitas pessoas passarem pela doença apenas com sintomas leves, a mesma sequer é notada, em alguns casos. Ainda que a reunião familiar ocorra com todos os cuidados, alguns pequenos deslizes podem fazer com que pessoas mais vulneráveis contraiam o vírus, desenvolvendo uma versão mais agressiva da covid-19.
— Mesmo mantendo o distanciamento, as pessoas vão tirar a máscara para comer. Além disso, utensílios como talheres e copos ou o próprio chimarrão aumentam os riscos. Por isso, o ideal é evitar a confraternização neste momento — indica a médica.
Em Caxias do Sul, até esta quarta-feira (5), 57 pessoas já tinham morrido após contraírem a covid-19, sendo um terço dos casos registrados nas últimas duas semanas.
— Estamos ainda em uma ascendente de casos importante, sabemos que as pessoas estão cansadas do distanciamento, mas ainda teremos alguns meses pela frente. Este não é o momento de relaxar, e sim de intensificar os cuidados, principalmente buscando preservar a saúde em um dia que é de celebração — completa a infectologista.
Almoço pode ter causado contágio generalizado
Sete pessoas de uma mesma família tiveram diagnóstico positivo para covid-19 após um encontro de aproximadamente 10 pessoas, de três residências diferentes, na casa da mãe. Nenhum dos casos demandou internação hospitalar, sendo o isolamento domiciliar encerrado na semana passada. Ainda assim, o período de recuperação foi motivo de preocupação para Eloni Onzi, 54, que realizou o almoço com o marido, Jorge Dummer, 57, além de um filho, duas filhas, dois genros e três netas, no dia 5 de julho.
— Quando me ligaram para informar que meu teste tinha dado positivo eu fiquei bem preocupada. Não queria que meus filhos pegassem e disse para eles ficarem atentos aos sintomas, buscarem atendimento caso sentissem qualquer alteração. A gente não sabe como lidar, porque na televisão a gente só vê pessoas que morrem. Lidamos com isso e, no fim, eu fui a que mais teve sintomas. Cada dia era algo diferente: dor de cabeça, dor nas costas... — relata a moradora do bairro Mariani, que chegou a ter a história de superação da doença publicada pela página do bairro em um grupo do Facebook.
Ela conta que desde o início da pandemia ela e os filhos não haviam mais realizado os tradicionais encontros de domingo. No dia 5, a dona de casa decidiu convidar a todos para um almoço sendo, de acordo com ela, tomados todos os cuidados de distanciamento e uso de máscara.
— Minha nora estava com dor de cabeça e ficou em casa. Meu filho e minha neta vieram. Depois ela foi diagnosticada e achamos que pode ter sido por aí que o contágio ocorreu — afirma Eloni, que começou a sentir sintomas cerca de cinco dias depois.
Ainda antes, dois dias depois do almoço, o filho já apresentava sintomas e testou positivo para covid-19, que afetou Eloni, o marido, as duas filhas e uma das netas, que sequer apresentou sintomas.
Passado o susto, Eloni diz que o assunto agora virou até brincadeira entre a família, que segue tomando cuidados. Ela diz ainda preservar o distanciamento da mãe, de 90 anos, a qual encontra somente da calçada em frente à casa.
— As minhas irmãs são todas mais velhas do que eu, nos vemos só por videochamada. Choramos de saudade, mas estamos nos cuidando — garante.
HOMENAGEM À DISTÂNCIA
O abraço é insubstituível, mas, diante dos riscos que atualmente ele pode representar, elencamos algumas alternativas para que nenhum pai deixe de ser homenageado neste domingo:
:: Chamada de vídeo
Desde o início da pandemia, aplicativos que proporcionam o encontro virtual tem sido a forma mais utilizada de matar a saudade de quem se gosta sem quebrar o isolamento social. No Dia dos Pais, um dedo de prosa e até um chimarrão podem ser uma ótima forma de se fazer perto, mesmo que à distância.
:: Presente por encomenda
A maioria dos presentes que você pensava em dar para o seu pai presencialmente, podem ser enviados de forma segura por intermédio da entrega oferecida pelas próprias lojas, principalmente em compras online. Alguns estabelecimentos de Caxias também oferecem cestas de produtos, com delícias que podem deixar o Dia dos Pais, no mínimo, saboroso.
:: Música para celebrar
Uma proposta que vem se popularizando com o distanciamento da pandemia é a de serenatas. E não é só para os enamorados que elas servem. Muitas pessoas têm usado da música para "abraçar" de longe a quem amam. Caso não queira depender de seu talento (ou falta dele), também é possível contratar profissionais de diversos estilos que atuam na cidade.