Os protocolos de proteção para os profissionais de saúde foram reforçados nos ambientes hospitalares e a rotina de quem trabalha em instituições de saúde também mudou com o coronavírus. A pandemia provocou a criação de novas regras, como a restrição de visitas, divisão de equipes e mudanças na circulação interna de quem trabalha nos hospitais de Caxias do Sul. A higienização, que já era rígida, conta com mudanças e reforço dos profissionais para redobrar os cuidados diários e evitar a disseminação do vírus.
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A limpeza intensa e o uso de equipamentos de proteção já faziam parte da rotina dos hospitais. No entanto, pela capacidade do vírus de sobreviver em superfícies inanimadas e pelo crescimento de casos no país, todos os procedimentos ganharam um status ainda mais importante. Um batalhão de profissionais de higienização é mobilizado todos os dias focados em combater o coronavírus. A limpeza é repetida muitas vezes ao dia em todos os ambientes que possam ser tocados como mesas, bancadas, maçanetas, corrimão, botões dos elevadores e cadeiras.
Já os cuidados com proteção são iguais aos adotados por médicos, enfermeiros e técnicos. O equipamento de proteção individual (EPI) é padrão. Cada kit conta com sapato, óculos de proteção, máscara N95, toca descartável, avental descartável, avental impermeável, luvas especificas e protetor facial feito em acrílico para proteger todo o rosto e pescoço.
Cuidados redobrados em casa
As mudanças provocadas pelo impacto da chegada da covid-19 tiveram efeito no dia a dia de Nelânia Salete Teles de Souza, 40 anos, que há sete trabalha como higienizadora no Hospital do Círculo. Acostumada às exigências do protocolo de limpeza do hospital, ela garante que os cuidados foram ampliados, como a exigência de uniforme específico e demais equipamentos para evitar o contágio:
— Quando chego visto uma roupa cedida pelo hospital e, após o meu turno, ela é entregue na lavanderia onde é lavada. A nossa higienização tem que ser muito mais cuidadosa e preventiva. Como passamos a usar novos equipamento, tivemos capacitação sobre como colocar e retirar cada um dos itens — descreve ela.
No caminho para casa e ao chegar na residência depois o trabalho, Nelânia repete o exemplo da maioria dos profissionais da saúde: tirar os sapatos.
— Eu não pego o ônibus, porque moro perto do hospital. Tomo todos os cuidados no caminho, como o uso de máscara. Ao chegar em casa, deixo os sapatos do lado de fora. Dentro de casa, vou direto tomar banho para cuidar bem da minha família — ressalta ela.
Como as orientações para evitar a propagação do coronavírus são atualizadas com frequência, os funcionários do setor procuram se adaptar rapidamente às normas. Supervisor de higienização do Hospital Virvi Ramos, Muriel Gomes de Moraes, 31, trabalha no setor há quatro anos e seis meses. Ele afirma que os protocolos de limpeza se tornaram mais rígidos para garantir a proteção da equipe e dos pacientes:
— Limpamos, principalmente, as superfícies onde as pessoas tocam com mais cuidado e frequência. Também orientamos a equipe e os clientes a higienizar as mãos com frequência e usar álcool gel.
Em casa, ele também toma cuidados:
— Moro sozinho, mas mesmo assim tomo os cuidados necessários, como tirar o sapato ao chegar e colocar outro calçado para entrar em casa. Também vou direto lavar as mãos e tomar banho — conta ele.
COMO É A ROTINA EM CADA HOSPITAL DE CAXIAS
HOSPITAL DO CÍRCULO
No Hospital do Círculo, a higienização dos ambientes e a troca das roupas de cama passaram a ser mais frequentes. A coordenadora do Serviço de Hotelaria, Vanessa Galiotto, ressalta que o protocolo para evitar a disseminação do vírus é amplo.
— O primeiro passo começou com a restrição de visitas e do número de acompanhantes, a divisão de equipes para reduzir os riscos, separados em área verde e vermelha, que é onde são atendidos os casos suspeitos, bloqueios físicos para evitar a circulação entre as áreas, entrada e saída diferenciada para quem atende paciente suspeitos e reforço de protocolos de higienização em todo o hospital.
Vanessa ressalta que a limpeza foi reforçada, inclusive, com a contratação de profissionais:
— Incrementamos rotinas no que a equipe já fazia no dia a dia. Discutimos medidas entre os gestores e o controle de infecção para manter as superfícies livres do vírus, como maçaneta, bancadas e mesas de trabalho. A limpeza era a cada seis horas e passaram a ter rotina muito mais frequente, as maçanetas por exemplo, são limpas em intervalos menores que uma hora. Já, a cada quatro horas, as mesas. Aumentamos a equipe com a abertura de vagas extras e estamos com 59 funcionários na higienização.
Quanto aos equipamentos, Vanessa aponta que ele foi reforçado:
— Temos no dia a dia o uso de EPI padronizado de acordo com o risco de atuar em cada setor. Pensando na covid-19, os profissionais agora recebem um kit completo e protetor facial. Eles usam a mesma paramentação de médicos e enfermeiros. Não há distinção e a proteção é estendida. A roupa que ele vem trabalhar é deixada no armário e, quando ele sai, deixa a roupa que usou durante o dia para ser lavada no hospital, e recebe outra limpa no outro dia seguinte.
Sobre o resíduo, existe um coletor específico para cada área. O profissional usa todo o equipamento necessário.
— Em caso de pacientes suspeitos ou confirmação de covid, é considerado resíduo infectante. Ele é colocado em saco vermelho, em bombonas plásticas e retirado fechado para ser encaminhado a uma empresa terceirizada e esterilizado — explica Vanessa.
HOSPITAL GERAL
No Hospital Geral, o processo de higienização e desinfecção foi intensificado com a epidemia. Atualmente, 54 funcionários estão na higienização e 21 na lavanderia. O quadro funcional ainda não foi ampliado, porque como a Universidade de Caxias do Sul (UCS) restringiu atendimentos, funcionários foram cedidos para o HG.
— O combate ao vírus aumentou a demanda também no setor de higienização então vamos ampliar o quadro funcional. A lavanderia também precisou mudar os processos porque aumentou o número de lavagens, o uso de uniformes foi expandido para demais profissionais porque ampliou a atividade em áreas restritas. Também foram tomados mais cuidados em outras áreas, mesmo onde não há casos suspeitos porque há circulação dos profissionais — explica Gicela Bortoluz, gerente operacional do HG.
Ela acrescenta que o hospital teve tempo de se preparar e capacitar a equipe:
— A capacitação foi para que tivessem acesso a informação e soubessem com o que estão trabalhando. A equipe sabe como combater o coronavírus, porque eles sabem o que está fazendo e com o que estão lidando. Eles têm que estar tecnicamente bem orientados e também tem que se proteger — ressalta.
À frente da coordenação do serviço de higienização, lavanderia, resíduos, hotelaria e costuras, Morgana Merib Boeira destaca que os protocolos:
— A limpeza, principalmente, nas superfícies que são tocadas, foi ampliada. Já temos um processo rígido na lavagem de enxoval porque tem que ser muito bem cuidado, indiferente em relação ao tipo de vírus. Agora, o procedimento também foi intensificado para combater o coronavírus. O processo de lavagens aumentou muito porque hoje, de hora em hora, as equipes estão passando rodo nas paredes, limpando os botões dos elevadores e as superfícies. Também aumentou a frequência da troca e consequentemente das lavagens de roupas de camas — explica Morgana.
Todo o material usado pelos pacientes suspeitos da doença se torna infectante. Os resíduos, assim como nos demais hospitais, são colocados em bombonas fechadas e encaminhados a uma empresa para não ocorrer risco de infecção:
— O material que sai do espaço onde está esse paciente é separado já no carrinho para não misturar com os demais. O carro é desinfetado separadamente também antes de voltar para uma nova coleta — finaliza Gicela.
HOSPITAL POMPÉIA
A responsável pela hotelaria do Hospital Pompéia, Eduarda Marini, afirma que a equipe está completa e os protocolos foram ampliados para combater a disseminação da doença:
— Intensificamos a higienização, principalmente, nas superfícies de toque, com a limpeza de maçanetas, corrimão, interruptor de luz, botões de elevadores, sendo que a cada duas horas é feita a higienização. Sempre que possível mantemos um funcionário específico em turno integral para o reforço da limpeza dessas superfícies.
Em casos suspeitos, os cuidados são redobrados.
— Já fazemos higienização completa dos ambientes e, nos casos de suspeita de covid-19, usamos o produto hospitalar com uma diluição mais concentrada para garantir a melhor eficácia possível. Aguardamos uma hora para inicio da limpeza, em caso de alta, para garantir a segurança e com todos os equipamentos de proteção individual, alinhadas com o serviço interno de controle de infecção. É feita a higienização total e em meia hora realizada novamente a limpeza — explica Eduarda.
A rotina também mudou na lavanderia do hospital:
— Mudamos um pouco o processo, as roupas já vêm identificadas como de isolamento de covid-19 e vai diretamente para a máquina para uma lavagem pesada, para ter o mínimo de manuseio e dispersão possível.
HOSPITAL SAÚDE
No Hospital Saúde, os protocolos também foram intensificados. A gerente de hotelaria, Ariane Bueno da Silva, explica como é a rotina da equipe:
— A higienização ocorre com a equipe devidamente paramentada com equipamentos de proteção individual. A funcionária entra no leito para fazer a limpeza de rotina pela manhã. A higienização é feita com sabão neutro e hipoclorito e álcool 70% nos quartos ou box.
O transporte de roupas de pacientes infectados também é rigoroso:
— Recebemos todo o enxoval do leito contaminado protegido por sacos vermelhos e hampers (saco hospitalar) o qual identifica como roupas infectadas. As mesmas são processadas pelos funcionários da lavanderia na área suja. Os funcionários estão com os devidos EPIs dentro de todo seu horário de trabalho.
Ela acrescenta que a lavagem também tem protocolos específicos:
— As roupas infectadas por coronavírus somente são abertas dos hampers lacrados no momento de realização de sua lavagem, num processo super pesado, o qual é destinado para roupas infectadas. Após uma lavagem de duas horas com os produtos adequados, seguem seu fluxo normalmente de centrifugação, secagem e calandragem para, após, serem entregues nos setores de internação para utilização nos leitos.
HOSPITAL DA UNIMED
A enfermeira e coordenadora do Controle de Infecção Hospitalar (CIH), Higienização e Resíduos do Hospital da Unimed, Andressa Marques da Silva explica que a equipe passa por um rigoroso treinamento. A orientação para atuar na higienização é baseada no manual de limpeza e desinfecção de superfícies da Anvisa.
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— Quando o paciente está no leito, a equipe utiliza quartenário de amônia e biguanida de quinta geração e álcool 70% nas superfícies em alguns locais. Já nos banheiros, é usado hipoclorito de sódio. Quando o paciente tem alta, a equipe usa quartenário de amônia, mais biguanida de quinta geração, hipoclorito no banheiro, mas a limpeza é dupla. Elas paramentam e limpam a primeira vez e depois trocam tudo, limpam baldes, trocam panos e limpam novamente o espaço.
Depois da limpeza, o CIH vistoria o espaço:
— A vistoria é por amostragem para avaliar a efetividade da higienização, além das camareiras que também avaliam todos os leitos limpos antes da entrega para o próximo paciente.
Andressa explica que as atualizações e capacitação são periódicas para que a equipe perceba como é essencial no combate à doença.
— O treinamento é frequente para que a equipe entenda a importância de toda a metodologia de limpeza, especialmente, em relação às bactérias. Com as orientações, é ensinado sobre as bactérias, e assim, podemos mostrar para elas a importância do trabalho delas. Hoje elas fazem por entender que é uma função essencial, e não apenas porque falaram para fazerem, elas sabem a necessidade de limpar de maneira correta — aponta Andressa.
Além disso, nos locais de maior circulação, a equipe aplica uma solução clorada. A substância é colocada nas entrada de funcionários, de fornecedores e no pátio. O processo é realizado duas vezes por dia para reduzir a carga de microrganismos fora do hospital, e evitar que sejam levados para dentro do complexo hospitalar. Os tapetes também estão molhados com soluções de hipoclorito para limpar as solas dos sapatos ao circular pelo espaço.
HOSPITAL VIRVI RAMOS
A coordenadora do Controle de Infecção do Hospital Virvi Ramos, Viviane Letícia Piccoli Calgaro, esclarece que a higienização nas áreas onde há maior circulação vem sendo realizada a cada duas ou três horas.
— Usamos produtos à base de quaternários de amônia e biguanida que são agentes poderosos no combate contra essa bactéria. A substância é recomendada pela Anvisa. Intensificamos as higienização nos botões do elevadores, corrimão das escadas e corredores, maçanetas das portas, chave de luz, cadeiras na área de recepção, em todas as superfícies que são tocadas.
São 24 funcionários no setor de higienização e 16 na lavanderia. A equipe foi reforçada com o aumento da demanda. Todos receberam capacitação:
— Os treinamentos foram intensificados com orientações para as equipes sobre as mudanças no protocolo de limpeza, sobre o vírus e os cuidados necessários e também em como usar e retirar o equipamento. Quem tem contato com casos suspeitos, trabalha com uniforme diferente. A roupa é entregue quando ele chega e depois é deixada, no final de cada turno, para que a higienização seja feita no hospital.
A orientação também é sobre os cuidados no deslocamento para casa:
— Orientamos para que não entrem em casa com o calçado, que usem máscaras, que troquem a roupa com mais frequência, porque eles estão se deslocando nas ruas e ambientes externos — aponta Viviane.
Além disso, quando o paciente entra em isolamento por suspeita de covid-19, os resíduos retirados do quarto ou da UTI já são encaminhados para empresa específica com destinação para infectante e incinerados.