No primeiro segundo de vida, Ana Laura Carlosso já nascia com uma história especial a ostentar: nasceu no Dia das Mães, em tempos de pandemia e isolamento social e veio ao mundo em parto realizado em casa, pelo próprio pai, Franchesco. Contudo, a narrativa da noite movimentada não foi tão mágica quanto parece.
Em confinamento com a família, no nono mês de gestação, Taísa Censi passou a sentir dores por volta das 20h de sábado. Não se preocupou, inicialmente, por serem palpitações fracas, pela experiência de outras gestações, e por não pensar que era "a hora".
Foi então na madrugada que as dores aumentaram e surgiram as contrações. Era por volta de 3h40min quando Franchesco ligou para a mãe de Taísa, pedindo que ela fosse até a moradia do casal para ficar com os outros dois filhos, enquanto eles iriam até o hospital para o trabalho de parto. Após a sogra de Franchesco chegar, por volta das 4h, no momento que o casal saía para ir ao Pompéia, percebeu que não daria tempo.
— Foi minha terceira gestação e o terceiro parto normal. Um foi bem diferente do outro então dá, sim, para ter surpresas e experiências diferentes. Eu estava esperando a bolsa estourar, em função da pandemia não queria ficar muito tempo no hospital. Estava só com contração, daí decidi ficar em casa. Mas aí bolsa não estourou e a contração foi piorando — relata Taísa.
Foi então que Franchesco tentou buscar orientações com a ginecologista de Taísa.
— Liguei para a ginecologista e disse "ó, tá nascendo aqui" e a gineco falou "como assim está nascendo? Vão para o hospital", falei que achava que não ia dar tempo, mas ia tentar. Tentei ajudar minha esposa a caminhar, mas ela não conseguia mais, aí ela se agachou no chão da área de serviço e quando olhei o bebê já estava a cabeça para fora — relata Franchesco.
O parto, relata, foi feito na base do improviso, durou menos de 10 minutos e foi mais fácil do que imaginava.
— Como eu assisti aos outros partos tentei fazer mais ou menos como as médicas tinham feito. Puxei ela para fora e nasceu, enrolamos nas cobertas, não cortamos o cordão, por orientação da gineco e fomos para o hospital. Foi mais fácil do que imaginava e bem diferente do que vemos nos filmes, onde o bebê sai já limpinho. A Ana Laura nasceu até sem chorar, tive de dar uns tapinhas para ela começar a chorar — descreve.
Para Taísa, a tranquilidade do marido diante da situação foi essencial para que desse tudo certo com o procedimento:
— Meu marido e minha mãe foram fundamentais, a calma do meu marido foi o que possibilitou que me mantivesse calma também, e a presença da minha mãe garantiu a minha segurança emocional. A Ana Laura já nasce numa fase de mundo diferente e nasce em casa. Já nasce corajosa a menina.
Adrenalina controlada
A situação inusitada foi coerente em tempos que se recomenda o isolamento social, porém, de acordo com o pai de Ana Laura não foi necessariamente intencional.
— Foi questão de cinco minutos, não deu para pesquisar ou preparar nada. Fiquei até relativamente tranquilo, mas não deu tempo de fazer nada. E acabou que nasceu num lugar mais seguro que no hospital neste momento — observa Franchesco.
A sogra, que inicialmente iria ficar com os outros dois filhos do casal, acabou sendo auxiliar no procedimento.
— Ela ficou na volta meio apavorada, mas alcançou as toalhas, ficou de auxiliar de enfermagem (risos).
Franchesco diz que a ficha começou a cair somente horas depois, quando tudo já estava sob controle:
— Fomos na adrenalina para o hospital, só agora (tarde de domingo) que comecei a digerir tudo. Agora é só sentimento de gratidão, não deu nenhum problema com a mãe e nem com a criança. Ana Laura já nasceu com história para contar - ressalta.
Ana Laura nasceu com 3,220 quilos e 48 centímetros.
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