O álcool gel se tornou um aliado no combate a infecção provocada pelo novo coronavírus. É raro o produto não ser encontrado em bolsas, carros, empresas, supermercados e na maioria das casas em todo o mundo. Em Caxias do Sul não é diferente: ele é usado para a limpeza das mãos e objetos como celulares, além de superfícies, inclusive, nas cozinhas das moradias. De uma hora para a outra, virou item indispensável, e essa presença constante aumenta o risco de intoxicação das crianças.
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A pediatra Mara Mendes explica que em crianças com menos de um ano, o ideal é que os pais lavem as mãos com água e sabão, e depois, passem álcool gel nas mãos para então pegar o bebê no colo. Ela orienta a não usar álcool gel nas mãos das crianças:
— Eles têm a pele mais sensível e pode provocar uma irritação na mão do bebê, porque tem uma grande quantidade de álcool, e até na boca, porque as crianças colocam as mãozinhas com frequência na boca. Tem de lavar as mãos deles com água e sabão e evitar o álcool gel.
A variedade de produtos também chama atenção, especialmente, dos pequenos que estão na fase de explorar a casa e os objetos. Isso porque há versões em embalagens diferentes, coloridas, com bolinhas e brilho e até com cheiro que instiga a curiosidade das crianças.
— É um atrativo para as crianças maiores de dois anos. Diversos pacientes meus adoram o álcool gel por causa das bolinhas e se for colorido melhor ainda. Eles tentam colocar na boca. A sorte dos pediatras é que o gosto do álcool é muito ruim. As crianças colocam na boca, mas não ingerem grandes quantidades — explica Mara.
Mesmo assim, em um bebê quantidades pequenas podem ser suficientes para uma intoxicação. Os pais devem ficar atentos aos sintomas como sonolência, fala arrastada, tontura e mudança do comportamento:
— O produto tem uma concentração de 70% de álcool, então, os sintomas de intoxicação são os mesmo que ocorreriam por ingestão de vodca, por exemplo. Com as crianças menores, a melhor indicação é levar ao hospital, porque um bebê não tem como contar o que tomou.
No caso de uma criança maior, que aceite tomar líquidos, principalmente água, e que consiga manter uma conversa, o melhor é ficar em casa devido à pandemia.
— Tem de dar líquidos, conversar com o pediatra pelo telefone e manter ela acordada ou, no caso de dúvida, ir ao hospital — finaliza a pediatra.
Acidentes
O comandante do 5º Batalhão de Bombeiros Militar (5º BMM), tenente-coronel Julimar Fortes Pinheiro, ressalta que o risco de acidentes pela manipulação de qualquer tipo de álcool por crianças aumenta devido ao isolamento social:
— Os riscos são maiores ainda mais neste momento em que as crianças estão ficando quase que exclusivamente dentro de suas casas e, desta forma, aumentando a possibilidade de acidentes domésticos. Os pais ou responsáveis devem manter o máximo de cuidado possível quanto a exposição das crianças a este tipo de produto para que elas não tenham possibilidade de acessar os recipientes de álcool gel ou qualquer outro tipo de produto tóxico ou inflamável — recomenda.
Em casos de intoxicação, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária atende pelo número 0800-722-6001. A ligação é gratuita.
Cuidados para evitar o contágio, sem descuidar do risco de acidentes
A advogada e professora universitária Fernanda Pimentel, 38 anos, é mãe de João Gabriel, nove, e Miguel Francisco, cinco. Ela conta que mantém os cuidados para evitar intoxicação e queimaduras.
— Sempre tivemos cuidado com produtos de limpeza, tínhamos álcool gel guardado junto com os demais produtos, e usávamos esporadicamente. Como hoje é algo para cuidado e para a saúde, colocamos em locais altos, em frascos, para que, especialmente o mais pequeno, possa usar com facilidade, mas monitorado por nós, porque sabemos que às vezes as crianças não têm noção do perigo.
Ela ressalta que os filhos entenderam que os cuidados foram intensificados para evitar a doença:
— Na escola, eles já tinham muito forte o cuidado com questões de higiene e organização, então agora não ficou como uma imposição usar o álcool gel. Eles sabem que é para o cuidado e, apesar de pequenos, entendem a seriedade, então, não temos álcool gel com carinhas, bolinhas, porque é para a saúde, não uma brincadeira. Os dois entenderam que é um carinho e um cuidado necessário.
Chamas menos aparentes
Os adultos devem intensificar os cuidados não apenas com as crianças. O que não se pode esquecer é que o álcool gel é um combustível inflamável e, portanto, pega fogo com facilidade. As chamas são menos visíveis, o que pode aumentar o risco de acidentes.
— Na verdade, no álcool gel a chama é menos aparente. Isso ocorre porque é uma solução a base de álcool etílico, na concentração de 70%, e quando exposta a uma fonte de calor irá produzir uma chama mais "fraca", considerando que sua volatilidade, que é a evaporação, também é menor se comparada ao álcool hidratado, que tem uma concentração de 95% e ao álcool anidro, com concentração de 99 a 100%. Quanto menor a concentração na mistura, menor a sua capacidade de queima, porém continua sendo um produto inflamável — explica o comandante dos Bombeiros, Julimar Fortes Pinheiro
Ele alerta:
— Não é recomendável utilizar álcool gel nas mãos ou qualquer outra parte do corpo e ter exposição imediata a alguma fonte de calor (fogo) pelo risco iminente de queimadura. Assim como também há um grande risco em tentar se produzir álcool em gel a partir de "receitas caseiras". Quando feito por processo industrial, há todo um cuidado na sua fabricação, segundo o que prevê as normas da Anvisa. Mas, se feito em casa ou de forma improvisada, é extremamente perigoso, por se tratar de um produto altamente inflamável, além de não estar adequado ao uso para o qual é destinado.
O comandante finaliza:
— A principal recomendação que podemos dar é priorizar a utilização de água e sabão para a higienização das mãos, deixando o álcool gel para aqueles momentos ou situações em que não se tem acesso a essa alternativa. Sabões, sabonetes e detergentes de um modo geral, graças às suas propriedades químicas, removem a maior parte da flora microbiana na superfície da pele.