Foi conversando com pais e mães dos cerca de 27 alunos matriculados na Escola de Educação Infantil Cataventura, de Caxias do Sul, que a diretora pedagógica, Laina Brambatti, resolveu criar uma solução diante dos dilemas por eles enfrentados em tempos de isolamento social.
Para ajudá-los a lidar com a presença dos filhos em casa em tempo integral e a demanda gerada pela situação, a instituição está disponibilizando um serviço de consultoria pedagógica online. A partir de uma entrevista inicial feita com o responsável, ela traça um plano de atividades de forma personalizada.
O atendimento, que começou há cerca de 15 dias, restrito aos estudantes da escolinha, agora também é aberto a outras famílias que tenham crianças de 18 meses até seis anos de idade. E o melhor de tudo: a primeira conversa e o plano para semana de atividades são ofertados de forma gratuita.
— Entendemos que este é o momento de colaborar da forma que pudermos. As famílias não estão acostumadas a conviver em tempo integral, não são forjadas a lidar com as necessidades das crianças por um tempo tão longo, e isso está acontecendo em espaços que também não são preparados especificamente para isso, inclusive em horários que os adultos precisam estar trabalhando, mesmo que estejam em casa — afirma Laina, que mantém a EEI Cataventura há três anos na cidade.
Ela explica que a metodologia da escola é baseada na pedagogia montessoriana (desenvolvido pela médica e pedagoga Maria Montessori), que, segundo Laina, conduz a educação "pra vida", sem focar necessariamente na formação de indivíduos profissionais. Sendo assim, estendida para os lares onde as crianças vivem, é possível seguir com tranquilidade as orientações propostas pelo plano pedagógico a ser desenvolvido em cada caso.
— O ser humano que tiver a capacidade de lidar com suas próprias emoções, autonomia para escolher o que fazer, autossuficiência e senso crítico, vai, consequentemente, querer buscar a sabedoria, o conhecimento, é natural. Por isso, a ideia é criar um ambiente que seja tranquilo e com condições para que a criança possa buscar conhecimento e circular, sem exigir a participação do adulto o tempo inteiro — relata a diretora.
Junto da diretora pedagógica, também atuam neste projeto outros seis profissionais da escolinha. Após a entrevista e a primeira semana de plano pedagógico gratuitos, a continuidade do serviço tem um valor de R$ 25 por consultoria, para remuneração dos profissionais. Para completar, parte da renda obtida será destinada ao fornecimento de máscaras para profissionais de saúde da cidade. Informações pelo (54) 99109-7428.
"É um trabalho responsável e comunitário"
Para Cristina Lazzarotto Fortes, 38, o trabalho desenvolvido pela EEI Cataventura tem sido "um bálsamo" em meio às incertezas geradas pela pandemia. Com as medidas de isolamento, ela e o marido continuaram trabalhando e precisaram adequar a rotina às necessidades da filha Catharina Fortes Ramos, três, matriculada há cerca de um ano na escolinha.
Cristina é servidora pública federal e também professora no curso de Direito da Faculdade da Serra Gaúcha (FSG). Ela conta que, inicialmente, enfrentou dificuldade para conciliar o teletrabalho e os cuidados com a filha, sendo que a consultoria pedagógica tornou a rotina domiciliar mais tranquila e produtiva.
— A Catharina ficava pedindo pra eu brincar com ela, eu não conseguia me organizar e acabava demorando muito mais para me concentrar no trabalho, estendendo a carga horária. A gente não sabia dosar a medida de atenção pra ela, isso gerava uma ansiedade em todos nós. A Laina entendeu esse sentimento e nos apresentou formas da Catharina encontrar o espaço dela, com atividades dirigidas mas que não demandam atenção integral — conta a mãe.
Segundo ela, um tempo de atenção plena também é destinado para a filha, mas em momentos determinados que não conflitam com os horários de trabalho. Para Cristina, o serviço oferecido pela escolinha vai além de um simples plano de atividades; ele também proporciona suporte emocional e promove a integração familiar. Até um escorregador improvisado resultou da brincadeira entre os pais e a Catarina. O retorno vem sendo tão satisfatório, que Cristina fez questão de recomendar a consultoria a amigas que passavam pelas mesmas dificuldades que ela com seus filhos e filhas.
— Eu brinco que está servindo mais pra nós, adultos, do que para as crianças. É um trabalho responsável e comunitário, eu diria, porque acaba ajudando a comunidade a se organizar melhor — garante Cristina.