Até o final de março, famílias indígenas que encontravam o sustento por meio da venda de artesanato e algumas ervas cultivadas, costumavam realizar a atividade em espaços do centro de Caxias do Sul. Desde o início das medidas de isolamento, porém, estes grupos, que também pediam comida e ajuda financeira, não são mais vistos nos pontos onde costumavam se instalar, sobretudo na Avenida Júlio de Castilhos, Rua Sinimbu e em outras vias públicas da área central.
Pontos específicos que eles normalmente ocupavam agora são tomados por vendedores ambulantes, como em uma das esquinas com a Rua Garibaldi. Apesar de relatos de que o movimento dos ambulantes tenha aumentado, a fiscalização da Secretaria Municipal de Urbanismo aponta que até um terço dos vendedores não tem montado as bancas nos últimos dias.
De acordo com a Fundação de Assistência Social (FAS), os indígenas que vinham para o município eram, em sua maioria, provenientes de aldeias de Guaranis e Kaingangs, da Região Metropolitana de Porto Alegre, provavelmente de Guaíba.
— Fazíamos algumas abordagens com eles para orientação, sobretudo em relação às crianças. Mas como eles possuem legislação especial, não tínhamos muito como interferir. Agora, com a pandemia, acreditamos que eles tenham voltado para os seus locais de origem — relata a diretora de Proteção Social Especial da FAS, Vanda Vittorazzi.
Segundo ela, os grupos costumavam ficar no centro da cidade durante o dia, hospedando-se em uma pousada nas proximidades da estação rodoviária à noite. A prefeitura já havia também, em alguns momentos, prestado auxílio para a compra de passagem aos indígenas, que transitavam entre as aldeias e a cidade.
Vanda afirma que uma reunião para tratar do assunto chegou a ser projetada com a equipe da Fundação Nacional do Índio (Funai) de Brasilia. Porém, não ocorreu porque, segundo ela, os representantes não tiveram recursos liberados para compra de passagem aérea até o Rio Grande do Sul. A diretora diz que, mesmo agora, sem a presença dos índios na cidade, a FAS continua buscando contato com a fundação para tratar da situação do grupo que vive em situação de vulnerabilidade social.
A reportagem não conseguiu contato com a representação regional da Funai. Conforme notícias divulgadas pela entidade, equipamentos de proteção individual (EPIs) estão sendo distribuídos para aldeias de todo o Brasil. Por determinação da 9ª Vara Federal de Porto Alegre, em uma ação movida pela Defensoria Pública da União (DPU), a Funai também descentralizou recursos no valor de R$ 172.199,51 para as Coordenações Regionais do órgão de Passo Fundo e do Litoral Sul distribuírem cestas de alimentos a todas as comunidades indígenas do Rio Grande do Sul.
Antes mesmo da determinação, a Funai informa que já vinha realizando a entrega de alimentos às comunidades indígenas do Estado como forma de amenizar os efeitos da pandemia do novo coronavírus, tendo em vista que os indígenas estão impedidos de sair das aldeias para evitar o contágio.